por Francisco José dos Santos Noronha
«Memória do terramoto de 1531»
«Guardando a ordem dos anos, direi do seguinte, de
trinta um, no principio do qual ouve neste reino de Portugal muito trabalho,
por aver nele peste e terremotos, com tremer a terra e caírem casas e
edeficios, onde morreo muita jente; e tal espanto e medo pôs que andávão as jentes
espantadas e fora de si, que não ousávão a entrar, nem dormir em povoado, e
saíão-se ao campo, onde dormião em choupanas e tendas que pera iso fazíão, e
asaz foi isto mais em Lisboa e polo Tejo acima que em outra parte, e em
especial em Vila Franca, Povos, Castanheira, Azambuja, até Santarém, e foi este
terremoto a vinte de janeiro do ano de trinta um; e, como Noso Senhor é
misericordioso, ouve por bem sosegar o tempo.»
Bernardo Rodrigues, Anais
de Arzila, 1561
EL-REI DOM JOÃO III EM ALHOS VEDROS
«No início do
ano de 1531, Lisboa conheceu uma crise sísmica que culminou no dia 26 de janeiro
com um abalo de grande intensidade (provável magnitude 6.5 – 7.0), com origem
na zona de falhas sísmicas do Vale Inferior do Tejo. Posteriormente, e ao longo
de todo o ano, sucederam-se réplicas e sismos de menor intensidade. A
destruição causada terá sido significativa, tanto na capital como nos
arredores. Em Lisboa, cerca de 25% dos edifícios terão sofrido estragos
significativos e, pelo menos 10% ter-se-ão desmoronado (cerca de 1500
habitações). A cidade contaria com cerca de 100 mil habitantes, dos quais entre
20 mil a 30 mil terão perdido a vida. Há referências a grande devastação em
residências e oficinas, em particular na Rua Nova, a principal artéria
comercial da cidade, e na rua dos Fornos, bem como edifícios nobres gravemente danificados
(Paço da Ribeira, Paço dos Estaus, Convento de São Domingos, Sé, Convento do
Carmo, Igreja de São João da Praça, Torre de Belém, Mosteiro dos Jerónimos).»
(NUNES, Maria Paula, PROVIC, PUBLICAÇÃO MENSAL DA AUTORIDADE NACIONAL DE
PROTECÇÃO CIVIL/N.º 47/FEVEREIRO 2012/ ISSN 1646 – 9542, p. 3)
Receoso pela sua segurança e pela dos seus, o Rei deu ordem
para que desocupassem o Real Paço da Ribeira e se trasladassem para Enxobregas.
Posteriormente, também por deliberação Régia, foram instalar-se no Paço Real de
Santos. Dada a proximidade de Lisboa, o Monarca continuava a não se sentir resguardado
da epidemia. Ordenou, então, que a
Real Família embarcasse para o Barreiro e Lavradio.
Destas terras da borda-d’água, acompanhado de um séquito
de Cavaleiros e homens d’armas, o Soberano encetou a caminhada para Sul e alojou-se
no Paço Real de Almeirim. Certo dia de Janeiro, cavalgou até Benavente e aí se
alojou. A 26 do dito mês, a terra
tremeu enfurecida! «O Paço de Benavente, onde o Rei D. João III se encontrava, não terá resistido
aos efeitos do terramoto, forçando o monarca a procurar refúgio, primeiro em Alhos Vedros e, mais tarde, em Azeitão.» (Idem)
Em Alhos Vedros, onde se terá
alojado el-Rei?
Mas sabe-se que se achava na Vila, a 27 de Janeiro de 1531, data em que redigiu uma Carta Régia enviada
ao Governador
Cível, D. Fernando de Castro. (in “Catálogo dos manuscriptos
da Bibliotheca Eborense”, p. 88)
2 comentários:
As coisas que se vão aprendendo neste Estudo Geral...
às vezes até parece uma Escola Aberta.
Amigo Francisco venha mais, venha mais que a malta gosta.
Abraço.
Manuel João Croca
Obrigado, Manuel João, pelas tuas palavras.
No que que eu puder, contribuirei.
Abraço.
Francisco Noronha
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