quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Um breve resgate fúnebre

Corpo que me preenches!!
Que andar levas tu em mim??

Ainda te vejo vivo meu bom amigo.
Que coisa esperas de mim?
Mais cicatrizes que te crio ignorando que vives?

A sede que trago comigo insaciável à nossa alma,
A tua predestinante obediência sempre às minhas ordens.
O que mais haverá que nos une?

Se não nos salvarmos um ao outro
Será o universo a escolher,
E a alavanca da morte rodará três vezes
Com o chão a ruir de baixo dos teus pés.

És a matéria viva que escolhi para me apresentar ao mundo,
Abriste o utero da mãe que nos contemplava estendida pela dor.
Ai! Se o poder que ainda detenho conservasse a luz dos teus olhos,
Se o mar febril te protegesse quando pousaste em terra virgem,
Teria nossa alma gritado “vitória” e em ti o sol de inverno nunca seria tão frio.

AH! Quem me dera
Ser a solidão a companhia de tudo,
Que todas as coisas nos possuíssem em sabedoria,
Que as almas se unissem para contemplar o mundo,
Que todas as emoções pensantes em verdade fosse o que há para lá dos livros
Que todos os deuses carregassem o universo rumo áquilo que é natural.

Ah meu corpo, tu quem sofres
Mártir de todas a minhas decisões demasiado confusas
Pela guerra que trago comigo todos os dias quando me levanto.

E quando te deitas a cama está fria,
Morreu o dia que a mortalha te cobre,
Ouve-se ao longe o uivo da insónia,
E a noite se estende para sempre na escuridão.

                                                                                                                Diogo Correia
                                                                                                            Lisboa  20/12/2011

3 comentários:

luis santos disse...

Muito engraçada esta conversa com o corpo. E como são interessantes as respostas. Os corpos são tão inteligentes e ensinam tanta coisa. Meus Deus!

Parabéns Diogo e um abraço ao corpo.

MJC disse...

Amigo Diogo,

a tua poesia é, mais uma vez, estranha, profunda e com uma respiração única e marcadamente pessoal.
Ah, é muito bela também.

Parabéns!!!

abraço,

croca

Diogo Correia disse...

Os corpos ensinam muita coisa é verdade e também são o nosso pilar, há que tentar preserva-lo com o maior cuidado. Mas quem é que na sua vida nunca foi desleixado com o corpo. Daí a frase " quando a cabeça não tem juizo o corpo é que paga ehehehhe

Daqui vai o meu obrigado aos meus amigos :-))))))

E um grande Abraço
Diogo