quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Loendro



Especialmente quando florido, é um dos arbustos mais bonitos que vemos espontaneamente no nosso País. A toponímia regista, entre outros nomes, “Alandroal”, vila alentejana onde o loendro, ou “aloendro” viceja nas margens do Guadiana e seus afluentes. Em Vouzela organizam-se excursões para visitar a Reserva Botânica do Cambarinho, logo que a mata de loendros está em flor (maio a outubro). E que lindas que ficam as vias de grande circulação quando ostentam, quer nas bermas, quer nos separadores centrais, as flores róseas, vermelhas, ou brancas, desta planta arbustiva. Daqui se pode, desde já, concluir que o loendro é benfazejo para a nossa saúde. Porquê? Porque nos deixa bem-dispostos e otimistas perante a sua beleza. Mas cuidado! O loendro é uma das plantas mais venenosas que temos em Portugal. Se ingerirmos folhas, flores, caules, ou raízes (a parte mais tóxica), podemos encontrar a morte. Portanto, apreciem-lhe a beleza mas não lhe toquem, pois até o fumo provocado pela sua queima, causa intoxicações.

O Nerium oleander L.  é arbusto que cresce nas ravinas, margens dos rios e leitos secos dos cursos de água. Trata-se de uma espécie da família das Apocináceae, muito resistente à seca, poluição atmosférica e salinidade, mas necessitando de muita luz. Nativa da Europa Meridional, Norte de África e Ásia Menor, espalhou-se por toda as regiões temperadas e subtropicais do planeta.

De aparência robusta e copa arredondada, pode atingir cinco metros de altura. As folhas são persistentes, coriáceas, opostas e lanceoladas, de cor verde escura, tendo de 10 a 20 cm de comprimento. As flores, singelas ou dobradas, ficam abertas todo o verão, formando grandes ramalhetes nas pontas dos ramos. Os frutos são cilíndricos e compridos (de 5 a 23 cm) e as sementes estão providas de pêlos em penacho. Toda a planta exsuda uma seiva leitosa.

 É decididamente um dos arbustos ornamentais mais utilizados, quer pela formosura e durabilidade das suas flores, quer por não exigir grandes cuidados de manutenção.

O loendro, ou cevadilha, como também se denomina, é todo ele venenoso, devido principalmente a duas substâncias tóxicas que contém: a oleandrina e a neriantina. A oleandrina é um potente cardiotónico e constitui, como os glicósidos da dedaleira, matéria-prima para extrair princípios ativos que integram os medicamentos destinados a cardíacos. Naturalmente que isto só se processa em doses mínimas e de forma laboratorial.

No “Herbal Food and Medicines in Sri Lanka”, do Dr. Seela Fernando, curiosa obra que adquiri quando visitei aquele país da “Taprobana”, há uma página inteira referente ao “oleander”. Apontam-se as suas virtudes curativas, em uso externo, principalmente para reduzir inchaços e inflamações e eliminar parasitas. Contudo, o maior relevo é dado à toxicidade, a qual permanece, mesmo quando a planta está seca. Em sânscrito, o loendro denomina-se “ashvamaraka” que, significativamente, quer dizer: “mata cavalos”.

Alertando para as precauções que devem ser tomadas quando se manuseiam plantas venenosas, transmito, com a devida vénia, duas receitas de uso externo incluídas na “Enciclopédia de Educação e Saúde - A Saúde pelas Plantas Medicinais” de Jorge Pamplona Roger:
Pomada contra a sarna: Prepara-se uma pomada com 250 g de manteiga sem sal, ou outro veículo gordo, e 150 g das flores de loendro, que se devem deixar macerar durante 6 horas.
Cataplasmas de flores aplicadas sobre a zona da pele afetada.
Por sua vez, o Dr. Oliveira Feijão recomenda o infuso das folhas (30 g num litro de água) para lavagens nos casos de herpes, acne, pruridos e outras doenças dérmicas.

 Miguel Boieiro

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