terça-feira, 4 de agosto de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

VENHA DE LÁ ESSA JUSTIÇA

Começo a convencer-me que a Matilde teve sorte com a Professora. 

Da senhora pouco sei, a não ser o que escrevi nas primeiras páginas deste diário ao que nada posso acrescentar neste entrementes. 

Da profissional, após a primeira semana de trabalhos, tudo indica que estamos perante alguém que sabe o que faz e que para além de conhecedora das melhores formas de cativar os pequenos e de os preparar para começarem a adquirir os alicerces da linguagem escrita, sabe reger-se pelo bom senso que proporciona a necessária paciência para quem pretende colher os frutos de uma sementeira. 
Já mostrou a firmeza que deixa os bons hábitos aparecerem e medrarem, ao mesmo tempo que faz uso de uma disponibilidade para acompanhar que geralmente propicia que o mando esteja mais ligado ao carisma do exemplo do que à imposição. E nas poucas ocasiões em que a vi relacionar-se com os alunos, percebi que o faz com naturalidade e sem transgredir o seu papel. 

A Matilde não manifesta incompatibilidades, pelo contrário. Embora me pareça que ela tenha consciência da obrigação de estar atenta e de ter um comportamento adequado o que, à partida, é independente da pessoa da docente, não deixa por isso de simpatizar com a Professora, o que é patente no à vontade com que está junto dela e na alegria que mantém quando sabe que a vai encontrar. 


Que tudo assim se mantenha, é o meu maior desejo. 


Ora vêm estas linhas a propósito do que a minha querida filha descreveu da aula desta manhã. 

É que se nós aprendemos com a cabeça, também o fazemos com o coração. É sempre mais fácil debruçarmo-nos sobre aquilo de que gostamos. 
Deve ser esta a ideia que subjaz ao que se passou hoje. 

Houve um jogo de início, o chamado jogo dos cumprimentos, em que as crianças se apresentavam de uma determinada maneira obrigatoriamente diferente das antecedentes. 
Depois prosseguiram os desenhos e as pinturas, com a novidade de cada menino(a) ser chamado(a) a fazer um boneco no quadro. 
E já realizaram uma ficha em que fizeram grafismos sobre os congéneres tracejados no livro. 

À saída, o pardalito voltou a afirmar que a manhã tinha sido agradável e que tudo tinha corrido bem. 



O Tribunal Constitucional deu provimento aos recursos do Embaixador Jorge Ritto e dos Drs. Paulo Pedroso e Hugo Marçal, pelo que o Supremo Tribunal de Justiça deverá pronunciar-se uma vez mais sobre os fundamentos das prisões preventivas daquelas pessoas que estão constituídas como arguidos no caso do abuso e exploração sexual de menores, na Casa Pia. 

Vamos lá ver o que isto dá. 

Esperemos não vir a ter um desfecho semelhante ao do processo das FP 25 em que os arrependidos foram os únicos condenados, acabando os restantes réus sentenciados inocentes. 
Fez-se justiça, ora bem, não havendo provas, não pode haver condenação. 
Mas não deixa de ser arrepiante que se tenha criado o estatuto de arrependido e negociado essa condição para alguém, com isso aliciando uma confissão, para depois apenas condenar essa pessoa pela matéria confessada. 
E por fim uma gracinha. O Ministério Público deixou que expirassem os prazos para o recurso. 


Talvez seja esta justiça que melhor calha com as defesas que assentam os mais relevantes argumentos nas minúcias de certos mecanismos legais para que tudo se prolongue até às prescrições ou sentenças a contento. 


É que este chamado caso da pedofilia, entre outras coisas, põe a nu o sistema de justiça que temos vindo a ter nas últimas décadas. 

Por entre o alarido, ficámos a saber dados tão edificantes como aquele que deixa bem claro os alçapões legais que possibilitam os truques com que uma defesa disponível para pagar conseguiu protelar processos que o tempo se encarregou de fazer caducar e expirar. No contexto do requerimento da interdição do Juiz Rui Teixeira, chegámos ao ponto de um alto responsável da ordem dos advogados para a região de Lisboa, dizer que foi assim que a defesa agiu no caso do Aquaparque – e todos nos recordamos do desfecho que teve, não é verdade? 
Caído um dos pares nas malhas legislativas que os parlamentares, de acordo com as respectivas expressões políticas e partidárias, teceram em sede e por direito próprios, assistimos ao eco mediático do ai Jesus que muitos desses mesmos intérpretes do poder político logo lançaram sobre essas leis de que eram os principais responsáveis. 
E depois vimos as pressões inaceitáveis sobre um Juiz em pleno exercício de funções, sequer se inibindo os seus promotores do recurso à mentira, pura e simples – aconteceu quando o causídico de um dos arguidos disse a um canal de televisão que não iriam conhecer a verdadeira identidade das testemunhas ouvidas para memória futura, algo que é explicitamente contrariado pelo despacho em que o meritíssimo aceitou o método da vídeo-conferência para aquele acto processual; aí se afirma que advogados e constituintes terão acesso directo à imagem e à identificação de cada uma daquelas pessoas – e como se isto não fosse de bradar aos céus, houve ainda espaço para ameaças físicas, acompanhadas de difamação e nem faltou, ou não estivéssemos no paíszinho em que metade escreve e a outra metade não lê, a teatralidade – patética ou tenebrosa? – de uma mensagem codificada. 
Se alguma réstia de dúvida ou de esperança houvesse, ficámos definitivamente a saber que vivemos numa espécie de oligarquia partidocrática, em que se criou um sistema no qual os mais poderosos têm todas as possibilidades de conseguirem para si um estatuto de quase total impunidade, sem terem que prestar, se assim o desejarem, as devidas contas, qualquer tipo de contas, a quem quer que seja. Eles conseguem impor as suas vontades e propósitos ao próprio estado. 
Não é em vão que, na União Europeia, vamos no pelotão da frente em índices de corrupção. 

Exageraremos se dissermos que os criminosos, no nosso país, têm mecanismos legais do lado deles? 



É claro que o Hamas não aceita tréguas. 
Desde quando é que o terrorismo pode aceitar a paz? 

Pois a nossa tragédia de europeus é que não temos dirigentes capazes de lidarem com esta ameaça letal para o nosso modo de vida. 

Oxalá que os nossos filhos e netos não venham a escarrar nas suas memórias. 


Pairam novas formas de tirania no horizonte. 



E eu que tanto amo as minhas filhas. 

Alhos Vedros 
  25/09/2003

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