quarta-feira, 30 de abril de 2014

ALHOS VEDROS QUATROCENTISTA


Cristãos e Judeus – o enterramento de Fernão do Casal
(inédito)

SINOPSE

     Desde épocas imemoriais, nas terras da Ibéria, coabitam judeus e cristãos. Para Celso Lafer, «os judeus se instalaram na Península desde os tempos salomônicos, passaram pelo domínio romano, suportaram as invasões bárbaras, sofreram os primeiros reinados visigóticos, sustentaram os árabes, integraram-se nos reinados cristãos da Reconquista...»

     Para Ângelo Adriano Faria de Assis (*) «O nascimento político do reino português (…) [no] século XII, sob a espada abençoada por visões divinas e comandada por Afonso Henriques (…), dá-se num momento em que os filhos de Abraão já se encontram (…) sedimentados em algumas localidades de grande povoamento e importância, como Santarém, Coimbra e Lisboa. (…) O relacionamento entre cristãos e judeus no mundo português encontrava particularidades que o diferenciava dos outros países da Europa cristã. De acordo com Anita Novinsky, as diferenças começam na própria origem: durante a Idade Média, Portugal foi "o país que antes de qualquer outro da Europa reconheceu os direitos dos judeus"; consequência desta política de "aceitação" social, é que "foi nessa parte ocidental da Península que a propaganda oficiosa antijudaica penetrou mais tarde"

     Também em Alhos Vedros, povoação na margem esquerda do Tejo, dada a vizinhança de Lisboa, havia judeus integrados na comunidade local.

     Citando de novo Ângelo Assis, «Apesar da forte influência do direito canónico, (…) "a religião não impediu nem prejudicou seriamente os contatos mútuos, as inter-relações grupais, sendo mesmo considerável o número de casamentos mistos". A situação, na prática cotidiana, mostrava-se em Portugal - como em nenhuma outra parte – favorável ao bom convívio entre os grupos. (…) O povo não levava muito a sério as proibições dos representantes da Igreja e os monarcas portugueses foram muitas vezes recriminados de Roma por favorecerem aos judeus"».

     No funeral do Fidalgo alhosvedrense Fernão do Casal, cooperaram cristãos e judeus, irmanados no mesmo sentimento de pesar.

     Desgraçadamente, «o aumento das perseguições na Europa e (…) os acontecimentos em Espanha, (…) mormente na segunda metade do século XV, mudariam este quadro e trariam um triste fim ao período em que os hebreus conviviam abertamente com os cristãos no reino fundado séculos antes por Afonso Henriques(*)
     
Qual mito da cripta, sub-repticiamente, foi sem-do gerado o monstro.


(*) Ângelo Adriano Faria de Assis Coordenador do Curso de História/Docente - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Nair Fortes Abu-Merhy (Além Paraíba - MG), in “O Medievo Português em tempos de livre crença: relações entre judeus e cristãos em Portugal antes do monopólio católico iniciado em 1497.”



Francisco José Noronha dos Santos

2 comentários:

estudo geral disse...


Amigo Francisco, viva!

Venha de lá a refeição que o aperitivo está saboroso.

Abraço.

Manuel João Croca

Unknown disse...


Olá, amigo Manuel João!!!

Será que a "refeição" valerá a pena?!

Aquele abraço.

Francisco