Criação Velha (Fonte: Wikipédia)
As terras
da Ilha do Pico, nos Açores, são escassas e pedregosas. Ilha em forma de
montanha ou vulcão, que o é, tem seu solo coberto quase que inteiramente por
uma manta de lava negra e petrificada. Quando os primeiros povoadores lá
chegaram abriram a braço e picão, com muito esforço, aquele chão. As pedras
negras foram empilhadas formando verdadeiras mastabas para dar espaço para o
cultivo. Currais de pedras de lava foram levantados para proteger e apoiar a
vinha que desde cedo foi plantada e aí bem adaptada. O calor do sol, na laje
negra guardado, a uva adocicava. Entre os donos e colonos a terra foi
organizada e repartida. Canadas foram abertas; das cantarias denegridas e
rociadas foram construídas vivendas, balcões, muros, igrejas. Varadouros na
rocha viva foram talhados. A vinha fermentava em lagares de lajes
inteiriças formados; da terra esfarelada, regada com muito suor, tiravam
o pão.
Nos currais
de lava plantou-se a Vidonia (ou a Verdelho). Vindas da Grécia, via
Madeira, as cepas passaram aos Açores no século XV, provavelmente trazidas
pelos frades franciscanos, carmelitas, jesuítas e capuchinhos que , nas ilhas
Terceira, Graciosa, São Jorge e Pico, tinham muitíssimas áreas de
viticultura. Dominando eles as formulas das dosagens das castas, fizeram do
Verdelho, no Pico, um vinho de excelência, generoso, suave, da cor de âmbar,
apreciado pelos czares russos, cantado pelos historiadores insulares e muito
apreciado pelos povos da América, no Novo Mundo. Riqueza que propiciou por
muito tempo a construção de ermidas, morgadios, e tantas outras obras, não só
no Pico, mas também no Faial, a ilha irmã, onde residia a maior parte dos
senhores viticultores do Pico. No Concelho da Madalena, o ciclo do vinho se
estendeu até os primórdios de 1852 quando a filoxera e o oidium destruíram os vinhedos
e grande parte da economia da ilha.
Em 1880,
pela iniciativa e perseverança de vários viticultores, com destaque para Manuel
Maria Terra (Barão da Alagoa), do Faial, os vinhedos foram refeitos, desta vez
com a introdução da uva Isabel (americana) mais resistente a pragas, mas que
resultou num vinho comum, chamado pelos açorianos de “vinho de cheiro”, com
menor valor comercial, porém que trouxe algum alento aos cultivadores da vinha.
Hoje,
com tecnologia moderna, novas culturas e vinhos estão surgindo para resgatar um
passado e patrimônio ilhéu, tombado pela UNESCO em 2004 (com destaque para os
Lajeados da Criação Velha e Santa Luzia). Para nós açorianos, a saga picoense
será sempre lembrada, através das marcas deixadas naquela terra vulcânica pela
tenacidade de um povo que a duras penas tirou da pedra vulcânica a sua
sobrevivência.
Curiosidades
históricas:
Conta-se
que William Neyle Habersham, rico comerciante de vinhos da Geórgia (USA), fazia
o disputado “RAINWATER” da combinação de vinhos claros com o Verdelho.
Envelhecia-a e depois a vendia a preços exorbitantes na América.
Há na
Austrália uma casta da uva Verdelho da Ilha da Madeira donde provém o Verdelho
Australiano.
Maria
Eduarda Fagundes
Fonte dos
dados:
-O Faial e
a Periferia Açoriana nos séculos XV a XIX (Núcleo Cultural da Horta)
-A História
do Vinho (Hugh Johnson)
-A
Descoberta de Portugal (Seleções do Reader’s Digest)
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