terça-feira, 13 de setembro de 2016

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ah! Na tarde de Sábado, a família montou a árvore de natal e o presépio. 
Digo a família pois o pai que não é cristão e só é pai de cristãs por compromisso de casamento, o pai também colaborou na decoração do pequeno pinheiro que durante este mês comporá a nossa sala de estar. 


Manhã de brincadeiras. Enquanto isso, ao som do poeta Dylan, deixei que o almoço chegasse ao sabor da leitura. 



O ensino, sempre o ensino, 
da prioridade à paixão, 
com reformas e emendas 
                       e adendas em sucessão 
acabou fazendo o pino. 


Subscrevo as palavras da Professora Filomena Mónica. (1) 
Ou reformamos o nosso sistema de ensino ou ficaremos para trás em termos de desenvolvimento. 


Coloquemos uma pergunta: 
Qual(is) o(s) objectivo(s) que queremos para um sistema de ensino? 
A resposta genérica é fácil e simples. Dar conhecimento a uma população de forma a que aí se produza e reproduza sabedoria, aptidões e ainda a preparação para a vida activa. 
Como o conseguir é a questão. 
Temos dois modos para abordar este desafio. 
Um, o mais vulgar, passa por enumerar problemas, identificar os males e avançar palpites e soluções. Geralmente misturam-se items de ordem administrativa e organizacional com outros domínios estrictamente técnicos e científicos, sem jamais se abandonar o discurso e um modus operandi político e ideológico. 
Mas podemos ser mais frios e encarar esta problemática com mais distância, o mesmo é dizer como se se tratasse de um fenómeno do mesmo género daqueles que não dependem da nossa consciência ou capacidade de compreensão. É esta a outra via para resolver a pergunta fulcral, como criar um sistema de ensino que dê formação intelectual e preparação profissional aos portugueses. Neste caso os procedimentos devem estar mais de acordo com o manuseamento de instrumentos e técnicas de análise ao jeito operatório das ciências, o que se materializa na formulação de hipóteses e respectivas verificações empíricas com o que poderemos sair do simples palavreado opinativo. 
Com isto, está em aberto indagar se faz sentido este último ângulo de abordagem. Respondo pela afirmativa; embora a matéria com que lidamos seja de natureza cultural – produto da actividade humana – e, por isso, transformável por esse mesmo meio, com o que perde a qualidade de factologia científica, não me parece, ainda assim que algo haja que nos impeça de a encaramos segundo um modo científico de agir. 
Ora nesta perspectiva, há uma interrogação a que interessa previamente encontrar uma resposta. Coloquêmo-la da maneira seguinte: 
Há algum elemento que independentemente da nossa vontade ou consciência, possa ser considerado a parcela mínima num sistema de ensino? Isto é, há algum elemento que, independentemente de querermos ou não, possa ser considerado e isolado e sem o qual seja impossível falar de um sistema de ensino de tal forma que, se o anulássemos, puséssemos imediatamente entre parêntesis ou desarticulássemos, até, um qualquer sistema de ensino? 
Será a partir desse elemento mínimo que melhor poderemos identificar aquilo que é necessário para formar bem a população portuguesa e, em função disso, igualmente ponderar os aspectos orgânicos e organizacionais que isso implica. É aí que todas as nossas ideias, teorias e propostas devem ser verificadas. 
Consideremo-lo pois o nosso sistema de referência. 



E a maior homenagem ao nosso génio desperdiçador teve o seu pontapé de saída com o sorteio das equipas que foram apuradas que, desse modo, ficaram a conhecer os respectivos adversários.
Refiro-me ao Euro 2004, é bom de ver, o tal dos dez estádios que haverão de ficar às moscas e que respondem, justamente, àquilo que o país mais precisava neste momento. 

E só os lacaios conseguem um descaramento tão grande. 
O estado gastou menos com aquelas construções do que na casa da música, afirma uma pena de serviço com o que nem se chega a entender o que se pretende a partir daí. Certamente para não ficar para trás, também houve quem sugerisse que aquele evento pode muito bem vir a ser o motor da nossa retoma económica. 

Não corremos a tempo com esta gente 
e resta agora quem se lamente. 



E o Dr. Eduardo lá se despediu do Cardeal e, à altura do conjunto das cartinhas que escreveu, embora não vendo “(…) o interlocutor como um adversário de um jogo que seria preciso vencer (…)”, (2) não deixou de guardar para o fim os dardos repetidos e vulgares das posições da Igreja perante muitas manifestações da contemporaneidade que a estariam a ultrapassar devido ao conservadorismo da mesma. 
Talvez por isso se possa registar a curiosidade de lermos alguém que se vê como no mínimo agnóstico e que acusa aquela instituição de não ser capaz de compreender a evolução da sexualidade e da família, seja o mesmo que mais adiante afirma que ela “(…) tem de mostrar como intervir nestes problemas delicados para ajudar cada um no seu próprio caminho.” (3) Afinal em que ficamos? 
E o doutoral Professor parece nem entender que a família de que fala é um arquétipo que o século XIX criou e que por isso mesmo – a menos que fale da tradição judaica o que seria delicioso – teve uma expressão muito limitada no tempo e no espaço. 

Enfim, lusa sapiência, professoral… 

Mas não resisto a transcrever um período em que, cheio de humildade e referindo-se ao diálogo epistolar em causa, o génio dá largas ao pensamento. 
“(…) Espero que ele tenha contribuído para que cada um encontre na sua própria vida a razão profunda que lhe dá a força de querer viver. (…)” (4) 
Palavras, para quê? O homem não faz por menos. 



Chegou a vez de Manuel Monteiro ser levado ao colo na comunicação social. 



E o Dezembro faz com que a luz se escoe pela metade das dezassete horas. 



E neste planeta tão louco e tão belo, tão trágico e tão empolgante, ainda há espaço para que se descubra agora uma nova espécie de baleia. 


 Alhos Vedros 
   01/12/2003 


NOTAS 

(1) Mónica, Maria Filomena, CONTRA O ENSINO DA CONSPIRAÇÃO, p. 20 
(2) Prado Coelho, Eduardo do, A IGREJA CATÓLICA VIVE EM DISCURSO DUPLO, p. 8 
(3) idem, ibidem 
(4) idem, p. 9 


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS 

Mónica, Maria Filomena, CONTRA O ENSINO DA CONSPIRAÇÃO, Entrevista a João Pombeiro, In “Grande Reportagem”, nº. 151, Ano XIII, 3ª. Série, de 29/11/2003 
Prado Coelho, Eduardo do, A IGREJA CATÓLICA VIVE EM DISCURSO DUPLO, In “Diário de Notícias”, nº. 49192, de 03/11/2003

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