terça-feira, 29 de abril de 2014

Lúcia-lima


por Miguel Boieiro

A maltinha nova da minha geração tinha por costume intercalar cheirosas folhas de lúcia-lima entre as páginas dos livros para aumentar o prazer das leituras. As folhinhas secavam facilmente e reforçavam o seu característico perfume. Juntava-se assim o útil ao agradável.

Na verdade, a Aloysia citriodora, também popularmente conhecida como bela-luisa é uma das plantas mais aromáticas que conheço e, não fora só por isso, deveria ter sempre lugar permanente nas hortas e quintais dos cidadãos mais atilados. Com ela prepara-se uma infusão deliciosamente aperitiva que não precisa de açúcar e serve, às mil maravilhas, acompanhada por umas fogaças à moda de Alcochete (passe o chauvinismo), para confecionar um requintado lanche, particularmente quando recebemos visitas, mas não só.

Este pequeno arbusto caducifólio da família botânica das verbenáceas veio da América do Sul, tendo sido introduzido na Europa no século XVII. Adaptou-se rapidamente ao nosso clima e consegue resistir às geadas desde que elas não sejam muito agrestes. As suas folhas, que caem no inverno, como já se anteviu, são lanceoladas, quase sésseis (pecíolo curto) e algo rugosas com coloração verde amarelada. As flores são brancas e muito pequenas, agrupando-se em espigas. Os frutos formam minúsculas drupas mas, jamais as vemos no continente europeu. Consequentemente, a reprodução processa-se mediante estacas já devidamente enraizadas que se separam da planta mãe.

A lúcia-lima é estimulante do apetite, digestiva, antiespasmódica, antifúngica, febrífuga, emenagoga, relaxante do sistema nervoso, sedante, hipotensora e carminativa.

Com tantas propriedades, não admira que seja uma das plantas medicinais mais estimadas.

Possui um óleo essencial algo complexo onde foram detetadas mais de cem substâncias. Destas destacam-se o citral, o limoneno, o eucaliptol, o pineno e o cariofileno. Contém também taninos, flavonóides, melatonina e mucilagens.

É indicada para situações de ansiedade, transtornos digestivos (dispepsias, digestões pesadas, flatulências superiores), menstruações dolorosas, cólicas renais e biliares. Por possuir melatonina que é um relaxante natural, por vezes mais eficaz que os tranquilizantes químicos e sem os efeitos secundários desses fármacos, torna-se excelente para combater as insónias.

O “chá” é muito simples de fazer: basta ferver, durante três minutos, 30 g de folhas secas num litro de água e tomar bem quente após as refeições ou ao deitar. Devido ao seu sabor muito aromático e adocicado, convém parar após cinco dias e retomar a tisana uma semana mais parte, porque, com a continuação, ela torna-se um pouco enjoativa.

No Perú, um dos países de origem desta verbenácea, fabricam, a partir das respetivas folhas, uma bebida gasosa muito agradável, cuja comercialização local chega a suplantar a da coca-cola.

Naturalmente que a lúcia-lima é também plantada como apreciado arbusto ornamental e odorífero nos jardins de todo o mundo de climas tropicais e temperados. Ela prefere uma boa exposição solar e solos húmidos bem drenados e levemente argilosos. Uma das características mais interessantes no que respeita ao seu cultivo é o facto de medrar satisfatoriamente no meio de outros vegetais (planta fitófila).

Tal como a erva-príncipe, também a lúcia-lima pode ser usada na gastronomia, conferindo aromas cítricos aos molhos, marinadas, saladas de frutas, gelatinas, etc.

Por fim, há que referir o seu emprego em produtos de cosmética e perfumaria. Segundo “La Beauté par les Plantes” da conhecida editora Gründ, o odor fresco da “verveine  citronnelle” perfuma os sabonetes, as loções capilares, as brilhantinas e os “batons” para os lábios das “madames”.

1 comentário:

MJC disse...


Muito interessante.

Mesmo sem saber todas estas suas particularidades, sou adepto desta planta que utilizo exclusivamente para chá à muito tempo.

MJC