Ando pelos ponteados da folha. Deixo respirar o poema no poente.
Há coisas que não sou capaz de dizer por palavras, doem azuis.
em chã de éguas e portas azuis para a “Cantata” inteligente do
último ballet Gulbenkian no sopé do vale no Teatro Camões
choro à morte da livraria Ler Devagar e da livraria Eterno Retorno
a poesia e a dança são irmãs gémeas no sopro musical harmonizo
como o xisto nas casas negras, sublime, elegante e cristalino.
Voo do Bairro Alto ao Piódão, incêndios e cinzas iguais.
salto da Rua. S. Boaventura para um varandim filosófico
da conversa e do bailado das mãos em cada conversa indignada.
Na Quinta Arqueológica de S. Pedro, um necrópole medieval
escrita em cerâmica com quatro andamentos pelo Lago do Álamo
e na Quinta da Pedra Firme em Santarcangelo di Romagna.
um pouco à frente o Rio Uso como Ítaca a sombra do meu corpo
deseja invadir a sombra do teu no sol da areia numa poesia
simples e perfumada ,ao arco íris da tua madrepérola,
vejo a tua blusa vermelha saltando pela fresta do biombo creme
estou deste lado, já, nas cataratas de Itaipu e Iguaçú, a casa
isenta de vela e remos no verde chocante do obelisco do
marco das três fronteiras , bebendo Cauim para “a pedra que canta”
com fé no Deus Mboi e o jovem guerreiro Tarobá dançando na canoa
com Naipi à sombra da palmeira sagrada até lá, volto à Europa no verão
entre a música de Salzburgo e Verona como um farol de luz branca.
José Gil
"O Olhar de Ulisses" - Angelopoulos
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