por Miguel Boieiro
No livro “Les Plantes Magiques” de Sédir pode
ler-se: “um rebento de arruda atado à asa de uma galinha protege-a do gato e da
raposa” e ainda, “se aspergirmos a cama com a água da cozedura de arruda,
misturada com urina de mula, as pulgas imediatamente desaparecem”. Estas são
apenas duas curiosidades do imenso rol de qualidades atribuídas, desde tempos
imemoriais, à arruda, como planta protetora e inclusive, ativadora contra as
más vibrações, os sortilégios, o mau-olhado e as feitiçarias. É impressionante
a quantidade de referências que existem, nas obras clássicas da antiguidade,
sobre esta planta “com poderes”.
No meu quintal mantenho-a nas cabeceiras das
semeaduras para que ela proteja as hortaliças, repelindo os insetos predadores.
O seu aroma, inconfundivelmente fedorento, é uma característica que facilita o
reconhecimento, mesmo pelos mais inexperientes.
Existem duas classificações científicas que
dão pelo nome de Ruta graveolens e Ruta chalepensis, esta mais notoriamente
espontânea na Arrábida. Contudo, ambas as Rutáceas
são praticamente iguais no tocante aos seus atributos físicos e químicos.
Podemos considerar a arruda como um arbusto,
já que o seu caule é lenhoso e ramificado, chegando a ter mais de um metro de
altura. Desenvolve-se com facilidade e resiste bem em climas temperados, secos
e pedregosos de todo o mundo, mas julga-se que é nativa da Europa meridional.
A planta é persistente, renovando-se em cada
primavera. As folhas são pequenas, verde-acinzentadas, pecioladas e alternadas.
As flores são igualmente pequenas, em ramalhete, dotadas de quatro pétalas
amarelas, com exceção da flor central que costuma ter cinco. Os frutos formam
cápsulas arredondadas de quatro ou cinco lobos rugosos.
A arruda é uma droga forte, quer seja
utilizada em verde, quer em
seca. Nela foram já identificados 110 constituintes químicos,
alguns tóxicos, como certos alcalóides. Por isso, o seu uso interno deve obedecer
a doses muito fracas e ser acompanhado. Basicamente contém ácido salicílico,
álcoois, ésteres, matérias resinosas e pépticas, flavonóides (especialmente
rutina), óleos essenciais e alcalóides.
As indicações terapêuticas da “erva das
bruxas”, nome popular por que também é conhecida, quase enchem uma página A4.
Eis algumas: afeções dos rins e da bexiga, distúrbios menstruais, asma
brônquica, ansiedade, gota, conjuntivite, hemorroidal, ciática, otite,
nevralgias, incontinência urinária, insónia, prisão do ventre, lombrigas,
sarna, aerofagia, etc., etc.
No “Herbal Food and Medicines in Sri Lanka”
do Dr. Seela Fernando (provavelmente um descendente dos Portugueses, os quais
permaneceram durante um século no Ceilão), que tive a oportunidade de adquirir
em Colombo, põe a Ruta graveolens nos
píncaros da tradicional medicina ayurvédica. Ela é indicada para a prevenção
contra a epilepsia, a hipertensão, o catarro infantil e como anti-veneno.
Curiosamente, diz-se que é afrodisíaca para as mulheres, mas que, para os
homens, produz o efeito inverso (que
chatice…!).
Entre as muitas mezinhas que aparecem
mencionadas na literatura fitoterápica, escolho a do remédio para o “stress”,
distúrbio que é hoje muito comum, devido à vida agitada que levamos:
Infusão de 5 gramas de folhas num
litro de água. Tomar duas chávenas por dia.
Mas, redobro a advertência: a arruda é tóxica
e contra-indicada para gestantes, lactantes, situações hemorrágicas, distúrbios
menstruais e hipersensibilidade dérmica.
Doses elevadas do “chá” podem causar gastroenterites,
convulsões, hemorragias, abortos, vómitos, tremores e vertigens.
A utilização direta da arruda, apesar do seu
comprovado poder fitoterápico, tem muito a ver com as características de cada
um e, por isso, todo o cuidado é pouco.
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