THE DOORS
“From Los Angeles, California.
Ladies and gentlemen.
The Doors!”
Foi o serão de Sábado para os pais.
Com trinta e tal anos de atraso vi um concerto que nunca esteve nas minhas espectativas. Depois da morte de Jim Morrison e de um álbum mal sucedido como trio, o “Mosquito”, a banda nunca mais se refez e, ao longo de todos estes anos, surgiram apenas gravações de concertos e reposições e um já antigo longa duração em que os vivos apareceram a musicar leituras de poemas do vocalista por ele próprio que tinham ficado gravadas desde os dias alucinantes de uma curta mas intensa carreira. No entanto, nada quanto a um qualquer reatamento e esta sempre foi uma daquelas paixões que eu jamais esperei escutar in loco.
É verdade que restam apenas o guitarrista e o teclista. Jonh Densmore, o baterista, não aceitou regressar ao grupo.
É um pouco como se Paul McCartney e Ringo Starr decidissem tocar novamente juntos e recuperassem o nome dos Beatles. Dificilmente diríamos estar em presença do velho conjunto, quando metade dos famous old fab entregou a alma ao Criador. Jonh Lennon e George Harrison já não podem estar presentes e só com boa vontade daríamos o nome do mito ao que os outros nos apresentassem.
Do mesmo modo será um tanto ou quanto ousado chamar “The Door’s” ao duo de Ray Manzaneck com Robbie Krieger. Mas eles também tiveram o cuidado de acrescentar twenty first century ao nome.
E foi isso que nós vimos.
Mas eu gostei.
Os músicos apresentaram-se sem complexos de assumirem o legado literário do líder morto e desfilaram duas horas e tal de bom rock’roll.
Se bem que dentro do figurino das sonoridades que, avaliando pelos discos ao vivo, sempre fizeram em palco, não foi por isso que deixaram de conseguir apresentar um bom concerto.
E o “Soul Kitchen” final, com as luzes acesas, foi uma boa maneira de nos mandarem para casa alegres e satisfeitos.
Ora para mostrar o ecletismo familiar, esta tarde presenciámos um excelente concerto da “Camerata Musical do Barreiro” que, do século XVII à passada centúria, nos presenteou com um pouco da história da música de câmara que foi de Haendel a Astor Piazzola, passando por Bach, Vivaldi, o filho Johann Strauss e o concerto grosso de Telemann.
O Maestro Lopes da Cruz foi sucinto e de uma clareza cativante nas explicações que deu, o que é uma boa forma de ganhar plateias menos conhecedoras destes géneros mais eruditos da música.
Após o concerto, a Luísa deu-lhe pessoalmente os parabéns por isso.
E acabou por conseguir pôr o público a trautear “La Donna Imóbile” com o que a orquestra se despediu sob grande ovação.
A Margarida que à entrada fez caretas, acabou saindo encantada.
É tão bom um lazer de coisas doces.
Estou a ler Amartya Sen, coisa que continuarei a fazer nos próximos dias com a máxima atenção.
Há muito que aprender com este sábio indiano.
Portugal está definitivamente mergulhado nos tentáculos de polvos diversos e até concorrentes mas que, em conjunto, confluem para o triste resultado de um poder político subjugado aos seus interesses e uma sociedade manietada, a diversos níveis e com as vias cortadas para a melhoria da qualidade de vida das maiores malhas de população, precisamente as mais pobres e desprotegidas, perante as capacidades dos mais fortes lhes imporem as suas vontades e conveniências.
Os sinais estão aí, são alarmantes e não deixam margem para dúvidas.
A fiscalidade favorece quem não devia; os tribunais vergam-se à impunidade de alguns, ao mesmo tempo que se abatem sobre outros, exactamente da mesma forma que os deputados se deixam orientar por princípios e propósitos que nada têm a ver com o interesse público e o bem comum.
O maior perigo que a democracia enfrenta não é a demagogia.
Na verdade, esta será sempre uma tensão implícita à própria natureza daquela. Sujeitos a escrutínio, os homens que concorrem aos cargos políticos podem naturalmente ceder às tentações demagógicas. Mas aquela é uma forma de discurso ou de exercício do poder político e está obviamente sujeita à correcção eleitoral.
A grande ameaça à democracia e, antes dela, ao seu suporte fundamental que é o estado de direito, vem das máfias, do crime organizado. A par do terrorismo internacional, é daquele mundo obscuro que vêm os maiores desafios à civilização democrática e com a globalização do capitalismo financeiro que é já uma realidade, torna-se fácil a mistura daqueles dinheiros e interesses obscuros com o universo dos negócios legais, com isso criando mecanismos de lavagem de dinheiros e actividades económicas paralelas e esconsas e, simultaneamente, abrindo margem de manobra para que tais grupos possam pressionar os centros de decisão política.
É disto que estamos a falar quando apontamos os males que corroem a sociedade portuguesa e a impedem de se chegar aos parâmetros de desenvolvimento dos países mais ricos da União Europeia.
É este o nosso problema. Em Portugal, como o testemunha o “Euro 2004”, desde que seja capaz de reunir força para tanto, qualquer grupo de pressão devidamente organizado consegue impor a sua vontade aos poderes em geral e ao político em particular.
E depois já nem faz sentido falar de democracia entre nós.
A nossa forma de regime é uma partidocracia que se ajusta que nem uma luva a uma sociedade oligárquica e clientelar.
Aliás, só assim se entende que o nosso Presidente da República tenha ido a Argel e falasse da actual situação no Iraque segundo o ponto de vista dos que sempre se opuseram à guerra e veem os aliados como forças de ocupação.
Entre nós, a pouca vergonha já não tem limites e a cobardia política proporciona-nos estes espectáculos deploráveis.
Mas porque é que, atempadamente, o Senhor Presidente não promoveu um debate nacional sobre a nossa conexão com a guerra que deixasse claro, perante o governo, a posição dominante na sociedade portuguesa?
E depois lá vem o líder dos socialistas ferrar naqueles que não se reveem nas palavras do Dr. Jorge Sampaio.
Justamente no mesmo fim-de-semana que Francisco Assis acabou por reconhecer a concelhia rebelde de Felgueiras.
Malhas e mistérios que o homo maniatábilis tece.
Ontem foi a tarde de festa do aniversário da Matilde que decorreu em Sarilhos Pequenos, na “Gente Miúda”, uma quinta de um casal – o marido é do meu tempo de Liceu – que ali explora um ATL de Verão e festas infantis no resto do ano.
A Margarida aí passou quinze dias nas últimas férias grandes e muito se divertiu com as actividades, no contexto das quais aprendeu a montar.
E, de facto, a avaliação que fizemos é globalmente positiva; há segurança e um bom acompanhamento pedagógico e depois os miúdos têm um espaço de liberdade onde podem dar largas às suas fantasias e brincadeiras em contacto com a terra.
Pois a escolha mais uma vez se revelou acertada.
A dúzia de miúdos pularam e brincaram, houve um desafio de futebol no relvado e deram cenouras aos cavalos com o que todos foram para casa felizes.
O pardalito estava radiante.
E diga-se com justiça, merece esta festa.
Agora que o fim da tarde ganhou o aspecto da noite e enquanto a Matilde brinca à minha frente, vamos esperar pelo jantar, para o que receberemos a visita do Zé e da Isabel.
Assim me vou, por hoje.
Alhos Vedros
07/12/2003
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