quinta-feira, 12 de março de 2015

A Arruda






por Miguel Boieiro

No livro “Les Plantes Magiques” de Sédir pode ler-se: “um rebento de arruda atado à asa de uma galinha protege-a do gato e da raposa” e ainda, “se aspergirmos a cama com a água da cozedura de arruda, misturada com urina de mula, as pulgas imediatamente desaparecem”. Estas são apenas duas curiosidades do imenso rol de qualidades atribuídas, desde tempos imemoriais, à arruda, como planta protetora e inclusive, ativadora contra as más vibrações, os sortilégios, o mau-olhado e as feitiçarias. É impressionante a quantidade de referências que existem, nas obras clássicas da antiguidade, sobre esta planta “com poderes”.
No meu quintal mantenho-a nas cabeceiras das semeaduras para que ela proteja as hortaliças, repelindo os insetos predadores. O seu aroma, inconfundivelmente fedorento, é uma característica que facilita o reconhecimento, mesmo pelos mais inexperientes.

Existem duas classificações científicas que dão pelo nome de Ruta graveolens e Ruta chalepensis, esta mais notoriamente espontânea na Arrábida. Contudo, ambas as Rutáceas são praticamente iguais no tocante aos seus atributos físicos e químicos.
Podemos considerar a arruda como um arbusto, já que o seu caule é lenhoso e ramificado, chegando a ter mais de um metro de altura. Desenvolve-se com facilidade e resiste bem em climas temperados, secos e pedregosos de todo o mundo, mas julga-se que é nativa da Europa meridional.
A planta é persistente, renovando-se em cada primavera. As folhas são pequenas, verde-acinzentadas, pecioladas e alternadas. As flores são igualmente pequenas, em ramalhete, dotadas de quatro pétalas amarelas, com exceção da flor central que costuma ter cinco. Os frutos formam cápsulas arredondadas de quatro ou cinco lobos rugosos.

A arruda é uma droga forte, quer seja utilizada em verde, quer em seca. Nela foram já identificados 110 constituintes químicos, alguns tóxicos, como certos alcalóides. Por isso, o seu uso interno deve obedecer a doses muito fracas e ser acompanhado. Basicamente contém ácido salicílico, álcoois, ésteres, matérias resinosas e pépticas, flavonóides (especialmente rutina), óleos essenciais e alcalóides.

As indicações terapêuticas da “erva das bruxas”, nome popular por que também é conhecida, quase enchem uma página A4. Eis algumas: afeções dos rins e da bexiga, distúrbios menstruais, asma brônquica, ansiedade, gota, conjuntivite, hemorroidal, ciática, otite, nevralgias, incontinência urinária, insónia, prisão do ventre, lombrigas, sarna, aerofagia, etc., etc.
No “Herbal Food and Medicines in Sri Lanka” do Dr. Seela Fernando (provavelmente um descendente dos Portugueses, os quais permaneceram durante um século no Ceilão), que tive a oportunidade de adquirir em Colombo, põe a Ruta graveolens nos píncaros da tradicional medicina ayurvédica. Ela é indicada para a prevenção contra a epilepsia, a hipertensão, o catarro infantil e como anti-veneno. Curiosamente, diz-se que é afrodisíaca para as mulheres, mas que, para os homens, produz o efeito inverso (que chatice…!).

Entre as muitas mezinhas que aparecem mencionadas na literatura fitoterápica, escolho a do remédio para o “stress”, distúrbio que é hoje muito comum, devido à vida agitada que levamos:

Infusão de 5 gramas de folhas num litro de água. Tomar duas chávenas por dia.

Mas, redobro a advertência: a arruda é tóxica e contra-indicada para gestantes, lactantes, situações hemorrágicas, distúrbios menstruais e hipersensibilidade dérmica.
Doses elevadas do “chá” podem causar gastroenterites, convulsões, hemorragias, abortos, vómitos, tremores e vertigens.

A utilização direta da arruda, apesar do seu comprovado poder fitoterápico, tem muito a ver com as características de cada um e, por isso, todo o cuidado é pouco.

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