quarta-feira, 18 de março de 2015

Apontamentos Políticos


O Cristianismo e Santo Agostinho


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Fotografias com Música 
Lucas Rosa


A Grécia Antiga, com os seus brilhantes filósofos, produziu um pensamento político de valor muito considerável. A organização das “cidades-estado” na Grécia Antiga, e a autonomia política que as caracterizava, acabou por revelar um conjunto de diferentes regimes políticos que foi oscilando entre sistemas mais oligárquicos ou mais democráticos. Por isso, pelo avanço das ideias políticas, da ciência, costuma considerar-se a civilização grega como o berço da civilização ocidental.

A Grécia acabaria por ser conquistada militarmente pelo Império Romano no século II a.C., mas dada a fortaleza das suas ideias, embora perdesse a soberania territorial, os romanos haveriam de sucumbir à força dos seus filósofos que acabariam por colonizar grande parte do pensamento dominante.

No interior do Império Romano, equivalente à dimensão da filosofia grega, só a revolução cristã haveria de ter um efeito semelhante. As ideias de paz, tolerância, caridade, fraternidade e igualdade, entre as possibilidades da salvação da alma e do Amor, tal como propostas por Cristo, acabaram por revolucionar todo o Império e, a seu tempo, o mundo inteiro. Sobretudo, a ideia de igualdade, pois que todos os homens são ditos como irmãos, onde cada um deve respeitar todo o próximo como se de si próprio se tratasse, num tempo em que uma mentalidade esclavagista era absolutamente dominante, acaba por constituir um princípio de libertação que a plebe vai segurar de mãos juntas.

As ideias cristãs haveriam de se estender a todo o Império Romano. De um pequeno conjunto de dogmas, de um povo, inicialmente perseguido e aprisionado, o cristianismo acabaria por se expandir e ganhar título de religião oficial de todo o Império, em meados do século IV. E se a parte ocidental do Império estaria para ruir em breve, o que aconteceu no ano de 410 às mãos das invasões bárbaras, o cristianismo solidificou-se de tal forma que o Império caiu, mas Ele não.

Um dos primeiros grandes pensadores políticos da Igreja é Santo Agostinho. Na sua obra mais referenciada, A Cidade de Deus, Santo Agostinho vai adequar a filosofia cristã ao pensamento político. Embora as ideias de Cristo anunciem um novo paradigma político que vai abrir as portas de um novo período da História da Humanidade, a Idade Média, as novas teorias políticas fazem ainda ressoar algumas das ideias dos filósofos gregos, sobretudo Platão e Aristóteles, agora já marcados por essas novas ideias de igualdade e de Amor que entre eles tinham diferentes contornos.

A Cidade de Deus faz uma dissociação entre duas pretensas “cidades” que coexistem entre os homens, uma pertença de Deus, outra pertença do Mundo. Grosso modo, a primeira, caracterizada por uma comunidade de todos os que vivem no mundo segundo o espírito cristão e buscam a justiça divina, a Igreja; a segunda, pelo grupo dos que vivem segundo a carne e apenas para satisfação dos seus desejos de concupiscência e domínio, o Estado fora da Igreja.

Ora, sendo o Estado para Santo Agostinho, mais inclinado para o reino do demónio, em consequência da natureza corrompida do homem, ele propunha transformá-lo numa comunidade de paz e de justiça, realizando neste mundo a Cidade de Deus. A transformação dos Estados em comunidades onde reinassem a paz e a justiça só se conseguiria, portanto, pela conversão ao cristianismo e pela subordinação à Igreja.

As ideias de Santo Agostinho acabariam por ser levadas à prática a partir do século IX, no reinado de Carlos Magno, precisamente nas cerimónias de Natal do ano 800, perante o qual o Papa haveria de se ajoelhar e considerá-lo como Imperador de toda a cristandade, reservando para si o título máximo da espiritualidade, acentuando assim uma bipartição do poder político, um temporal outro espiritual.

Entre outros factos importantes, Carlos Magno tinha-se oposto e derrotado os árabes na batalha de Poitiers, em França, impedindo que a expansão árabe se alargasse mais ainda pelo território europeu, o que na altura constituía um perigo eminente para todo o mundo cristão. Esse crónico conflito entre cristãos e árabes que, quase incompreensivelmente, ainda hoje continua a fazer história.


Luís Santos

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