domingo, 12 de agosto de 2012




“O CAMINHO”, foto de Edgar Cantante

A SABEDORIA NÃO CABE EM MANUAIS

Há coisas assim
nem parecem vindas de mim.
Mas, surgem e pronto,
quando olhamos já foram
e o que se segue
parte dali.

Morrem lentamente crenças antigas, desejos inquietos, saudades do que não foi ou se não quis.
As marés perpetuam seu movimento ininterrupto na alma e o olhar eleva-se nos territórios infinitos do insondável.

As aves partem. Os peixes agonizam no lodo putrefacto do desperdício e do supérfluo. Sobreviver é o verbo imperativo do amanhã por nascer e esta inactividade despropositada desista e possa enfim morrer.

Há muito tempo que não chegavas a mim assim todo paz, todo luz, tanto brilho. Suavidade sinuosa, insinuante. Chegando e querendo chegar, desaguando como quem se partilha. Sem diques, sem pontes. Mar largo, profundo, sereno, tranquilo.

A contraluz recorta a silhueta da montanha, metáfora do caminho que se faz subindo, arfando, cansando. Descobrir, conhecer, saber, …

A sabedoria não cabe em manuais.

Manuel João

2 comentários:

luis santos disse...

Apetece-me comentar e tentarei ser honesto:

Poema e foto constituem um bom conjunto. A foto é insinuante e o poema muito bem escrito, profunda sensibilidade, estética harmoniosa. Um bom retrato do que é na generalidade a vida de cada um, a palpitação interior, a partida, a ânsia de encontrar, a chegada. As esperanças e os sobressaltos. As pessoais expectativas. O saber que abre a porta.

As nuvens e o escuro do crepúsculo feito noite enviaram-me a um poema do Pessoa que não tenho de cor, mas que às tantas diz assim: "pedras no caminho, guardo todas, um dia vou construir um castelo".

Abraços.

MJC disse...

Viva Luis, obrigado pelo comentário.
A foto, de um caminho a subir, tem cá umas cores ...
Nem mais nem menos que algumas das cores do mundo.
E as nuvens ... o seu aglomerado menos carregado parece albergar um rio serpenteando rumo à sua foz. E também há montanhas nas nuvens.
Ainda bem que gostaste.
Abraço,
Manuel João