terça-feira, 18 de outubro de 2016

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

As minhas filhas são crianças engraçadas. 
Saudáveis, devo dizê-lo e não me refiro apenas ao corpo físico. De espírito alegre e humoroso, tanto uma como a outra dá gosto vê-las brincar, individualmente ou em conjunto, quer fantasiando situações em que se transmutam em papéis tão variados como as clientes e as empregadas de uma farmácia ou os alunos e as professoras de uma escola, quer fazendo uso dos brinquedos que múltiplos e diversificados são. Mas não é por isso que deixam de ter outros interesses e nestes últimos dias tem sido habitual ver a Margarida retirada a escrever histórias e a Matilde, esticada no chão da sala, a colorir imagens. 

Ontem, à hora do almoço, a minha filha mais velha anunciou-me que iria dar aulas de apoio de Matemática aos meninos do terceiro ano que têm mais dificuldades e ao fim da tarde, quando as levei para a ginástica, escutei a sua conversa com a Beatriz em que me apercebi que várias das colegas de sala desta amiga se tinham inscrito para receberem aquele auxílio, a decorrer todas as sextas-feiras na sala da biblioteca da escola. 
Hoje, quando cheguei a casa para almoçar, dei com o piolhinho a preparar nada mais nada menos que, segundo as suas palavras, as planificações e as fichas para o apoio. 

O pai riu, mas não foi só por achar graça; foi também pela alegria que lhe estalou no peito. 



E mais uma vez, neste sórdido caso da Casa Pia, o recurso para o Tribunal Constitucional vem dar razão aos arguidos. 

É com a maior curiosidade que espero o recurso que para lá seguirá sobre o impedimento da instrução. 

Neste reino do homo maniatábilis, até parece que há sempre alguém – aconteceu no Tribunal da Relação – capaz de abrir envelopes lacrados para mostrar segredos de justiça aos interessados, da mesma maneira que parece haverem sentenças a contento. 


Portugal não é um país normal, é uma coutada de todos aqueles que têm poder suficiente para fazerem valer os seus interesses. 



E na Rússia, mais um atentado suicida causou quarenta mortos, em Moscovo. 
A imprensa fala dos tchetchenos que há muitos anos travam uma verdadeira guerra pela independência. 
Não sei se a posição intolerante e belicista que o governo de Putin tem face aos secessionistas, ao mesmo tempo que revela uma indulgência infantil perante a constelação da Al-Qaeda, não terá como resultado o casamento da ideologia integrista desta rede de terror com o discurso pró-independentista de uma população que chora os seus mortos e as cidades bombardeadas. 


Esta é a época dos homens de poder com asa partida. 


Se nas próximas presidenciais nos Estados Unidos for eleito outro presidente, então haverá um novo onze de Setembro. Só que desta vez será mais medonho que o primeiro acto desta tragédia. 



Hoje os alunos continuaram os exercícios com os números e as palavras dadas. No trabalho de casa já realizaram contas de somar. 

Mas também tiveram a sua hora quinzenal de moral e religião. Estiveram a ver um filme do Pedrito, um coelhinho que a Matilde já conhecia. Depois falaram do que deve ser um bom comportamento por parte dos meninos. 



Esta tarde os céus denotavam a cor do frio quando se instala num dado lugar. 


Amanhã a Matilde terá a sua festa de anos. 
Depois conto. 


 Alhos Vedros 
   05/12/2003

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