Manuel de Sousa
Rastejo e sou mau como o veneno das cobras sarapintadas
Digo coisas que nem oiço e nem ao Menino Jesus interessam
Levanto os braços ao ar e saio aleatoriamente louco aos berros
Até aos Anjos dizem que eu incomodo tanto que tapam os ouvidos
De tal ordem que mesmo minha fugaz sombra foge e me abandona
Tento convencer muitos dos que ainda me ouvem as vis palavras
Faço-me engraxar aos sapatos e o mais profundo que me convém
Abro os poros ao máximo para que os bajuladores me cocem o interior
Guio-lhes os sentidos e as mãos para os meus próprios objectivos e metas
Rezo-lhes depois uma missa especial dita em língua que ninguém entenda
Viro as costas a tudo e chuto quem apanho pela frente
Meus escrúpulos podem-se contar pelos dedos fechados
Nem mesmo os olhos são domados com essa dita facilidade
Trato tudo à volta com um desdém que me convém ter amiúde
Largo do alto de um penhasco mental os que não me seguem o rasto
Não prevejo e nem me apetece mudar o carácter em tempos próximos
Vou aceitando e sendo como sou e pronto e não serei mais nada que isso
Oferecerei a mim mesmo e a muitos tao simplesmente prendas envenenadas
Tratei sempre comigo dependurado ao pescoço um espelho semi mágico a brilhar
Terei contudo a certeza que ele só me dará e projectará as melhores imagens possíveis
Só se mudar de repente de paradigma e evoluir sensivelmente contarei mudar
Entrarei conscientemente e sem que o mal oculto se apercebe que estou no lado do bem
Andei e andarei disfarçado o quanto for necessário e vestido de ovelha mansa e observadora
Contarei até três e fixar-me-ei mentalmente na conta que Deus fez e lançarei as sementes boas
Semearei tanto a cordialidade e a compreensão como a solidariedade humanas por essa terra fértil afora…
Escrito em Luanda, Angola, por Manuel (D’Angola) de Sousa, a 17 de Janeiro de 2018, em Homenagem a todos os que praticam a evolução, a inteligência e a compreensão de todas as coisas da existência, incluindo a nos próprios…
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