Em 1556, Ngola Inene, com inveja das vantagens que o rei do Congo tirava com o comércio com os portugueses, e querendo livrar-se do jugo daquele, enviou outra missão a Portugal procurando ajuda militar e oferecendo-se para ser cristianizado. Era regente, em nome de D. Sebastião, nessa altura com dois anos de idade, D. Catarina e o cardeal D. Henrique, que condescendem, e encarregam Paulo Dias de Novaes dessa missão.
Sai de Lisboa em Setembro de 1559 a fraca “armada” de três caravelas, com alguma gente de terra e “fracos petrechos hostis”, para “auxilar” o rei do Ndongo ou Matamba.
Chega à foz do Quanza em Maio de 1560. Desembarca a segunda missão portuguesa, liderada por Paulo Dias de Novais, neto do famoso explorador Bartolomeu Dias, juntamente com vários padres jesuítas, incluindo o notável Francisco de Gouveia. A missão de Dias de Novais falhou igualmente. Não encontra mais o Ngola Inene que tinha morrido, e em lugar deste, um filho, Ngola Kiluange, belicoso e desconfiado, que fazendo-se amigo o mantém em cativeiro, assim como ao padre Francisco de Gouveia.
Só ao fim de quatro anos consegue Novaes libertar-se, deixando o padre jesuíta Francisco Gouveia para trás, porque o Ngola o não dispensou, e como as suas caravelas tinham ordem para esperar só um certo tempo, há muito ultrapassado, haviam regressado a Portugal.
Atravessou Paulo Dias os sertões, até chegar do Congo, donde conseguiu voltar a Portugal em 1564.
Em 1571 Novais obteve do rei D. Sebastião uma Carta de Doação (1571), que lhe dava o título de "Governador e Capitão-Mor, conquistador e povoador do Reyno de Sebaste na Conquista da Etiópia ou Guiné Inferior", nome pelo qual a região de Angola era então conhecida. Partiu de Lisboa em 23 de Outubro de 1574 e desembarcou na chamada Ilha das Cabras (actual Ilha de Luanda) a 11 de Fevereiro de 1575.
Ali já existiam cerca de sete povoados e Novaes encontrou sete embarcações fundeadas e cerca de quarenta portugueses estabelecidos, enriquecidos com o comércio negreiro, ali refugiados dos Jagas. Acredita-se que já estivessem ali há alguns anos, uma vez que na ilha também existia uma igreja e um padre.
Tudo isto consta de vários historiadores. Mas...
- O que faziam ali os portugueses? Dizem os historiadores que os portugueses estavam ali com autorização do rei do Congo. O contato entre portuguese e este rei tinha já cerca de cem anos! Quase um século. E estes portugueses tinham até capela e padre!
- Escravos da Ilha não havia, e se os tivessem levado – o chamado comércio negreiro – a Ilha ficaria deserta.
- Esta Ilha pouco mais tinha para comer do que peixe, e nas terras da frente, do outro lado da baía, hoje a cidade de Luanda, nem peixe, nem gente, nem nada!
- Como é sabido, a “Casa da Moeda” do rei do Congo era precisamente a Ilha de Luanda onde se encontrava o famoso zimbo que servia de moeda por todo o interior de África. E só o rei era o seu proprietário, mantendo até fiscais seus para não haver “contrabando”! (Nota... oportuna: no Brasil já se rouba dentro da Casa da Moeda!)
- Só parece sobrar uma hipótese para a estadia destes portugueses naquela – maravilhosa – ilha, onde não seriam refugiados, nem fugidos, bastando para isso lá estarem sete embarcações, que certamente não eram parte de alguma regata à vela!
- O que nos leva a concluir que os portugueses teriam autorização para explorar essa preciosidade – que só as mulheres sabiam colher no mar – para engrossar os proventos do rei e deles próprios.
- As embarcações deveriam ter levado alimentos e bens comerciáveis que os portugueses trocariam pela “moeda”. Só assim se lhes pode chamar comerciantes. Mas eram muitas embarcações: sete! O que levariam de volta? Só o zimbo. Peixe seco também? Quem sabe.
- Como nos primeiros tempos os navios portugueses não faziam comércio de escravos para o Brasil nem para qualquer outro lugar, sabe-se que, a mando do rei do Congo, compravam escravos nalguns lugares da costa ocidental e iam vendê-los a outros potentados por preços muito compensatórios. O lucro era do rei que pagava o custo do transporte, ou então dividiam os lucros.
Uma grande PPP – Parceria Publico Privada – possivelmente a primeira da história, assim como a primeira “Empresa de Transportes de Navegação”, quatrocentos ou quinhentos anos antes da Costa Cruises, da Cunard Lines e muitas outras!
É fácil certificarmo-nos do convívio dos portugueses com outros povos!
Francisco Gomes Amorim
12/06/2012
12/06/2012
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