por Miguel Boieiro
A maltinha nova da minha geração tinha por costume intercalar
cheirosas folhas de lúcia-lima entre as páginas dos livros para aumentar o
prazer das leituras. As folhinhas secavam facilmente e reforçavam o seu
característico perfume. Juntava-se assim o útil ao agradável.
Na verdade, a Aloysia
citriodora, também popularmente conhecida como bela-luisa é uma das plantas mais aromáticas que conheço e, não
fora só por isso, deveria ter sempre lugar permanente nas hortas e quintais dos
cidadãos mais atilados. Com ela prepara-se uma infusão deliciosamente aperitiva
que não precisa de açúcar e serve, às mil maravilhas, acompanhada por umas
fogaças à moda de Alcochete (passe o chauvinismo), para confecionar um
requintado lanche, particularmente quando recebemos visitas, mas não só.
Este pequeno arbusto caducifólio da família botânica das
verbenáceas veio da América do Sul, tendo sido introduzido na Europa no século
XVII. Adaptou-se rapidamente ao nosso clima e consegue resistir às geadas desde
que elas não sejam muito agrestes. As suas folhas, que caem no inverno, como já
se anteviu, são lanceoladas, quase sésseis (pecíolo curto) e algo rugosas com
coloração verde amarelada. As flores são brancas e muito pequenas, agrupando-se
em espigas. Os frutos formam minúsculas drupas mas, jamais as vemos no
continente europeu. Consequentemente, a reprodução processa-se mediante estacas
já devidamente enraizadas que se separam da planta mãe.
A lúcia-lima é estimulante do apetite, digestiva,
antiespasmódica, antifúngica, febrífuga, emenagoga, relaxante do sistema
nervoso, sedante, hipotensora e carminativa.
Com tantas propriedades, não admira que seja uma das plantas
medicinais mais estimadas.
Possui um óleo essencial algo complexo onde foram detetadas
mais de cem substâncias. Destas destacam-se o citral, o limoneno, o eucaliptol,
o pineno e o cariofileno. Contém também taninos, flavonóides, melatonina e
mucilagens.
É indicada para situações de ansiedade, transtornos
digestivos (dispepsias, digestões pesadas, flatulências superiores),
menstruações dolorosas, cólicas renais e biliares. Por possuir melatonina que é um relaxante natural,
por vezes mais eficaz que os tranquilizantes químicos e sem os efeitos
secundários desses fármacos, torna-se excelente para combater as insónias.
O “chá” é muito simples de fazer: basta ferver, durante três
minutos, 30 g de folhas secas num litro de água e tomar bem quente após as
refeições ou ao deitar. Devido ao seu sabor muito aromático e adocicado, convém
parar após cinco dias e retomar a tisana uma semana mais parte, porque, com a
continuação, ela torna-se um pouco enjoativa.
No Perú, um dos países de origem desta verbenácea, fabricam, a
partir das respetivas folhas, uma bebida gasosa muito agradável, cuja
comercialização local chega a suplantar a da coca-cola.
Naturalmente que a lúcia-lima é também plantada como
apreciado arbusto ornamental e odorífero nos jardins de todo o mundo de climas
tropicais e temperados. Ela prefere uma boa exposição solar e solos húmidos bem
drenados e levemente argilosos. Uma das características mais interessantes no
que respeita ao seu cultivo é o facto de medrar satisfatoriamente no meio de
outros vegetais (planta fitófila).
Tal como a erva-príncipe, também a lúcia-lima pode ser usada
na gastronomia, conferindo aromas cítricos aos molhos, marinadas, saladas de
frutas, gelatinas, etc.
Por fim, há que referir o seu emprego em produtos de
cosmética e perfumaria. Segundo “La Beauté par les Plantes” da conhecida
editora Gründ, o odor fresco da “verveine
citronnelle” perfuma os sabonetes, as loções capilares, as brilhantinas
e os “batons” para os lábios das “madames”.
1 comentário:
Muito interessante.
Mesmo sem saber todas estas suas particularidades, sou adepto desta planta que utilizo exclusivamente para chá à muito tempo.
MJC
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