Do Budismo: as 4
nobres verdades e os 5 agregados
Na base dos ensinamentos feitos
pelo Buda, diz-se que o desejo, apego, cobiça, ódio, aversão, ilusão, são
causas do sofrimento humano. É preciso fazê-los cessar e extinguir. Assim,
eliminar esses sentimentos, ou seja, numa palavra, eliminar a ignorância,
constituem o verdadeiro caminho.
As 4 nobres verdades podem
resumir-se nos seguintes passos:
- Constatação do sofrimento
- A origem donde provém o sofrimento
- A possibilidade de cessar o sofrimento
- O caminho a fazer para cessar o sofrimento
O sofrimento é a revelação do
budismo. Para o Buda, “é nascer, envelhecer, adoecer, estar-se ligado áquilo de
que se não gosta, estar-se separado daquilo que se gosta…”, o que resulta da
ignorância. (1)
Se o despertar não pode ser
ensinado, antes tem de se auto revelar, o caminho deve ser mostrado. O “eu” é
uma ilusão e a verdadeira fonte do sofrimento. “De um modo ou de outro, todas
as emoções nascem do egoísmo, no sentido em que elas implicam apego ao eu. (…)
Se desejamos eliminar verdadeiramente o sofrimento, devemos desenvolver a
consciência, vigiar as nossas emoções e aprender como evitar entrar em
efervescência.” (2)
O Buda admite que somos
constituídos por 5 agregados que existem em interdependência e geram em nós a
crença de haver um “eu”, uma identidade própria que tem uma existência em si e
por si.
Os 5 agregados dividem-se num
corpo que se define numa forma física e em quatro agregados imaterias:
sensações, perceções, formações volitivas e consciência (dualista). As
formações volitivas designam todos os automatismos fundamentais: pensamento,
linguagem, comportamento… agir e reagir. Ou seja, o nosso carácter, que vem de
experiências anteriores…
Esta
identidade é ilusória, causa de insatisfação e de sofrimento. Há que descobrir
uma alternativa ao funcionamento destes 5 agregados que, como se disse, se
caracterizam por uma contínua impermanência.
Assim, a causa de todo o tipo de
sofrimento é a ignorância de não ver as coisas como elas verdadeiramente são.
Esta “sede” (desejo, avidez compulsiva) leva-nos constantemente a um desejo de
saciamento, do que por natureza é insaciável, e que está em relação com a nossa
herança “kármica”. É esta inquietação fundamental que mesmo em silêncio nos
pressiona. É o desejo de continuar a ser, de preservar uma identidade, que nos
guinda a sucessivas existências, à “roda da vida”.
A cura é não só possível, como
desejável. As causas são internas e é possível removê-las. Há um caminho.
Alguma coisa que está livre de tudo isto e que nos permite a libertação.
Luís Santos
Notas:
(1)
LAMA, Dalai e CARRIÉRE, Jean-Claude, A Força do Budismo. Lisboa: Difusão
Cultural, 1995: 27
(2)
(Khientse,
Dzongsar J., O que não faz de ti
um Budista. Alfragide: Ed. Lua de Papel, 2009: 55)
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