por Miguel Boieiro
Fui ao Sapal das Hortas que dista quase 2 km da minha moradia
e tive sorte. Estava baixa-mar. Colhi duas dúzias de folhas de setembrista e
regressei contente. As setembristas gostam da água salgada e constituem a
guarda avançada da vegetação halófita, juntamente com as salicórnias. Quando a
maré está cheia o seu habitat fica submerso e já não dá para apanhar. Cozi-as
só em água e pensei – o petisco vai ficar salgadote! Enganei-me! As folhas da
setembrista estavam tão deliciosas como se fossem espinafres e sem qualquer
excesso de sal. Não tivesse havido um inverno ultra chuvoso e naturalmente as
plantas concentrariam mais cloreto de sódio. Li algures que elas chegam a
resistir em meio aquoso com 35 g de sal por litro de água.
A setembrista é mais uma planta selvagem, que quase ninguém
conhece, que pode ser utilizada vantajosamente na culinária. Escusam de
procurar em livros da especialidade e na net,
que não encontram esta designação. Nem eu próprio me lembro como tal chegou ao
meu conhecimento. Setembrista porquê? Ora porque na região onde sou nado, junto
ao delta do estuário do Tejo (passe a aparente contradição; defendo a ideia de
que este rio desagua em delta num mar interior), ela floresce em setembro.
Nessa altura é das flores mais bonitas que aparecem nos sapais, compostas de
malmequeres lilases de corolas douradas.
Como outras plantas silvestres, elas são ideais para a panela
enquanto jovens e tenras. Logo que espigam, endurecem e são apenas boas para a
vista. A propósito, li algures em documentação oriunda dos EUA que estas
plantas são oftálmicas, mas não se diz como se faz e como se aplica o remédio
fitoterápico. Presumo que seja uma preparação tópica a partir da água da
decocção ou da cozedura de talos, folhas e raízes. Ou talvez das flores, não
sei!
Os conhecimentos são ainda muito reduzidos no que toca aos
proveitos a obter da vegetação halófita, quer para curas, quer para
alimentação. Dada a riqueza botânica existente nas regiões onde a água do mar
se encontra com a água dos efluentes de água doce, da qual a zona estuarina do
Tejo é um bom exemplo, seria mister que alguém, cientificamente dotado,
escrevesse algo. Fica o desafio para quem o quiser enfrentar.
O que na minha região se chama setembrista é a Aster tripolium L. subsp. Pannonicus.
Ela pertence à vasta família das Asteráceas
e ao género Aster que provém do grego
e significa estrela. Na verdade existem para cima de 300 espécies de Aster com flores amarelas, brancas,
azuis, lilases ou violetas. Esta, minha conhecida, é muito bonita e tem os
capítulos lilases. Os caules são eretos e ramificados desde a base. As folhas
são brilhantes, suculentas, alternas e lanceoladas. A raiz é grossa. As flores
são hermafroditas e formam panículas. Os frutos são aquénios.
Alguns autores dizem que a Aster tripolium é anual, outros referem que é bisanual e outros
ainda que é perene. Pois bem! A minha setembrista é perene. Todos os anos, da
toiça primitiva surgem novos rebentos. Alguns dizem que é provida de pêlos. A
“minha” não os tem.
A setembrista gosta da humidade e do sol. Segundo o “Atlas
Botanique” do eslovaco Jindrich Krejca (edição francesa) que contém a descrição
de 1785 plantas, a Aster Maritime, presente em marismas, floresce de junho a
setembro. Até pode ser, só que a “minha” não dá flor antes de setembro.
Do que fica dito se pode concluir que, para além de existirem
muitas espécies de Aster, existem
igualmente muitas subespécies de Aster
Tripolium e que sendo todas originárias de parte do continente europeu,
asiático e do norte de África, variam em numerosos detalhes, de região para
região.
Redigir “sem rede” sobre tal planta, torna-se, deste modo,
tarefa difícil para este escriba amador. Mesmo assim, resolvi arriscar e
aventurar-me na esperança de que outros mais sabedores venham preencher as
minhas lacunas e corrigir erros e lapsos.
Concluindo, reafirmo: As folhas de setembrista, especialmente
no fim do inverno e no princípio da primavera, para além de ajudarem os
hipertensos, podem ser, se nós quisermos, uma “delicatessen” gastronómica de se
lhe tirar o chapéu.Fui ao Sapal das Hortas que dista quase 2 km da minha moradia
e tive sorte. Estava baixa-mar. Colhi duas dúzias de folhas de setembrista e
regressei contente. As setembristas gostam da água salgada e constituem a
guarda avançada da vegetação halófita, juntamente com as salicórnias. Quando a
maré está cheia o seu habitat fica submerso e já não dá para apanhar. Cozi-as
só em água e pensei – o petisco vai ficar salgadote! Enganei-me! As folhas da
setembrista estavam tão deliciosas como se fossem espinafres e sem qualquer
excesso de sal. Não tivesse havido um inverno ultra chuvoso e naturalmente as
plantas concentrariam mais cloreto de sódio. Li algures que elas chegam a
resistir em meio aquoso com 35 g de sal por litro de água.
A setembrista é mais uma planta selvagem, que quase ninguém
conhece, que pode ser utilizada vantajosamente na culinária. Escusam de
procurar em livros da especialidade e na net,
que não encontram esta designação. Nem eu próprio me lembro como tal chegou ao
meu conhecimento. Setembrista porquê? Ora porque na região onde sou nado, junto
ao delta do estuário do Tejo (passe a aparente contradição; defendo a ideia de
que este rio desagua em delta num mar interior), ela floresce em setembro.
Nessa altura é das flores mais bonitas que aparecem nos sapais, compostas de
malmequeres lilases de corolas douradas.
Como outras plantas silvestres, elas são ideais para a panela
enquanto jovens e tenras. Logo que espigam, endurecem e são apenas boas para a
vista. A propósito, li algures em documentação oriunda dos EUA que estas
plantas são oftálmicas, mas não se diz como se faz e como se aplica o remédio
fitoterápico. Presumo que seja uma preparação tópica a partir da água da
decocção ou da cozedura de talos, folhas e raízes. Ou talvez das flores, não
sei!
Os conhecimentos são ainda muito reduzidos no que toca aos
proveitos a obter da vegetação halófita, quer para curas, quer para
alimentação. Dada a riqueza botânica existente nas regiões onde a água do mar
se encontra com a água dos efluentes de água doce, da qual a zona estuarina do
Tejo é um bom exemplo, seria mister que alguém, cientificamente dotado,
escrevesse algo. Fica o desafio para quem o quiser enfrentar.
O que na minha região se chama setembrista é a Aster tripolium L. subsp. Pannonicus.
Ela pertence à vasta família das Asteráceas
e ao género Aster que provém do grego
e significa estrela. Na verdade existem para cima de 300 espécies de Aster com flores amarelas, brancas,
azuis, lilases ou violetas. Esta, minha conhecida, é muito bonita e tem os
capítulos lilases. Os caules são eretos e ramificados desde a base. As folhas
são brilhantes, suculentas, alternas e lanceoladas. A raiz é grossa. As flores
são hermafroditas e formam panículas. Os frutos são aquénios.
Alguns autores dizem que a Aster tripolium é anual, outros referem que é bisanual e outros
ainda que é perene. Pois bem! A minha setembrista é perene. Todos os anos, da
toiça primitiva surgem novos rebentos. Alguns dizem que é provida de pêlos. A
“minha” não os tem.
A setembrista gosta da humidade e do sol. Segundo o “Atlas
Botanique” do eslovaco Jindrich Krejca (edição francesa) que contém a descrição
de 1785 plantas, a Aster Maritime, presente em marismas, floresce de junho a
setembro. Até pode ser, só que a “minha” não dá flor antes de setembro.
Do que fica dito se pode concluir que, para além de existirem
muitas espécies de Aster, existem
igualmente muitas subespécies de Aster
Tripolium e que sendo todas originárias de parte do continente europeu,
asiático e do norte de África, variam em numerosos detalhes, de região para
região.
Redigir “sem rede” sobre tal planta, torna-se, deste modo,
tarefa difícil para este escriba amador. Mesmo assim, resolvi arriscar e
aventurar-me na esperança de que outros mais sabedores venham preencher as
minhas lacunas e corrigir erros e lapsos.
Concluindo, reafirmo: As folhas de setembrista, especialmente
no fim do inverno e no princípio da primavera, para além de ajudarem os
hipertensos, podem ser, se nós quisermos, uma “delicatessen” gastronómica de se
lhe tirar o chapéu.
1 comentário:
As coisas que se vão aprendendo neste Estudo Geral...
às vezes até parece uma Escola Aberta.
Que venham mais, venham mais que a malta gosta.
Abraço.
Manuel João Croca
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