sexta-feira, 23 de julho de 2010

"Cantata" de "O Olhar de Ulisses"


Ando pelos ponteados da folha. Deixo respirar o poema no poente.

Há coisas que não sou capaz de dizer por palavras, doem azuis.

em chã de éguas e portas azuis para a “Cantata” inteligente do

último ballet Gulbenkian no sopé do vale no Teatro Camões

choro à morte da livraria Ler Devagar e da livraria Eterno Retorno

a poesia e a dança são irmãs gémeas no sopro musical harmonizo

como o xisto nas casas negras, sublime, elegante e cristalino.

Voo do Bairro Alto ao Piódão, incêndios e cinzas iguais.

salto da Rua. S. Boaventura para um varandim filosófico

da conversa e do bailado das mãos em cada conversa indignada.


Na Quinta Arqueológica de S. Pedro, um necrópole medieval

escrita em cerâmica com quatro andamentos pelo Lago do Álamo

e na Quinta da Pedra Firme em Santarcangelo di Romagna.

um pouco à frente o Rio Uso como Ítaca a sombra do meu corpo

deseja invadir a sombra do teu no sol da areia numa poesia

simples e perfumada ,ao arco íris da tua madrepérola,


vejo a tua blusa vermelha saltando pela fresta do biombo creme

estou deste lado, já, nas cataratas de Itaipu e Iguaçú, a casa

isenta de vela e remos no verde chocante do obelisco do

marco das três fronteiras , bebendo Cauim para “a pedra que canta”

com fé no Deus Mboi e o jovem guerreiro Tarobá dançando na canoa

com Naipi à sombra da palmeira sagrada até lá, volto à Europa no verão

entre a música de Salzburgo e Verona como um farol de luz branca.


José Gil

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"Cantata" - Espectáculo do Ballet Gulbenkian no Teatro Camões.

"O Olhar de Ulisses" - Angelopoulos

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