segunda-feira, 9 de junho de 2014

REAL... IRREAL... SURREAL... (83)

O Quarto de Arlés, Van Gogh, 1889
Óleo sobre Tela, 56,5x74cm

O QUARTO DE PENSAR

Os seus dias compunham-se de poucas coisas e mesmo essas ficavam nada quando a irmã chegava da escola, ao fim da tarde.
O quarto não o era nem nunca o tinha sido sem ser apenas de nome. Nunca ninguém lá dormira e os miúdos chamavam-no assim por nada. 
Era um espaço grande, em tamanho e em palavras escondidas e era quase todo da mesma idade, não fosse aquela cadeira nova. 
Ignorado, o quarto de pensar esperava, também ele, a menina que havia de chegar da escola. Era ela, a menina mais velha que lhe dava uma vida… uma vida contada numa pergunta onde haveriam de caber todas as vidas, de todas as pessoas. Passadas as coisas normais, eram assim os seus dias. Num quarto, a pensar.
Hoje, as memórias são gastas e as palavras calaram-se. Numa cadeira, uma senhora de cabelos muito brancos e lisos senta-se, já sem forças. 
Os olhos, apenas os seus olhos, sustêm uma pergunta eterna. 
Vamos para o quarto pensar?

Passadas as coisas outrora normais, volto novamente a ser menina e a minha irmã mais velha regressa da escola. A cantar. 


Maria teresa Bondoso

2 comentários:

luis santos disse...


O "nada que é tudo", à boa maneira budista, com pouca coisa que o muito ter atrapalha.
Por isso, não será uma vida exclusivamente materialista o melhor dos exemplos.
Por isso, muito poder para quê?... Só por nada.

...Teresa com T maiúsculo, pois claro.

Unknown disse...

... é tão difícil as coisas ficarem nada...