por Francisco Gomes Amorim
Há pouco tempo recebi um e-mail, nem já sei de quem, mas que no mínimo é uma chamada à consciência para ajudar a melhor ver e entender o que nos rodeia e asfixia.
A loucura.
Dizia o e-mail que somadas todas as dívidas de todos os países do mundo, e parece que todos (quase) devem, o valor dessa dívida seria algo como US$ 300.000.000.000.000. Isso mesmo trezentos trilhões de dólares!
Tamanho absurdo nem os nenéns acreditam quando se lhes contam historinhas de medo para ver se eles metem a cabeça debaixo do travesseiro e ficam quietos para adormecerem!
Ora os economistas, financeiros, banqueiros e semelhantes podem até discordar deste valor, apresentarão outro que não pode diferir muito deste, mas sabem sobretudo que tal dinheiro não existe, nunca existiu e só existirá se o dólar se desvalorizar como aconteceu com a moeda brasileira que só entre 1975 e 1995, enquanto perdeu treze zeros, ou com a moeda do Zimbabué onde hoje um dólar americano vale 92,233,720,368,547,760.00 de “dólares’ locais!!! Isso mesmo, só 92,... quatrilhões!
É evidente que tamanha quantidade de dinheiro – os tais trezentos trilhões de dólares das dívidas – só pode ser mentira, o que não impede que os “credores” apertem os devedores e os estrangulem.
Mas, quem são os credores? E, donde surgiu tamanha quantidade de moeda, falsa, falsíssima?
Como é possível que a Grécia que devia mais de duzentos bilhões de Euros, com a absoluta certeza de jamais poder pagar, mesmo a juro 0%, receba nova ajuda de outros cem bilhões?
Que brincadeira de mau gosto é esta?
Agora a China já começou a rebentar pelas também falsas costuras com que coseu o seu crescimento estratosférico! Dizem os chinos que assim mesmo devem crescer este ano à volta de 7%. E dizem os técnicos – não políticos – da finança internacional que isto é mais uma mentira dos chineses e que serão muito felizes se alcançarem 3%.
Lembro quando Angola estava ainda em guerra civil, nem sequer aparecia nos mercados. Não crescia. Destruía-se. Em 2002 acabou a guerra e começou a crescer a 10% e mais. Bastava para isso aparecer um vendedor ambulante a vender quinquilharias na rua para que a “economia” crescesse. A partir do ponto zero, vender um copo de água já dá crescimento.
Foi um pouco do que se passou na China, quando mais de um bilhão de seres esmagados pelo “comité comunista” (que em chinês “simplificado” se pronuncia assim: 中国共产党中央委员会), começou a comer e a correr para as cidades.
Na Europa inventou-se a União Europeia e depois o Euro. Era preciso igualar a Grécia, Portugal, Irlanda e outros ao nível de desenvolvimento da Alemanha, Reino Unido, etc.
Puseram a máquina de imprimir moeda a funcionar e começaram a chover Euros nos países periféricos, chamemos-lhe pobres, que se embebedaram com tanto maná, criaram obras faraónicas e lindas, mas esqueceram o básico: investir em meios de produção, industrial, agrícola, transportes (marítimos, por exemplo) e sobretudo na melhoria da educação e na pesquisa científica!
Em 2008 tremeu e começou a ruir o mundo financeiro. Por todo o lado. Os Estados Unidos saíram da sua filosofia de livre concorrência para protegerem os bancos, seguradoras e algumas grandes industrias, começando a destruir o que tinha sido até ali o grande trunfo do sucesso americano: não intervenção do Estado e deixar o mercado entregue à meritocracia. Agora entra, em força, o compadrio, corrupção e outros males quando se brinca com o dinheiro do povo. Como no Brasil e outros países que não crescem porque o dinheiro é quase todo “distribuído” pela “nomeklatura” e pelos cartéis dos poderosos. (É interessante ler o livro Um capitalismo para o povo do prof. Luigi Zingales da Universidade de Chicago - A Capitalism for the People).
A União Europeia viu o Euro desvalorizar-se cerca de 25%, e então acordou para os ”empréstimos” tão generosamente feitos aos tais pobres, e vá de lhes meter as mãos nas goelas obrigando-os à tal “austeridade” que fez aumentar, de forma assustadora, o desemprego e a pobreza.
Agora as bolsas começaram a tropeçar, o Bill Gates “perde” num dia uns quantos bilhões – que não lhe fazem diferença alguma, porque é tudo papel escriturado – o petróleo está mais barato que refrigerante, e os grandes “sábios” da finança que tudo, ou quase, apostaram no gigante chino, agora não sabem o que fazer.
A Alemanha gozava com a venda de Mercedes e Porsches, a França com a Renault, Givenchy, Dior e outras sofisticações, a Suíça com relógios de ouro e diamantes, e a China exportava tudo. Mas tudo mesmo.
Há dias comprei, num supermercado aqui no Rio, bacalhau do Porto. Quando cheguei a casa é que vi: “Importado da China”! Meu Deus, até o bacalhau, do Porto, é da China. Podia ao menos ser de Macau!
Não é de agora, mas desde há muitos anos que vejo a Europa a afundar-se, e muitas vezes escrevi sobre isso. E não sou um pessimista. Taxas de natalidade negativas, e muito, invasões de milhões de refugiados – e não só – que vêm do Afeganistão, Bangladesh, Magrebe, Síria, África do Leste e Oeste, etc., e que não tardam superam as populações chamemos-lhes autóctones europeias.
Qual a perspectiva? Não parece difícil imaginar o que se vai passar.
Os imigrantes reproduzem-se a taxas de 3 a 4%. Os europeus não querem ter filhos antes de não os poderem mais gerar. Os pares homossexuais “compram” criancinhas vindas de qualquer lugar, ou simplesmente não o fazem. Resultado?
O avanço do aquecimento global está a processar-se com muito mais rapidez do que se esperava e sobretudo desejava. Secas imensas, toda a costa leste do EUA a arder, desaparecendo milhares e milhares de hectares de florestas, a tundra siberiana, apesar da sua imensidão, perde espessura e começa a ter dificuldade para a tradicional criação de renas, lagos desaparecem como o Aral que passou de 65.000 km2 a menos de 3.000 por errado uso das águas que o alimentavam, o Ártico, dizem, vai ser destruído pelas perfurações do petróleo, etc., etc.
A única esperança que me resta, extremamente egoísta, é que eu já não devo assistir à derrocada final, mas a sensação de que falta pouco, muito pouco, é real.
Penso nas gerações abaixo, filhos a quem as seguranças sociais talvez já não tenham como pagar-lhes uma aposentadoria que não seja de miséria, e os netos que, quase de certeza assistirão ao desabar do mundo que viram ao nascer.
Previsão apocalítica? Talvez.
Veio agora o Stephen Hawking lançar uma esperança: os “buracos negros” podem ser passagens para outros universos. Que maravilha. Que esperança.
Mas a vida é tão curta e raros são os que “fazem acontecer”. A esmagadora maioria assiste, assiste, alguns lastimam-se, e nada mais faz do que “ver a banda passar”.
Felizes e heróis os que sabem aproveitar a vida, mesmo não tendo capacidades para alterar o curso do desastre, sorriem, ajudam os outros e curtem cada minuto que lhes foi dado para este “instantâneo” no planeta Terra.
27/08/2015