Estátua
de Viriato,Viseu(Portugal)
Interessante
refletirmos sobre a fundação e construção da identidade portuguesa. A lusofonia
assim o exige! Li o estudo do escritor Alfredo Margarido, recentemente
falecido: "Os Irmãos falsamente Siameses: Portugal e Espanha",
publicado na RES - PUBLICA Revista Lusófona de Ciência
Política e Relações Internacionais 2007, 5/6, pp. 31 - 45.
O
texto defende que no decurso da sua história são muitos os pontos de convergência
entre as duas nações ibéricas, mas também os factores que marcaram as
suas diferenças, nomeadamente quanto aos distintos processos de
descolonização e de democratização no século XX. Até aos dias de hoje, onde
depois de épocas marcadas sobretudo pela conflitualidade, Espanha e
Portugal são obrigados a coexistir e a cooperar no espaço comum europeu.
Do
texto transcrevo dois pequenos trechos que referem a luta que
Portugal sempre manteve com Castela e mesmo com a Galiza, embora as afinidades.
Argumenta o
autor a certa altura:
Uma
das "funções" da Espanha(Castela) em relação à construção da identidade
portuguesa foi posta em evidência pelo historiador português António José
Saraiva, ou antes de Castela, foi a de obrigar os Portugueses
a mobilizar-se constantemente para fazer face
aos Castelhanos.
Esta
observação obriga-nos a verificar que, de facto, os Portugueses só puderam
tornar-se independentes , opondo-se primeiro à Galiza, e depois e
quase permanentemente, pelo menos até ao século XIX, aos castelhanos.
Podemos verificá-lo a partir, se não do recontro do Vez, pelo menos após a
Batalha de Aljubarrota em 1385. Façamos contudo uma curta referência
às condições da criação, primeiro, do Condado Portucalense, seguida poucos
anos depois pela emergência de Portucale, que o mecanismo da língua
já portuguesa transformará em Portugal.
Cabe ao
infante Afonso Henriques – filho de um não galego, o conde D Henrique e de
uma princesa galega D. Tareja– separar-se, não sem violência, da Galiza.
A
construção da História portuguesa, que durou séculos, assinala as
condições deveras particulares que permitiram esta operação política
fundadora, pois fora necessário a Afonso Henriques meter a mãe
na cadeia para dispor das condições indispensáveis para levar o seu
projeto a bom porto. Trata-se de um matricídio simbólico , sendo a morte d a m ã e indispensável,
já que o pai, não sendo galego, não dispunha da legitimidade política
carregada pela mãe.
Até
hoje, a historiografia portuguesa mantém a importância desta decisão de
Afonso Henriques, que deste modo marca a sua singularidade entre as personagens
da corte galega. Também se pode pensar que se quis, mantendo a narrativa,
salientar o acto que prova que o príncipe não era um galego
genético, pois carregava consigo os genes de um pai estrangeiro.
Os primeiros
portugueses estavam instalados num nicho ecológico, do qual deviam sair
para alcançar a sua autonomia. Semelhante operação
previa e supunha o uso da força como realmente aconteceu,em dois
sentidos: manifestação de força perante a corte galega, como se verificou
no reencontro do Vez; adopção de uma estratégia armada contra os
Árabes e os seus aliados. A similitude das práticas agrícolas que
ainda hoje se regista entre os Galegos e os Portugueses salienta a
dificuldade da separação: ainda hoje somos consumidores da couve-galega,
quanto mais não fosse no quase folclórico «caldo verde com ou sem
tora», que continua a fazer parte dos nossos cardápios. Este parentesco
foi reforçado de resto pela introdução do milho, nos começos do século XVI
e da batata andina, já no século XIX.
Num
outro momento a dinastia filipina aparece na História portuguesa como um período excepcional que
não pode deixar de pôr problemas aos historiadores, que já procuraram
encontrar traços da resistência popular, tendo-os de facto encontrado, mas
tão tardios como falhos de força e também de teoria. Tudo se
passa como se a população portuguesa, nobres, clero, artesãos
ou agricultores, medisse as condições existenciais, concluindo que nem uns
perdiam o poder, nem os outros se libertavam das corveias. A complicada sucessão dizia
apenas respeito a um fragmento da nobreza e, por isso, as coisas
podiam ser deixadas no lugar que lhes tinha sido destinado pelo acaso
da reprodução das famílias reais. E de tal modo isto era assim, que as
reações virulentas vieram da nobreza parcialmente mobilizada para
participar na
Guerra da Catalunha, tão soberbamente analisada mais tarde por D.
Francisco Manuel de Melo.
Contudo
Portugal tem feito o necessário para que o rosário da conflitualidade com
Castela e os Espanhóis – não só os Castelhanos, mas muitos outros,
talvez com a notável excepção da Galiza, que escolheu Portugal como lugar de emigração preferencial
–, tenha sido engrossado com novas pérolas, pelo menos até 1801.
As
convergências ou as diferenças entre as nações ibéricas são,
hoje,uma força mobilizadora de uma cidadania mais alargada para os
seus povos , incluindo os ibero-americanos?
Saudações,
Margarida
Fonte
consultada:
http://respublica.ulusofona.pt/pdf5_6/dossier3.pdf
http://respublica.ulusofona.pt/pdf5_6/dossier3.pdf
Sem comentários:
Enviar um comentário