“O CAMINHO”, foto de Edgar Cantante
A
SABEDORIA NÃO CABE EM MANUAIS
Há coisas assim
nem parecem vindas
de mim.
Mas, surgem e
pronto,
quando olhamos já
foram
e o que se segue
parte dali.
Morrem lentamente
crenças antigas, desejos inquietos, saudades do que não foi ou se não quis.
As marés perpetuam
seu movimento ininterrupto na alma e o olhar eleva-se nos territórios infinitos
do insondável.
As aves partem. Os
peixes agonizam no lodo putrefacto do desperdício e do supérfluo. Sobreviver é o
verbo imperativo do amanhã por nascer e esta inactividade despropositada desista e possa
enfim morrer.
Há muito tempo que
não chegavas a mim assim todo paz, todo luz, tanto brilho. Suavidade sinuosa,
insinuante. Chegando e querendo chegar, desaguando como quem se partilha. Sem
diques, sem pontes. Mar largo, profundo, sereno, tranquilo.
A contraluz
recorta a silhueta da montanha, metáfora do caminho que se faz subindo,
arfando, cansando. Descobrir, conhecer, saber, …
A sabedoria não
cabe em manuais.
Manuel
João
2 comentários:
Apetece-me comentar e tentarei ser honesto:
Poema e foto constituem um bom conjunto. A foto é insinuante e o poema muito bem escrito, profunda sensibilidade, estética harmoniosa. Um bom retrato do que é na generalidade a vida de cada um, a palpitação interior, a partida, a ânsia de encontrar, a chegada. As esperanças e os sobressaltos. As pessoais expectativas. O saber que abre a porta.
As nuvens e o escuro do crepúsculo feito noite enviaram-me a um poema do Pessoa que não tenho de cor, mas que às tantas diz assim: "pedras no caminho, guardo todas, um dia vou construir um castelo".
Abraços.
Viva Luis, obrigado pelo comentário.
A foto, de um caminho a subir, tem cá umas cores ...
Nem mais nem menos que algumas das cores do mundo.
E as nuvens ... o seu aglomerado menos carregado parece albergar um rio serpenteando rumo à sua foz. E também há montanhas nas nuvens.
Ainda bem que gostaste.
Abraço,
Manuel João
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