sexta-feira, 6 de junho de 2014

Erva-formigueira




por Miguel Boieiro

Numa pequena propriedade meio abandonada brotou, em interstício do empedrado, uma erva-formigueira. Passados alguns meses, quando lá voltei, a pequena erva tinha-se transformado numa enorme moita, reproduzindo-se vigorosamente por vários locais. Podemos assim, desde logo, deduzir uma das características desta planta mexicana: a produção de milhares de sementes o que origina a sua rápida proliferação como espécie infestante. Outro atributo marcante é o seu odor indefinido, mas inconfundível. Há quem diga que cheira a formigas esmagadas e daí o nome que se dá à planta. Outros mencionam que deita um aroma que parece uma mistura de petróleo, menta, cânfora, segurelha e limão. De qualquer forma, a fragrância é muito intensa e original.

Para que não haja confusões, uma vez que o termo popular “erva-formigueira” aparece atribuído a diferentes plantas, em várias regiões do mundo, esclareço que me estou a referir à Chenopodium ambrosioides L., planta da família das quenopodiáceas, nativa da América tropical, que se aclimatou com facilidade em todas as regiões subtropicais e temperadas. Sendo bastante utilizada pelos ameríndios como planta medicinal, foi trazida para a Europa pelos espanhóis no século XVI e logo tomou várias designações: epazote, chá-do-méxico, chá-dos-jesuítas, erva-de-santa-maria, erva-vomiqueira, formigueira, lombrigueira, mentruz, quenopódio, ambrósia, etc.

Crê-se que a reputação desta planta provém do facto de afugentar ou eliminar parasitas, outrora muito comuns nas habitações e povoados: pulgas, piolhos, percevejos, carrapatos, moscas …

Em traços largos, podemos descrevê-la como herbácea anual ou perene, de raízes brancas, compridas e oblongas. Os seus caules são vigorosos, angulosos e ramosos, possuindo sulcos longitudinais pouco profundos, podendo atingir um metro de altura. As folhas são ascendentes, oblongo-lanceoladas, irregularmente dentadas e agudas com pecíolo curto. As flores aglomeram-se em espigas terminais e são brancas ou levemente esverdeadas e pequenas (1 mm de diâmetro). Os frutos, também muito pequenos, são aquénios ovóides achatados, completamente envoltos nos respetivos cálices, dando sementes pretas, brilhantes e lisas. Com bom desenvolvimento vegetativo, um só pé pode produzir dez mil sementes. Toda a planta, sendo intensamente verde, avermelha um pouco, quando as sementes amadurecem.

Os seus principais constituintes químicos são saponinas, taninos, sucos amargos e um óleo essencial, cujo componente determinante se chama ascaridol. É ele o principal responsável pelas propriedades anti-helmínticas da erva-formigueira (capacidade de eliminar os parasitas intestinais). O óleo, amarelado e de aroma penetrante, serve de base a muitos medicamentos e aplicações veterinárias.

Para além da propriedade antes citada, a planta é carminativa, tónica estomacal, emenagoga, antiespasmódica, vermífuga, diurética, cicatrizante, analgésica, antirreumática e antiasmática.

Outrora abusava-se em demasia, quer da erva, quer da sua essência, ocorrendo frequentes intoxicações devido ao ascaridol. Hoje em dia continua a consumir-se a erva-formigueira mas com os devidos cuidados e não ultrapassando as doses prescritas pelos especialistas.

Algumas receitas clássicas:
Para eliminar vermes intestinais, melhorar as funções digestivas, aliviar a asma e as perturbações nervosas – tomar três chávenas por dia de uma infusão de 20g da planta verde num litro de água.

Para pernas inchadas, varizes, afeções da pele e picadas de insetos – aplicar cataplasmas das folhas cozidas com sal marinho.

Tendo sempre presente, as contra-indicações provocadas por doses elevadas, lembra-se que a infusão da erva-formigueira era, noutros tempos, tomada com regularidade como sucedâneo do verdadeiro chá.



Atualmente estuda-se, com acuidade, o seu efeito inseticida contra melgas e mosquitos e a aplicação em agricultura biológica para combater determinadas pragas.

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