Gil Vicente nasceu por
volta do ano de 1465, mas não há concordância dos historiadores, nem quanto à data,
nem no que se refere ao local do nascimento. Terá nascido no Minho,
mais propriamente em Guimarães? Ou terá vindo ao mundo em Barcelos e tenha
crescido numa localidade da Beira? Ou a sua terra natal possa ter sido Lisboa,
na Estremadura?
Daquilo que não há dúvida,
é que viveu nesta cidade.
Bom observador da realidade circundante, audacioso, detentor de um mordaz espírito crítico, nenhum estrato social escapou à sua perseverante denúncia de exageros, infidelidades
e hipocrisias!
Conhecido na cidade,
rapidamente a sua fama acudiu aos
ouvidos régios, tendo sido introduzido na Corte como artista,
e onde foi incumbido de superintender a organização das festividades da Casa Real.
Como era uso na época, a
Corte transitava pelo País, assentando
arraiais em diversas povoações: vilas e cidades, de Norte a
Sul do Reino.
Gil Vicente tomava, invariavelmente, parte nessas viagens.
«São conhecidas as
localidades seguintes, frequentadas pela Corte e quase sempre por Gil Vicente
(...), durante o reinado de D. Manuel I de Portugal e do seu sucessor, o rei D.
João III: Lisboa, Almeirim, Abrantes, Chamusca, Sintra, Torres Vedras, Évora, Alhos Vedros, Castro Verde, Lavradio,
Benavente, Alcochete, Aldeia Galega, Tomar, Barreiro, Palmela, Alcácer- do-Sal,
Alvito, Montemor-o-Novo e Coimbra. (...)»
Onde se alojaria a Corte em Alhos Vedros?
Achando-se Gil Vicente em Santarém, aquando do terramoto de 26 de janeiro de 1531, que abalou Lisboa e o Vale do Tejo, «censurou num discurso os sermões terríficos, nos quais os frades de Santarém explicavam ao povo a catástrofe como resultado da ira divina. Então, referiu o facto ao rei, numa carta na qual se pronunciava também contra a perseguição movida aos Judeus, tendo o rei D. João III abandonado, a partir de 1531, a política de assimilação e tolerância religiosa que havia caracterizado a época manuelina.»
Essa missiva de Gil
Vicente recebeu-a o Monarca em Palmela, depois de ter passado por Alhos Vedros
e aí ter pernoitado, antes de ter seguido para Coina.
Francisco José Noronha dos Santos
9 comentários:
O rio, este que aqui vem esmorecer como que num abraço à nossa "terra velha", transporta na corrente diamantes e outras preciosidades que, quando calha ou lhes bate o sol, desatam a brilhar e inundam a terra e as gentes de uma luz que não morre.
Agora é o Gil Vicente.
Enfim, fica compreendida mais uma parte do mistério.
Que mais estará por/para descobrir?
Obrigado Francisco pelo "serviço".
Um abraço.
Manuel João Croca
Mais um belo texto sobre a história de Alhos Vedros e da região. Parabéns Francisco.
E tu que tens sempre o cuidado de dizer que não és historiador. Olha se fosses , hein?
É por estas e por outras é que alguns especialistas têm de perceber, e os outros que também dizem por ouvir dizer, que a história local é de quem a consegue agarrar, sejam jornalistas ou escritores, poetas ou historiadores.
E como a história local deve ser de todos e para todos, qual é a fonte das citações que vêm no texto?
Aquele Abraço.
Excelente texto!
Bela prosa poética, Manuel João!
A dado momento, usaste o verbo 'descobrir'. De facto, esse é o 'desafio' que tento lançar a cada um dos 'leitores'. DESCOBRIR por si mesmo; congregar 'vontades' e 'acções'; 'reconstituir' a HISTÓRIA LOCAL.
Abraço.
Francisco Noronha
Luís Carlos,
Como bem sabes, todos somos fazedores da História!
Então, à medida que, diariamente, cada um de nós constrói a sua 'história pessoal' porque não... partir à 'descoberta' da NOSSA HISTÓRIA COLECTIVA?
Perspicaz como convém, e como era de esperar em ti, indagas pela citação das 'fontes'.
Dou a minha 'palavra de honra' que não foi esquecimento.
Pretendi dar, de alguma forma, um carácter lúdico ao texto e INCENTIVAR cada LEITOR a DESCOBRIR essas mesmas 'fontes'.
Será que fiz mal?
Logo se constatará!
Abraço.
Francisco Noronha
Subscrevo totalmente o que foi dito pelos meus amigos Luís e Manuel João.
E tu, Francisco que sempre conheci por Noronha, tens sempre ainda algo na manga para provocar a nossa curiosidade e nos fazer querer mais.
E agora também queres que procuremos fontes... mas, e os que não fazem ideia por onde começar?? e os preguiçosos?
Ai, ai ai... lá tens de escrever mais qualquer coisita... ai tens, tens!
Gostei muito!
Abraço grande
"Preguntame quem fui eu,/ atenta bem pera mi/ porque tal fuy como ti/ e tal has de ser com'eu./ E, pois tudo a isto vem/ oo lector de meu conselho,/ tomame por teu espelho,/ olhame e olhate bem."
Gil vicente escreveu o seu Monólogo do Vaqueiro (1502) e mais tarde o Pranto de Maria Parda, peça ainda hoje quase desconhecida, onde o mestre ourives, pela voz da protagonista, anunciava os seus vinhos de eleição: Abrantes, Punhete, Arruda, Alcochete, Alhos Vedros, Barreiro, vinhos que hoje desapareceram (exceptuando Arruda), mas que ficaram na história literária pela pena de mestre Gil.
(...)
Francisco,
Como recomendaste dei-me ao trabalho de ir procurar no Google e deixo 2 exemplos da minha procura. Mas há mais. De facto, Gil Vicente, nos seus autos e farsas, tem várias apontamentos sobre Alhos Vedros.
Mas, ainda sobre as fontes utilizadas faz todo o sentido que se lhe dêm referência, porque permitem avaliar a validade do que se diz e dão pistas para que se possa ir mais além. Como sabes, é essa uma das virtuddes do trabalho científico.
Aquele Abraço,
Luís Santos
Um bom dia para todos vocês!
Fernanda,
Como começar? Servindo-nos da 'barra' do Google (por ex.) e, por tentativa e erro, procurarmos encontrar o melhor 'motor de busca'.
Quanto aos "preguiçosos"... «deles não reza a História»! (Ah-ah-ah!)
Luís Carlos,
Belo trabalho de pesquisa! É de continuar...
Claro que tens toda a razão quanto à indicação das 'referências', para tornar fidedignas as 'afirmações' feitas e proporcionar a realização de um 'trabalho científico'.
Como já referi noutro comentário, pretendi dar ao meu texto o tal aspecto lúdico (subvertendo, portando, as 'regras'). Para além deste facto, esse meu texto não pretende ser um 'trabalho científico, mas, sim, e tão somente o "abrir o apetite" aos "preguiçosos" a que se refere a Fernanda.
Porque não espicaçar os ditos "preguiçosos" (e são palavras da Fernandinha)... e levá-los à DESCOBERTA DO PASSADO da nossa VILA?
Boas pesquisas é o que desejo!
Abraços para todos.
Francisco Noronha
Sim amigo Francisco, muito bom para alertar preguiçosos e mais importante ainda para os que têm demonstrado ao longo dos anos pouca sensibilidade sobre o valor da história da nossa região...
Ainda sobre a importância de referência das fontes bibliográficas, ela é indispensável porque quando utilizamos as palavras de alguém, se não referimos a autoria, podemos estar, ainda que sem intenção, a apropriar-mo-nos indevidamente de uma coisa que não é nossa.
Mas não é o caso do teu texto, pois que as "citações" que fazes vêm entre aspas e imediatamente nos alertam para esse caráter lúdico a que aludes.
Mais Abraços.
Precisamente, Luís.
O que não é da minha lavra encontra-se entre aspas, como não poderia deixar de ser!
«O seu a seu dono»!!!
Outro abraço.
Francisco
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