Ah! Na tarde de Sábado, a família montou a árvore de natal e o presépio.
Digo a família pois o pai que não é cristão e só é pai de cristãs por compromisso de casamento, o pai também colaborou na decoração do pequeno pinheiro que durante este mês comporá a nossa sala de estar.
Manhã de brincadeiras.
Enquanto isso, ao som do poeta Dylan, deixei que o almoço chegasse ao sabor da leitura.
O ensino, sempre o ensino,
da prioridade à paixão,
com reformas e emendas
e adendas em sucessão
acabou fazendo o pino.
Subscrevo as palavras da Professora Filomena Mónica. (1)
Ou reformamos o nosso sistema de ensino ou ficaremos para trás em termos de desenvolvimento.
Coloquemos uma pergunta:
Qual(is) o(s) objectivo(s) que queremos para um sistema de ensino?
A resposta genérica é fácil e simples. Dar conhecimento a uma população de forma a que aí se produza e reproduza sabedoria, aptidões e ainda a preparação para a vida activa.
Como o conseguir é a questão.
Temos dois modos para abordar este desafio.
Um, o mais vulgar, passa por enumerar problemas, identificar os males e avançar palpites e soluções. Geralmente misturam-se items de ordem administrativa e organizacional com outros domínios estrictamente técnicos e científicos, sem jamais se abandonar o discurso e um modus operandi político e ideológico.
Mas podemos ser mais frios e encarar esta problemática com mais distância, o mesmo é dizer como se se tratasse de um fenómeno do mesmo género daqueles que não dependem da nossa consciência ou capacidade de compreensão. É esta a outra via para resolver a pergunta fulcral, como criar um sistema de ensino que dê formação intelectual e preparação profissional aos portugueses. Neste caso os procedimentos devem estar mais de acordo com o manuseamento de instrumentos e técnicas de análise ao jeito operatório das ciências, o que se materializa na formulação de hipóteses e respectivas verificações empíricas com o que poderemos sair do simples palavreado opinativo.
Com isto, está em aberto indagar se faz sentido este último ângulo de abordagem. Respondo pela afirmativa; embora a matéria com que lidamos seja de natureza cultural – produto da actividade humana – e, por isso, transformável por esse mesmo meio, com o que perde a qualidade de factologia científica, não me parece, ainda assim que algo haja que nos impeça de a encaramos segundo um modo científico de agir.
Ora nesta perspectiva, há uma interrogação a que interessa previamente encontrar uma resposta. Coloquêmo-la da maneira seguinte:
Há algum elemento que independentemente da nossa vontade ou consciência, possa ser considerado a parcela mínima num sistema de ensino? Isto é, há algum elemento que, independentemente de querermos ou não, possa ser considerado e isolado e sem o qual seja impossível falar de um sistema de ensino de tal forma que, se o anulássemos, puséssemos imediatamente entre parêntesis ou desarticulássemos, até, um qualquer sistema de ensino?
Será a partir desse elemento mínimo que melhor poderemos identificar aquilo que é necessário para formar bem a população portuguesa e, em função disso, igualmente ponderar os aspectos orgânicos e organizacionais que isso implica. É aí que todas as nossas ideias, teorias e propostas devem ser verificadas.
Consideremo-lo pois o nosso sistema de referência.
E a maior homenagem ao nosso génio desperdiçador teve o seu pontapé de saída com o sorteio das equipas que foram apuradas que, desse modo, ficaram a conhecer os respectivos adversários.
Refiro-me ao Euro 2004, é bom de ver, o tal dos dez estádios que haverão de ficar às moscas e que respondem, justamente, àquilo que o país mais precisava neste momento.
E só os lacaios conseguem um descaramento tão grande.
O estado gastou menos com aquelas construções do que na casa da música, afirma uma pena de serviço com o que nem se chega a entender o que se pretende a partir daí. Certamente para não ficar para trás, também houve quem sugerisse que aquele evento pode muito bem vir a ser o motor da nossa retoma económica.
Não corremos a tempo com esta gente
e resta agora quem se lamente.
E o Dr. Eduardo lá se despediu do Cardeal e, à altura do conjunto das cartinhas que escreveu, embora não vendo “(…) o interlocutor como um adversário de um jogo que seria preciso vencer (…)”, (2) não deixou de guardar para o fim os dardos repetidos e vulgares das posições da Igreja perante muitas manifestações da contemporaneidade que a estariam a ultrapassar devido ao conservadorismo da mesma.
Talvez por isso se possa registar a curiosidade de lermos alguém que se vê como no mínimo agnóstico e que acusa aquela instituição de não ser capaz de compreender a evolução da sexualidade e da família, seja o mesmo que mais adiante afirma que ela “(…) tem de mostrar como intervir nestes problemas delicados para ajudar cada um no seu próprio caminho.” (3) Afinal em que ficamos?
E o doutoral Professor parece nem entender que a família de que fala é um arquétipo que o século XIX criou e que por isso mesmo – a menos que fale da tradição judaica o que seria delicioso – teve uma expressão muito limitada no tempo e no espaço.
Enfim, lusa sapiência, professoral…
Mas não resisto a transcrever um período em que, cheio de humildade e referindo-se ao diálogo epistolar em causa, o génio dá largas ao pensamento.
“(…) Espero que ele tenha contribuído para que cada um encontre na sua própria vida a razão profunda que lhe dá a força de querer viver. (…)” (4)
Palavras, para quê? O homem não faz por menos.
Chegou a vez de Manuel Monteiro ser levado ao colo na comunicação social.
E o Dezembro faz com que a luz se escoe pela metade das dezassete horas.
E neste planeta tão louco e tão belo, tão trágico e tão empolgante, ainda há espaço para que se descubra agora uma nova espécie de baleia.
Alhos Vedros
01/12/2003
NOTAS
(1) Mónica, Maria Filomena, CONTRA O ENSINO DA CONSPIRAÇÃO, p. 20
(2) Prado Coelho, Eduardo do, A IGREJA CATÓLICA VIVE EM DISCURSO DUPLO, p. 8
(3) idem, ibidem
(4) idem, p. 9
CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
Mónica, Maria Filomena, CONTRA O ENSINO DA CONSPIRAÇÃO, Entrevista a João Pombeiro, In “Grande Reportagem”, nº. 151, Ano XIII, 3ª. Série, de 29/11/2003
Prado Coelho, Eduardo do, A IGREJA CATÓLICA VIVE EM DISCURSO DUPLO, In “Diário de Notícias”, nº. 49192, de 03/11/2003
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