19 / 2014
UM BEIJO NO LADO DE DENTRO
Era
o agora e o depois.
Era
o que nascia, por força do que era e do que queria ser. Porque todo o homem é o que é quando se sente ou pensa, mais tudo aquilo que é
antes de pensar ou ser.
Se em tudo o que fomos está o que seremos no que somos está a semente, o embrião, matéria delicada e sensível do que mais queremos no tangir sensível das cordas do coração.
Um
amigo, um dia, beijou-me.
Faz
já tempo.Beijou-me, delicadamente.
Beijou-me no pescoço, lembro-me.
E eu não me sobressaltei.
Irradiei apenas, como se aquele beijo me trouxesse a manhã.
Beijou-me mansa e intensamente, de surpresa, como se soletrasse uma divisa em letra de canção e eu, nunca mais esqueci o que me disse.
Talvez porque, o racional se encaixasse na emoção.
Talvez porque, o que me disse eu já soubesse e porque o que já sabia apenas precisasse da confirmação que, vinda de fora, em surdina, me confirmasse o que formulava nas variáveis da equação.
E o que ele disse não era complicado nem difícil de entender.
Não convocava tratados de filosofia.
Falava apenas do deve e do haver ou, se quisermos simplificar, do dar e receber.
Disse apenas, (e o olhar estava-lhe iluminado)
«Já viste o que seria se toda a gente se unisse pelo amor?»
E eu (percebendo-lhe muito bem a emoção), vi.
Vi, claramente.
E nunca mais foi a mesma coisa.
Se
calhar nunca lhe verbalizei o agradecimento mas, se não o fiz, faço-o agora.
Manuel
João Croca
Foto: Edgar Cantante
6 comentários:
Também ouvi dizer num lado qualquer: "Nunca é tarde para amar"
Para não ficarmos só pelas belas palavras, pelos conceitos sem conteúdo...
Beijos para todos,
António Tapadinhas
E o "todo o tempo é tempo de amar" também é comum ouvir-se.
E acho que também está certo.
Abraço.
Manuel João
Também com palavras se definem os conceitos e a cada conceito deve corresponder um conteúdo.
Quando assim não é, a coisa fica imperfeita logo a precisar ser corrigida.
As correcções fazem-se com treino, parece.
Mas, no entretanto, tratemos de corresponder ao cumprimento.
Beijos para todos pois então.
Abraço (também).
Manuel João
De 'pedaços' se faz o 'todo'; os 'instantes' são as 'sensações'...
E de 'emoções' vive o Homem!
Belo 'poema', Manuel João.
Abraço.
Francisco
Obrigado Francisco.
Abraço para ti também.
Manuel João
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