A BOTA E O QUATRO
A política, em Portugal, faz-se em surdina.
Foi o que se passou, por exemplo, no caso da oferta das Lajes para a cimeira entre o Presidente Bush e os Primeiros-Ministros Tony Blair e José Maria Aznar ou com o mais recente voto favorável ao não cumprimento do Pacto de Estabilidade por parte da Alemanha e da França. Estamos no domínio das decisões tomadas ao arrepio de qualquer troca de impressões estre forças políticas diversas e muito menos com satisfações dadas em público.
Aos olhos e ouvidos do povo faz-se a chicana que entre nós passa por ser o conteúdo daquela actividade pública. E, cirurgicamente, lá saltam para os media os favorecimentos e as prebendas dadas e conseguidas, os encobrimentos e as ligações duvidosas, quando não as mais torpes insinuações pessoais, naturalmente, caluniosas.
Não há qualquer visão de estado, qualquer conceito geo-estratégico de fundo para o país e por isso temos um centro de emprego no lugar de uma função pública profissionalizada e uma total ausência de política externa. Em conformidade temos sistemas de saúde porque sim e só temos sistema de ensino porque todos têm e até já vinha de trás.
E acabámos no jogo do pau mandado.
Discute-se no parlamento, em comissão parlamentar, quero eu dizer, se as mudanças na legislação sobre o acesso ao ensino superior para os filhos dos diplomatas foram ou não feitas à medida da filha do ex-ministro dos estrangeiros, Martins da Cruz.
Só assim se compreende que, em tribunal, a defesa dos militares da Brigada de Trânsito de Albufeira que estão a ser julgados por corrupção, tenha alegado a seu favor o facto de terem sido perdoadas multas a um deputado, um magistrado e um embaixador, isto é, alto lá com isso que há muitos como nós.
O reino do homo maniatábilis só poderia acabar por nos mostrar tristes espectáculos assim.
E para o pardalito foi o dia de hoje farto em novidades.
Os alunos aprenderam o número quatro e a palavra bota a respeito do que fizeram exercícios e ilustrações e também o trabalho para casa.
A minha querida filha não sentiu dificuldades.
Mais uma crítica contundente às teses de Boaventura Sousa Santos sobre a necessidade de substituirmos a ciência, tal como a conhecemos nos dias que correm. (1)
Nunca será de mais destacar a importância daquela invenção de que tão bem nos podemos servir para limitar as misérias humanas.
Há palestinianos e israelitas dialogando na Suíça.
Se bem que se trate de gente arredada do poder, permite manter acesa, por muito pequena que seja, uma janela de esperança.
É como uma oração pela paz.
Alhos Vedros
02/12/2003
NOTA
(1) Dias de Deus, João, DA CRÍTICA DA CIÊNCIA À NEGAÇÃO DA CIÊNCIA
CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Dias de Deus, João, DA CRÍTICA DA CIÊNCIA À NEGAÇÃO DA CIÊNCIA, Prefácio do Autor, Gradiva (1ª. Edição), Lisboa, 2003
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