O SÁBIO QUE SABIA TUDO
Um atentado no Iraque provocou a morte a dezasseis soldados norte-americanos que seguiam num helicóptero alvo de rocket.
É uma vergonha que se fale em resistência iraquiana, como fazem todos os media do Ocidente.
Estamos perante ataques terroristas e a confundir os acólitos do regime de Saddam e membros das mais variadas organizações mais ou menos integristas que compõem as redes de terror que juraram guerra sem quartel ao nosso modo de vida, com o que se poderia chamar uma resistência do povo iraquiano e isso é uma forma subtil mas profícua de alimentar precisamente esse mesmo terrorismo. Estamos a projectá-lo com uma importância que ele não tem e simultaneamente contribuímos para que as suas palavras e acções surtam o efeito desejado de incutir o medo em que baseiam a sua chantagem.
Será que alguém de nós poderia levar a vida actual num regime controlado por esses fanáticos?
E em disparate proporcional a esse, está a designação das tropas aliadas como forças de ocupação.
Se bem que em sentido contrário ao que o Autor nos apresenta, ora aqui temos um exemplo de como a comunicação social pode condicionar a visão dos factos e, por conseguinte, os discursos sobre os mesmos e as mundivisões subjacentes. (1)
De outra forma como se pode entender que uma sondagem indique que sessenta por centos dos europeus respondam que Israel é a maior ameaça para a paz no mundo?
É tão bom chegar a casa e partilhar as alegrias da pardalada.
Enquanto estive a escrever estas primeiras notas, a Matilde fez-me companhia, debruçada sobre um pequeno cavalete, toda concentrada na aguarela de uma casa e de um Sol esplendoroso.
A Margarida passou a tarde a brincar com a invenção de uma pequena história de um coelhinho simpático.
No chão da sala, os bonecos e os carros de um Playmobil testemunhavam o devaneio da mais novinha.
A aula de hoje continuou a da última sexta-feira e terminou com colagens e exercícios naquilo que o pardalito chama caderno de capa preta.
Como ainda não tive oportunidade de falar com a Professora, não sei dizer se se trata do livro dinâmico, à semelhança daquilo que aconteceu com a irmã.
Não trouxeram trabalho para casa.
E o “Diário de Notícias” vai publicar, aos Domingos, uma série de cartas sobre a Fé, trocadas entre o Professor Eduardo do Prado Coelho e o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo.
Só espero que a do religioso seja uma peça inteligente, pois a primeira não foi além do lugar-comum e como não podia deixar de ser, lá veio a ladainha da hipocrisia da Igreja e as perguntas que um qualquer adolescente faria e que passo a transcrever: “(…) tem a Igreja a noção desta [a dessacralização ou, se quisermos, a laicização e até o agnosticismo crescente das sociedades do mundo ocidental] evolução? Considera-a um mal e tenta contrariá-la? Considera-a algo positivo que se poderá aproveitar para alargar a influência? Temos uma estratégia ofensiva face a ela? Ou vê nesta lenta mas manifesta descristianização uma decadência inexorável? Sente o seu destino associado à crise das grandes narrativas (e nesse caso assistiríamos à vagarosa mas inflexível erosão do comunismo e do catolicismo, do tomismo e do marxismo?)” (2)
Delicioso, não é verdade?
Perguntou o erudito em que base se podem os homens entender.
A perder tempo com banalidades também, é como que um cimento do quotidiano, mas depois sempre tendo de falar com mais ponderação e profundidade a esse respeito. Para tanto têm boca e não apenas para irem a Roma.
Bem e hoje fico por aqui. Amanhã sou eu que levarei a Matilde à escola uma vez que a mãe levará a Margarida para uma das consultas que culminarão com o aparelho que em breve terá nos dentes.
Até amanhã!
Alhos Vedros
03/11/2003
NOTAS
(1) Chomsky, Noam, A MANIPULAÇÃO DOS MEDIA
(2) Prado Coelho, Eduardo do, UMA RELIGIÃO POR EMENTA, pp 4/5
CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
Chomsky, Noam, A MANIPULAÇÃO DOS MEDIA, Tradução de Mário Matos e Lemos, Editorial Inquérito, Mem Martins, 2003
Prado Coelho, Eduardo do, UMA RELIGIÃO POR EMENTA, In “Diário de Notícias”, nº. 49164, de 02/11/2003
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