domingo, 1 de junho de 2014



19 / 2014


UM BEIJO NO LADO DE DENTRO

 
Era o agora e o depois.
Era o que nascia, por força do que era e do que queria ser.
Porque todo o homem é o que é quando se sente ou pensa, mais tudo aquilo que é
antes de pensar ou ser.
Se em tudo o que fomos está o que seremos no que somos está a semente, o embrião, matéria delicada e sensível do que mais queremos no tangir sensível das cordas do coração.

Um amigo, um dia, beijou-me.
Faz já tempo.
Beijou-me, delicadamente.
Beijou-me no pescoço, lembro-me.
E eu não me sobressaltei.
Irradiei apenas, como se aquele beijo me trouxesse a manhã.
Beijou-me mansa e intensamente, de surpresa, como se soletrasse uma divisa em letra de canção e eu, nunca mais esqueci o que me disse.
Talvez porque, o racional se encaixasse na emoção.
Talvez porque, o que me disse eu já soubesse e porque o que já sabia apenas precisasse da confirmação que, vinda de fora, em surdina, me confirmasse o que formulava nas variáveis da equação.

E o que ele disse não era complicado nem difícil de entender.
Não convocava tratados de filosofia.
Falava apenas do deve e do haver ou, se quisermos simplificar, do dar e receber.
Disse apenas, (e o olhar estava-lhe iluminado)
«Já viste o que seria se toda a gente se unisse pelo amor?»
E eu (percebendo-lhe muito bem a emoção), vi.
Vi, claramente.
E nunca mais foi a mesma coisa.

Se calhar nunca lhe verbalizei o agradecimento mas, se não o fiz, faço-o agora.

                                                                                                      
                                                                              Manuel João Croca



 
Foto: Edgar Cantante

6 comentários:

luis santos disse...


Também ouvi dizer num lado qualquer: "Nunca é tarde para amar"

A.Tapadinhas disse...

Para não ficarmos só pelas belas palavras, pelos conceitos sem conteúdo...

Beijos para todos,
António Tapadinhas

MJC disse...


E o "todo o tempo é tempo de amar" também é comum ouvir-se.
E acho que também está certo.

Abraço.

Manuel João

MJC disse...


Também com palavras se definem os conceitos e a cada conceito deve corresponder um conteúdo.
Quando assim não é, a coisa fica imperfeita logo a precisar ser corrigida.
As correcções fazem-se com treino, parece.

Mas, no entretanto, tratemos de corresponder ao cumprimento.
Beijos para todos pois então.

Abraço (também).

Manuel João

Unknown disse...


De 'pedaços' se faz o 'todo'; os 'instantes' são as 'sensações'...

E de 'emoções' vive o Homem!
Belo 'poema', Manuel João.

Abraço.
Francisco

MJC disse...


Obrigado Francisco.

Abraço para ti também.

Manuel João