No norte do País era costume atapetar com rosmaninho os
caminhos por onde passavam as procissões. Sabendo-se que tais cortejos
religiosos eram e são reminiscências herdadas do paganismo, não é difícil crer
que esse curioso uso venha de longínquas eras. Também os raminhos da
quinta-feira-da-espiga não passavam sem as florinhas desta agradável labiada. O
volumoso “Diccionario de Plantas Curativas de la Península Ibérica” de Enric
Balasch e Yolanda Ruiz, no capítulo de botânica oculta, considera o rosmaninho
uma sanjoanina, isto é, uma planta mágica vinculada ao santo festejado a 24 de
junho. Igualmente era associado a Santa Bárbara para esconjurar as trovoadas e
os relâmpagos.
Mitos e crenças à parte, o que agora interessa é caracterizar
esta planta que existe em abundância no nosso País e quase por toda a bacia
mediterrânica nas charnecas e ermos arenosos e xistosos, sendo uma típica
espécie heliófila, termófila e xerófila, isto é, gosta de luz, de calor e de secura.
É importante frisar que estamos a falar da Lavandula
stoechas da família das Lamiaceae,
para não haver confusões que infelizmente são muito frequentes. De facto,
alguns autores e tradutores mencionam Rosmarinus
officinalis que corresponde ao alecrim, induzindo em erro os incautos
leitores.
A planta forma um feixe ramificado que pode chegar quase a um
metro de altura. Os ramos são verdes mas devido a estarem cobertos de pelos
parecem esbranquiçados. As folhas também são tomentosas. As inflorescências
(pequenas flores tubulares e labiadas) estão apinhadas em espigas densas que
terminam num penacho formado por três vistosas brácteas violetas cuja função é atrair
os insetos polinizadores. O fruto é um aquénio trigonal.
Existem cinco principais subespécies da Lavandula stoechas em Portugal: pedunculata,
luisieri, viridis, sampaiana e lusitanica. Como se depreende, algumas
são endémicas no nosso País. As mais vistosas encontram-se atualmente na moda e
são vendidas em vasinhos nas floristas e nos supermercados. Em Inglaterra são
muito disputadas as “Portuguese Giant Spanish Lavender” a que atribuíram o nome
vernáculo de Lavandula stoechas
portuguese giant. Inglesices!
Em Espanha há mais de meia centena de denominações populares
para o rosmaninho. Espanholices!
Em Portugal, os mais atrevidos consideram esta planta a
rainha das alfazemas.
São-lhe atribuídas as seguintes propriedades medicinais:
antissética, digestiva, tónica, antiespasmódica, cicatrizante, antibacteriana e
febrífuga.
O óleo contido nas suas folhas e flores possui um complexo de
essências ainda não inteiramente estudadas (borneol, cetonas, cineol, cânfora,
etc.) e pode ser utilizado em perfumaria e aromaterapia.
O “chá” de rosmaninho é bom para a bronquite, a asma, o
catarro, a tosse, as enxaquecas. Segundo o meu amigo José Salgueiro, reputado
ervanário de Montemor-o-Novo, deita-se 30 g de flores num litro de água a
ferver e deixa-se 10 minutos em infusão. Tomam-se três chávenas por dia fora
das refeições, sendo a última ao deitar. Acrescento que, quem não for diabético,
deve dissolver uma colherinha de mel para reforçar os efeitos benéficos.
Externamente podemos usar a água da cozedura das folhas e
flores para desinfetar e cicatrizar feridas, estimular o crescimento capilar
(atenção aos carecas), suavizar a pele e eliminar a seborreia, a caspa e o
acne.
Dado que as flores possuem néctar em abundância, o rosmaninho
é ideal para a apicultura de qualidade, originando um mel escuro muito
apreciado.
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