segunda-feira, 31 de agosto de 2015

REAL... IRREAL... SURREAL... (147)

St. Rémy, Provença,  Ben Nicholson, 1933
Óleo e Lápis s/ Tábua, 105x93 cm

A PERFEITA MOLDURA

Viviam numa moldura imaculadamente guardada num lugar onde todas as outras coisas eram restos sem uso.
Por viverem numa moldura, podiam ver e podiam ser vistos e há quem diga que conseguiam até trocar olhares com as pessoas de fora. Eram tidas como crianças perfeitas e arrancavam sorrisos enternecidos. 
As suas roupas perfeitas pintavam os dias e todos ficavam domingo a parar as horas naquela moldura imaculadamente guardada junto dos restos sem uso.
Sabe-se hoje que as crianças terão ficado ali para sempre.

Os sorrisos, esses duraram apenas uma vida.


Maria Teresa Bondoso

domingo, 30 de agosto de 2015



MIRADOURO 29 /2015
esta rubrica não respeita as normas do acordo ortográfico





HUMANASCER

O drama dos refugiados - que procuram fugir à guerra, destruição e morte buscando uma  possibilidade de sobrevivência e de uma vida com o mínimo de dignidade – dilacera-nos a todos.
No corpo, na mente, na alma.
Entretanto, o 1º m. anuncia como uma vitória sua e de Portugal ter baixado a quota de acolhimento de refugiados.
Que gente é esta?!
Sim, que gente é esta ?!!!!!


Interior um tanto baço
e, contudo,  eu.
Já nem a mim vejo
com nitidez.
Por entre a névoa
o som de gaitas,
cantares de amigo,
novas de um acontecer
possível.
Sons de um longe temporal
mas que a alma quer reter
num perto,
próximo,
dentro.
Cada um é
porque juntos somos
projectos em construção
de uma solução
mais próxima
mais humana,
mais nossa,
humanascer.


Manuel João Croca

sábado, 29 de agosto de 2015

Relatos da Vida de Um Médico


O ANEL
Empurrei a pequena porta da cerca, que dava acesso ao quintal daquela pequena casa lá no campo. Até lá chegar percorri um longo caminho de areia. Um hábito naquela zona onde exercia. A porta abriu-se e surgiu uma senhora de estatura pequena, olhos sofridos, com as mãos em sinal de prece, como que aguardando um deus esperado para resolver a situação. A humilde casa permitia-me uma situação de bem estar, quase que uma quaisquer necessidade de refúgio por mim sentida, em relação à agressividade que é própria nos dias de hoje. Dois passos foram suficientes para passar a cozinha, onde um pequeno prato tinha os restos de uma torrada não digerida. Ao lado um pequeno cesto com os ovos do dia, cobertos da sujidade, que não o era, e indicava a presença de galinhas no quintal.
E eis-me no quarto. Na cama um senhor que depois soube chamar-se João, com oitenta primaveras. Fácies magra,que depois continuou em todo o corpo.
A primeira frase que me disse e que permanecerão para sempre no meu registo:
- Senhor doutor, doem-me os tomatinhos.
Um tumor da próstata já em fase muito adiantada. As dores horríveis.
É nestas situações que sentimos a nossa vulnerabilidade e impotência. Fiz o que me era possível, amenizar ao máximo o seu sofrimento. De médico, a amigo e ouvinte foi um passo e a minha missão nas múltiplas visitas que fiz àquela casa. Pouco tempo depois a partida que tardava.
De vez em quando a dona Maria, agora toda vestida de preto chamava-me. E eu já sabia, guardava aquela visita para a ultima do dia, pois o que me esperava era uma amiga que precisava da companhia de um familiar, que não havia, tinham percorrido a vida só os dois, sem descendentes ou colaterais. Assim assumi mais esse papel. À noite lá vinha eu para casa com os ovos do dia e mais algum produto da horta do quintal se houvesse. Os anos foram passando e um dia a dona Maria chamou-me mais uma vez. Recordo a cena desse dia.
A noite já tinha chegado e fez-me sentar em cadeira de palha, dirigiu-se à cómoda e tirou de dentro da gaveta uma pequena caixa de madeira. Abriu e tirou lá de dentro um anel, o do marido, de casamento. Pediu-me que aceitasse pois sentia que em breve iria ter com o senhor João, pois às vezes já o ouvia chamar . Colocou-me num dilema. É que eu nunca aceitei quaisquer oferta de bens pessoais, nem a lei me permitia. Mas aquele olhar da amiga Maria, que em quase súplica me pedia que eu aceitasse o que restava do sr. João, fez-me mandar às urtigas a lei e os meus preconceitos. Agora está lá na gaveta da nossa cómoda aguardando que um dia mude de mãos. Mas quem o levar tem que saber a história do sr. João e o sofrimento pelos seus tomatinhos.

António Alfacinha

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Crash à vista


por Francisco Gomes Amorim

Há pouco tempo recebi um e-mail, nem já sei de quem, mas que no mínimo é uma chamada à consciência para ajudar a melhor ver e entender o que nos rodeia e asfixia.
A loucura.
Dizia o e-mail que somadas todas as dívidas de todos os países do mundo, e parece que todos (quase) devem, o valor dessa dívida seria algo como US$ 300.000.000.000.000. Isso mesmo trezentos trilhões de dólares!
Tamanho absurdo nem os nenéns acreditam quando se lhes contam historinhas de medo para ver se eles metem a cabeça debaixo do travesseiro e ficam quietos para adormecerem!
Ora os economistas, financeiros, banqueiros e semelhantes podem até discordar deste valor, apresentarão outro que não pode diferir muito deste, mas sabem sobretudo que tal dinheiro não existe, nunca existiu e só existirá se o dólar se desvalorizar como aconteceu com a moeda brasileira que só entre 1975 e 1995, enquanto perdeu treze zeros, ou com a moeda do Zimbabué onde hoje um dólar americano vale 92,233,720,368,547,760.00 de “dólares’ locais!!! Isso mesmo, só 92,... quatrilhões!
É evidente que tamanha quantidade de dinheiro – os tais trezentos trilhões de dólares das dívidas – só pode ser mentira, o que não impede que os “credores” apertem os devedores e os estrangulem.
Mas, quem são os credores? E, donde surgiu tamanha quantidade de moeda, falsa, falsíssima?
Como é possível que a Grécia que devia mais de duzentos bilhões de Euros, com a absoluta certeza de jamais poder pagar, mesmo a juro 0%, receba nova ajuda de outros cem bilhões?
Que brincadeira de mau gosto é esta?
Agora a China já começou a rebentar pelas também falsas costuras com que coseu o seu crescimento estratosférico! Dizem os chinos que assim mesmo devem crescer este ano à volta de 7%. E dizem os técnicos – não políticos – da finança internacional que isto é mais uma mentira dos chineses e que serão muito felizes se alcançarem 3%.
Lembro quando Angola estava ainda em guerra civil, nem sequer aparecia nos mercados. Não crescia. Destruía-se. Em 2002 acabou a guerra e começou a crescer a 10% e mais. Bastava para isso aparecer um vendedor ambulante a vender quinquilharias na rua para que a “economia” crescesse. A partir do ponto zero, vender um copo de água já dá crescimento.
Foi um pouco do que se passou na China, quando mais de um bilhão de seres esmagados pelo “comité comunista” (que em chinês “simplificado” se pronuncia assim: 中国共产党中央委员), começou a comer e a correr para as cidades.
Na Europa inventou-se a União Europeia e depois o Euro. Era preciso igualar a Grécia, Portugal, Irlanda e outros ao nível de desenvolvimento da Alemanha, Reino Unido, etc.
Puseram a máquina de imprimir moeda a funcionar e começaram a chover Euros nos países periféricos, chamemos-lhe pobres, que se embebedaram com tanto maná, criaram obras faraónicas e lindas, mas esqueceram o básico: investir em meios de produção, industrial, agrícola, transportes (marítimos, por exemplo) e sobretudo na melhoria da educação e na pesquisa científica!
Em 2008 tremeu e começou a ruir o mundo financeiro. Por todo o lado. Os Estados Unidos saíram da sua filosofia de livre concorrência para protegerem os bancos, seguradoras e algumas grandes industrias, começando a destruir o que tinha sido até ali o grande trunfo do sucesso americano: não intervenção do Estado e deixar o mercado entregue à meritocracia. Agora entra, em força, o compadrio, corrupção e outros males quando se brinca com o dinheiro do povo. Como no Brasil e outros países que não crescem porque o dinheiro é quase todo “distribuído” pela “nomeklatura” e pelos cartéis dos poderosos. (É interessante ler o livro Um capitalismo para o povo do prof. Luigi Zingales da Universidade de Chicago - A Capitalism for the People).
A União Europeia viu o Euro desvalorizar-se cerca de 25%, e então acordou para os ”empréstimos” tão generosamente feitos aos tais pobres, e vá de lhes meter as mãos nas goelas obrigando-os à tal “austeridade” que fez aumentar, de forma assustadora, o desemprego e a pobreza.
Agora as bolsas começaram a tropeçar, o Bill Gates “perde” num dia uns quantos bilhões – que não lhe fazem diferença alguma, porque é tudo papel escriturado – o petróleo está mais barato que refrigerante, e os grandes “sábios” da finança que tudo, ou quase, apostaram no gigante chino, agora não sabem o que fazer.
A Alemanha gozava com a venda de Mercedes e Porsches, a França com a Renault, Givenchy, Dior e outras sofisticações, a Suíça com relógios de ouro e diamantes, e a China exportava tudo. Mas tudo mesmo.
Há dias comprei, num supermercado aqui no Rio, bacalhau do Porto. Quando cheguei a casa é que vi: “Importado da China”! Meu Deus, até o bacalhau, do Porto, é da China. Podia ao menos ser de Macau!
Não é de agora, mas desde há muitos anos que vejo a Europa a afundar-se, e muitas vezes escrevi sobre isso. E não sou um pessimista. Taxas de natalidade negativas, e muito, invasões de milhões de refugiados – e não só – que vêm do Afeganistão, Bangladesh, Magrebe, Síria, África do Leste e Oeste, etc., e que não tardam superam as populações chamemos-lhes autóctones europeias.
Qual a perspectiva? Não parece difícil imaginar o que se vai passar.
Os imigrantes reproduzem-se a taxas de 3 a 4%. Os europeus não querem ter filhos antes de não os poderem mais gerar. Os pares homossexuais “compram” criancinhas vindas de qualquer lugar, ou simplesmente não o fazem. Resultado?
O avanço do aquecimento global está a processar-se com muito mais rapidez do que se esperava e sobretudo desejava. Secas imensas, toda a costa leste do EUA a arder, desaparecendo milhares e milhares de hectares de florestas, a tundra siberiana, apesar da sua imensidão, perde espessura e começa a ter dificuldade para a tradicional criação de renas, lagos desaparecem como o Aral que passou de 65.000 km2 a menos de 3.000 por errado uso das águas que o alimentavam, o Ártico, dizem, vai ser destruído pelas perfurações do petróleo, etc., etc.
A única esperança que me resta, extremamente egoísta, é que eu já não devo assistir à derrocada final, mas a sensação de que falta pouco, muito pouco, é real.
Penso nas gerações abaixo, filhos a quem as seguranças sociais talvez já não tenham como pagar-lhes uma aposentadoria que não seja de miséria, e os netos que, quase de certeza assistirão ao desabar do mundo que viram ao nascer.
Previsão apocalítica? Talvez.
Veio agora o Stephen Hawking lançar uma esperança: os “buracos negros” podem ser passagens para outros universos. Que maravilha. Que esperança.
Mas a vida é tão curta e raros são os que “fazem acontecer”. A esmagadora maioria assiste, assiste, alguns lastimam-se, e nada mais faz do que “ver a banda passar”.
Felizes e heróis os que sabem aproveitar a vida, mesmo não tendo capacidades para alterar o curso do desastre, sorriem, ajudam os outros e curtem cada minuto que lhes foi dado para este “instantâneo” no planeta Terra.

27/08/2015

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Histórias da Nossa Terra (já disponível)


Como temos ao longo dos anos dedicado alguma atenção à história da nossa região, decidimos partilhar agora em livrinho algumas das reflexões escritas que fomos produzindo em tempos mais recentes. Um conjunto de textos que não pretende constituir mais do que um pequeno contributo para um maior conhecimento da nossa história local, a par de muitos outros que se têm vindo a desenvolver, e que nos tem permitido perceber que temos, realmente, entre mãos, um património cultural valioso que muito se tem tardado em reconhecer.


Ficha Técnica

Título:
Histórias da Nossa Terra

Autor:
Luís Carlos dos Santos

Imagem da Capa:
Luís da Cruz Guerreiro
El-Rei D. João I chega a Alhos Vedros em 1415
 (azulejaria artística)

Edições EuEdito
1ª Edição – Agosto/2015
© Luís Carlos dos Santos
Depósito Legal: 396209/15
Impressão Print On Demand Liberis
68 páginas

O Largo da Graça
(Palavras de tudo e coisa nenhuma)


Nota: Por agora, o Livro pode ser adquirido diretamente na editora (AQUI), ou através do autor (AQUI)


Luís Santos




terça-feira, 25 de agosto de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A Guiné-Bissau lá vai ficar mais uma vez sob a tutela dos militares. 
O novo Governo tomou posse e o Presidente da República apresentou o seu nível de rendimentos para sublinhar que não está ali para o enriquecimento no que, à partida, será sempre um bom sinal. 
Contudo, a diáspora dá sinais de alarme. 

Vamos ver. 


Mas a diplomacia portuguesa deveria preocupar-se mais com os destinos deste pequeno país do peito de África. 
O civilismo é ali incipiente e o estado dificilmente resistirá a um assalto de poderes pardos. Pode estar ali mais um país à mercê das redes terroristas ou do narco-tráfico. 


Esta é uma das frentes de batalha desta guerra que decorre e condiciona os nossos dias. E os nossos inimigos não estão a dormir. 



Até parece que o céu se apagou. 

O tecto nebuloso que provocou o forte efeito de estufa que nos carregou o fim-de-semana começa a desfazer-se neste cair da tarde. 

Cheira a terra molhada. 



O que não impede a Matilde de estar, a partir da varanda, à conversa sobre a escola, com um seu amiguinho que no passado mês de Agosto veio habitar um dos apartamentos da vizinhança. 
Acontece que a propósito deste relacionamento há uma pequena história que eu passo a contar. 

Esta minha filha terá sido a primeira criança com quem o João travou conhecimento nas imediações da sua nova morada. Agora já está integrado, pois várias são as vezes que o tenho visto a brincar com outros miúdos, mas foi a Matoldas que o apresentou à irmã e à Beatriz, bem como a alguns dos outros miúdos com quem ele agora se diverte. 
Nada de estranho se teria passado se a boa da Matilde não se tivesse apresentado como um rapazinho com o nome de André. 
“-Ó mãe, se eu tivesse dito que sou uma menina, se calhar ele não brincava comigo.” –Justificou-se, quando a mãe a interrogou sobre a razão de ser do engano. 
Passada uma semana, quando desfez a malandrice, o rapaz achou graça àquela troca de identidade e, desde então, têm permanecido bons amigos. 



Porque será? 
A comunicação social que tanto se afadiga em mal dizer o Benfica, denegrindo a instituição e os seus dirigentes e atletas e, a miúde, chegando à calúnia, vulgarmente se servindo de torpes pretextos e até das mais vis e cínicas mentiras, porque será que tanto eco proporciona a todo e qualquer indivíduo que se oponha ou concorra contra as direcções em cumprimento de mandato? 


É o pasquinismo que temos e que todos os instalados pretendem fazer passar por jornalismo. 


Pois o que vemos nesses afãs de escribas censurados, é muito simplesmente um dos resultados da cultura da inveja que tão perniciosa tem sido ao longo da nossa história. 

Mas disto falarei em outro dia. 



Agora quero registar a leitura que acabei durante a hora de ginástica da Matilde, uma vez que a Margarida deu um jeito ao pé direito e por isso ficou em casa. 
Trata-se do segundo volume de uma história literária mundial que, em minha opinião, cumpre o papel de um guia de consulta para quem procure iniciar-se nestas temáticas. (1) 

À parte disso e particularmente neste livro que toma a idade média como limites cronológicos, mais uma vez verificamos que esse período não foi um corte abrupto quer com a civilização, quer com os níveis de erudição anteriores; tal como sucedeu com a língua do império romano, o latim, o qual se foi transformando e evoluindo para as diferentes expressões autóctones dos vários territórios imperiais, também a cultura, em geral e especificamente a literária, terá passado por esse processo de continuidade tanto nos temas como nos modos de abordagem. (2) 

Texto que, pelo conteúdo, dificilmente deixaria de ser enriquecedor, está, no entanto, prejudicado por uma tradução que não me parece das melhores. 



Pois na sala da Matilde, tudo indica que a fase de adaptação continua. Persistem as pinturas e a Professora deixa que os meninos gozem de um segundo intervalo, ainda que pequeno. 
Mas hoje já fizeram jogos com números e foram chamados a desenharem formas geométricas no quadro. 

A Matilde disse que fez tudo bem. 



Estão a ver como já aparecem as vozes que neste quente Verão vêm a queda do Governo e a recuperação da oposição, especialmente os socialistas que tão abalados foram por casos de corrupção e do abuso e exploração sexual de menores em que se viram envolvidas algumas das suas figuras. 
Nas sondagens, voltaram a estar à frente dos partidos que actualmente estão no poder. 


Em Portugal, a democracia está por um fio. 



Um violento sismo fez tremer o Japão. Felizmente não há mortos a registar e os danos materiais não são elevados. 

É a resposta preventiva de um país habituado e que se esforçou por aprender com estes cataclismos naturais. 



E eu não resisto a terminar com uma pequena transcrição. 

Para rematar um artigo em que se defende a tese da máxima importância para a república do conhecimento e ensino da matemática, o articulista acaba com os dois períodos seguintes: 
“(…) E já viu a proporção de empregados do comércio que recorre ao calculador para somar 2€10 com 2€30? Sem matemática não há cidadão informado. Sem cidadãos informados não há república.” (3) 

Interessante, não é verdade? 



A suave frescura da noite. 
Se bem que os grilos nos falem do escuro, o ar tem o sabor húmido das chuvas que se adivinham. 


Alhos Vedros 
  29/09/2003 


NOTAS 

(1) Lañez, Eduardo, HISTÓRIA DA LITERATURA UNIVERSAL – A IDADE MÉDIA, VOL. II 
(2) Banniard, Michel, GÉNESE DA CULTURA NA EUROPA SÉCULOS V-VIII, 
(3) Salgado de Matos, Luís, A REPÚBLICA E A CIÊNCIA, p. 6 


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS 

Banniard, Michel, GÉNESE DA CULTURA NA EUROPA SÉCULOS V-VIII, Prefácio de Pierre Bonnassie, Tradução de Alice Nicolau, Terramar, Lisboa, 1995 
Lañez, Eduardo, HISTÓRIA DA LITERATURA UNIVERSAL – A IDADE MÉDIA, Vol. II, Tradução de Fernanda Soares, Círculo dos Leitores, Lisboa, 2002 
Salgado de Matos, Luís, A REPÚBLICA E A CIÊNCIA, In “Público”, nº. 4939, de 29/09/2003

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

REAL... IRREAL... SURREAL... (146)

A Bailarina em Cena, Degas, 1878
Pastel, 60x40 cm

UMA CONFISSÃO DE AMOR
Um momento de paz invade ao peito
Ao sentir fulgor distinto jamais vivido
arde as entranhas e a alma inquieta
Desperta para amar, e tudo é festa:
Dolentes nossos passos ao valsejar 
Olhos cerrados flutuando em nuvens
De sonhos entre sutis raros perfumes
Confessamos entre sussurros, amar
Vivemos então momento tão sagrado 
Nossos corações em preces entoavam
Juras de amor por toda eternidade
E nossas almas em magico sonho
Ao fim da musica foram acordadas

JAG Lemos - Copy - "Retalhos" 

domingo, 23 de agosto de 2015


MIRADOURO 28 / 2015

(esta rubrica não respeita as normas do acordo ortográfico)



Foto: José Manuel Castro Moura


OBSERVAÇÕES


Fim de tarde.
As cores minimizaram-se até quase se fundirem numa só onde a luz se vem banhar e reflectir-se em ilusões de pluralidade.
Com o movimento langoroso do mar que desfalece na areia, como num abraço sem estreitamento, há algo que bule em soletrar interno.
Algo que exacerba a individualidade plural que nos habita.
Algo que fala de adeus e de distância até se calar porque o caminho virou-se para dentro e deixou de ser físico o longe ou o perto.
Ali fica, brevemente, até refluir para voltar de novo, tornar a refluir e tornar a voltar, ininterruptamente, respondendo ao imperativo maior das marés ou ao mistério insondável do que não sabemos mas nos habita.

Manuel João Croca

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Presidenciais 2016


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Paulo Borges é professor do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Presidente da União Budista Portuguesa, da Associação Agostinho da Silva e vice-presidente da Casa da Cultura do Tibete. Co-director da Revista Nova Águia e presidente do Movimento Internacional Lusófono. Presidiu à Comissão das Comemorações do Centenário do Nascimento de Agostinho da Silva. Membro da Comissão Organizadora das visitas de S.S. o Dalai-Lama a Portugal em 2001 e 2007. Tradutor-intérprete dos seus ensinamentos na última visita e de vários livros budistas. Sócio-fundador e membro da Direcção do Instituto de Filosofia Luso- Brasileira. Membro correspondente da Academia Brasileira de Filosofia. Membro Fundador da APERel - Associação Portuguesa para o Estudo das Religiões. Membro do Conselho de Direcção da Revista Lusófona de Ciência das Religiões. Director da colecção Ecúmena, na Zéfiro. Autor de centenas de artigos publicados em Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha e Brasil, além das seguintes obras: Poesia - Trespasse (1985), Capital (1988), Ronda da Folia Adamantina (1992); Ensaio filosófico - A Plenificação da História em Padre António Vieira. Estudo sobre a ideia de Quinto Império na "Defesa perante o Tribunal do Santo Ofício" (1995), Do Finistérreo Pensar (2001), Pensamento Atlântico (2002), O Budismo e a Natureza da Mente (com Matthieu Ricard e Carlos João Correia, 2005), Agostinho da Silva. Uma Antologia (2006), Tempos de Ser Deus. A espiritualidade ecuménica de Agostinho da Silva (2006), O Buda e o Budismo no Ocidente e na Cultura Portuguesa (organizador, com Duarte Braga, 2007), "O Budismo, uma proximidade do Oriente: ecos, sintonias e permeabilidades no pensamento português", Revista Lusófona de Ciência das Religiões, Ano VI, nº 11 (2007) (organizador, com Duarte Braga), Princípio e Manifestação. Metafísica e Teologia da Origem em Teixeira de Pascoaes (2008), O Drama de Deus. Homogeneidade, Diferenciação e Reintegração em Sampaio Bruno (no prelo); Ficção - Línguas de Fogo. Paixão, Morte e Iluminação de Agostinho da Silva (2006); Teatro - Folia. Mistério de uma Noite de Pentecostes (2007).
Foi Presidente do partido de inspiração ambientalista,  Pessoas-Animais-Natureza (PAN) e por ele cabeça de lista por Lisboa às últimas eleições legislativas.


fontes várias: 

in Diálogos Lusófonos
( dialogoslusofonos@yahoogrupos.com.br )

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Presidenciais 2016


"Candidato-me a presidente da República porque é a Hora de assumir que desde sempre e cada vez mais existe Outro Portugal, que irrompe por entre as brechas do asfalto do Portugal institucional, como rebentos de ervas primaveris. Esse é o Portugal real e profundo, o Portugal da natureza, das pessoas e de todos os seres vivos, o Portugal das nossas vidas e dos nossos sonhos, o Portugal das alegrias simples e boas de viver, contemplar, criar e amar, o Portugal da dádiva e da partilha desinteressadas, o Portugal das amizades e dos afectos, o Portugal do haver tempo para tudo e da suprema vocação de “poeta à solta” de que falava Agostinho da Silva"

Paulo Borges, Declaração de Candidatura à Presidência da República Portuguesa

A candidatura-movimento Outro Portugal Existe defende trocarmos o mito destruidor do crescimento económico ilimitado pela realidade da vida boa sem pressas e com tempo para contemplar, criar e amar. Outro estilo de vida é preciso e esse é o desafio de uma política da consciência e do coração, da cultura e da civilização.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O FUTURO DO MUNDO É O AMOR


Querem conhecer Portugal? 
Madredeus é quanto basta. Está lá tudo o que nos distingue ou, se quisermos, caracteriza. O misto entre a permanência activa do passado no presente e a capacidade de antecipar futuros que se bem se enquadram, muito melhoram o tempo corrente. E não me estou a referir apenas aos aspectos musicais, propriamente ditos, em que são evidentes o fado e os ritmos antigos do nosso folclore. Estou antes a pensar no conjunto, nas letras e nas ambiências que as combinações dos sons e das palavras sugerem; aí residem o passado e o futuro e a nostalgia de um paradigma quimericamente perdido. É um canto, uma presença, de aqui e de toda a parte e a certeza que livres de constrangimentos e de artificiais proteccionismos que as clientelas servem, também os portugueses acrescentam o belo ao mundo, naturalmente, pelo que nada há de trágico nas misérias que vivemos na actualidade e só de nós depende o caminho do que melhor a vida possa ter para nos dar. 

Sim, nós somos do país dos Madredeus. 


E o concerto de ontem foi uma pura delícia. 

O futuro do mundo é o amor. 
Com o jogo de holofotes, atrás dos músicos, criando cenas de ténues luzes coloridas, onde suaves nuvens de fumo caleidoscopavam, como se estivéssemos no céu. 

Três violas e sintetizadores e uma voz solando, soprando como o vento de norte sempre nos trouxe o cheiro e a humidade do mar, para temperar o aquecimento da terra que só o suor faz ser amistosa. Asas cadenciadas, serenas, evoluindo num azul infinito. 


Belo serão que a família teve no Centro Cultural de Belém. 
A Margarida não gostou, como seria de esperar, sabendo nós que ela prefere o pop anglo-saxónico do momento, do género das Shakiras e das Britney Spears ou da Avril Lavigne e outros dos muitos estilos que perfazem as horas de muitas estações radiofónicas e televisivas. E não é de estranhar que lhes saiba dizer os nomes e que a sua colecção pessoal de cds esteja em conformidade. A Matilde acabou por adormecer, a meio da segunda parte; o cansaço não perdoa e ela veio da primeira semana completa de trabalho. Aparentemente gostou, uma vez que sempre esteve atenta e sossegada e, no fim de cada tema, aplaudia com entusiasmo. A Luísa, embora não aprecie muito o grupo, cuja música acha repetitiva, também saiu agradada. 

Eu estive numa das maravilhas da Humanidade. 



“-Era disto que andavas à procura?” –Sorrindo, com o seu ar brincalhão bem estampado na intencionalidade da interrogação, ao mesmo tempo que destacava, entre os dedos, o estojo de óculos que ontem à tarde procurei e, como é óbvio, não encontrei. E devolvendo o objecto ao sítio do repouso, em acto contínuo, acrescentou: “-Pois, mas agora é preciso aqui para umas coisas e tu já há muito tempo que não precisavas dela.” 
E lá foi a Matilde com o que eu tinha procurado na mão. 



Ainda se sentem as ondas de choque da palhaçada que foi o Porto Capital Cultural Europeia, em dois mil e um. 
A Casa da Música que deveria ter sido inaugurada com o início daquela oportunidade perdida continua em construção e, como se isto não fosse suficientemente vergonhoso, até já serviu de palco para guerrinhas de coutadas em que vimos a desfaçatez de implicados desde o início do projecto defenderem os seus vínculos, como se o que aconteceu tivesse sido apenas o ligeiro atraso na imaginação de um chafariz; aquele que deveria ter sido o principal legado para a cidade daquela organização, está na contingência de ser tapado, pelo lado mar, é claro, por um outro edifício para o Banco Português de Negócios. 
Tratam-se de projectos aprovados pelos presidentes anteriores, os Engenheiros Fernando Gomes e Nuno Cardoso e parece que a actual gestão camarária necessitará de uma verba a rondar os dez milhões de euros para evitar que tal aconteça. 

É este o tal passado activo que persiste e insiste em nos querer ver na valeta para melhor nos sugar o sangue e o tutano. 

E para a gente que assim decidiu, pelo que valem e merecem, tudo teria sido mais fácil e barato se tivessem ficado por uma estátua, para aí com uns cento e tal metros de altura, de Pinto da Costa no lugar dos leões da Boavista. 


Vamos a ver o que fica do circo quando a tenda for desmontada. 



Amina Laval, a tal nigeriana que há uns anos foi condenada à morte por um tribunal islâmico foi agora perdoada pelos juízes que analisaram o seu recurso, não porque tenham deixado de considerar crime o facto de ela ter sido mãe após o divórcio e sem estar casada com o pai da criança, antes fundamentando o perdão em erros processuais do género de não ter tido advogado de defesa e de ter sido julgada por apenas um e não três juízes como a lei determina. A sharia continua de pé, abatendo-se sobre a população civil de muitos estados da federação nigeriana. 

O que terão a dizer sobre isto os relativistas culturais? 



Por cá, este é o fim-de-semana do congresso do CDS que, naturalmente, consagrará a actual direcção e a sua política de aliança com o PSD de cujo governo aquele partido também faz parte. 



E a tarde serena, se bem que cheia de piares e chilreados, já não conta com o planar das andorinhas. 



Ontem foi a manifestação silenciosa contra o abuso e a exploração sexual de crianças, bem como contra a constelação de crimes que a isso andam associados. 
Só não fomos porque a fadiga semanal foi muita e o São Pedro dava ares de quem queria pingar o chão e como já tínhamos os bilhetes para o recital da noite, pareceu-nos preferível o recato do lar. 

Aquela foi uma marcha de consciências. 

O que serão todos aqueles que – para lá da família e não sendo os advogados das respectivas defesas e correspondentes e necessários stafes laborais – deem o mínimo contributo que seja para que os implicados naqueles males vivam sem punição e libertos para continuarem a praticar os actos hediondos? 


O futuro do mundo é o amor. 
O que não será possível se, entre outras coisas, continuarmos a violentar crianças desta maneira. 



Bem e hoje foi um Domingo de descanso. 

Agora as miúdas estão no parque infantil, com a mãe e, no que resta da tarde, eu vou aproveitar para acabar de ler a aventura dos primeiros homens na Lua. 
Saiu ontem o segundo volume. (1) 

Alhos Vedros 
  28/09/2003 


NOTA 

(1) Herge, EXPLORANDO A LUA 


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 

Herge, EXPLORANDO A LUA, Difusão Verbo/Público, Lisboa, 2003

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

REAL... IRREAL... SURREAL... (145)





Floresta Maravilhosa, Autor António Tapadinhas, 1996 
Acrílico sobre Tela, 50x70 cm 

Não sabia se estava a acordar para o sonho ou para a vida. Aquela escuridão das últimas longas horas (dias?) estava a transformar-se, lentamente, numa vereda de floresta com os tons laranja de um fogo distante que destruía o escuro e deixava adivinhar o caminho da luz. Penosamente, começou a mover-se na sua direcção. Na cabeça (ou na floresta?) ressoavam vozes que o chamavam no sentido oposto, com propósitos que não queria considerar. À medida que tomava consciência de que a luz estava cada vez mais próxima, os seus passos ganhavam maior vigor e sentia, melhor, sabia que o fim das suas provações era uma realidade. Esta certeza deixava-o com um sorriso de felicidade que queria conservar para o resto da sua vida… 

sábado, 15 de agosto de 2015

Etnografar a Arte de Rua (XII) Graffitar a Literatura



Graffiti fotografado por Luís Souta, 2015.
Largo da Lota, traseiras do mercado de Cascais


«As utopias são realizáveis.»
(Nicolas Berdiaeff, epígrafe do livro Admirável Mundo Novo)


A 2ª edição do “Muraliza - Festival de Arte Mural”, de Cascais, para além de 5 novos murais possibilitou a recuperação de 6 portas. Esta é uma delas, da autoria do português Belém. Um graffiti que nos reporta à afamada obra do inglês Aldous Huxley (1894-1963), Admirável Mundo Novo. Li este romance futurista (de 1931 que nos leva para uma época seiscentos anos à frente) numa tradução (documentada) do escritor e pintor surrealista Mário Henrique Leiria (1923-1980) que, na nota de abertura, reconhece a «complexa linguagem [shakespeariana] de Huxley». O autor deste graffiti optou pelo uso de extractos em inglês. Compreende-se. Numa vila virada para o turismo, o estrangeiro acaba por se tornar o destinatário privilegiado… também da arte de rua. E aqui até se pode argumentar com o recurso à fonte original.
Admirável Mundo Novo, apesar de ser uma obra de juventude e escrita em poucos meses, acabou por se tornar na mais marcante e conhecida de Huxley. Uma «sátira à sociedade industrializada» que reflecte os medos da biociência e da máquina colocadas ao serviço do autoritarismo de estado. Num prefácio à edição de 1946, Aldous Huxley escreveu: «Um estado totalitário verdadeiramente “eficiente” será aquele em que o todo-poderoso comité executivo dos chefes políticos e o seu exército de directores terá o controle de uma população de escravos que será inútil constranger, pois todos eles terão amor à sua servidão. Fazer que eles a amem, tal será a tarefa, atribuída nos estados totalitários de hoje aos ministérios da propaganda, aos redactores-chefes dos jornais e aos mestres-escolas.»
Lenina Crowe, Bernard Marx, Polly Trotsky são três personagens cujos nomes nos remetem para uma associação imediata a três personalidades históricas do marxismo-leninismo e da revolução soviética de 1917. O graffiti de Belém coloca Lenina (?) de canastra à cabeça e numa pequena embarcação, ambas pejadas de cápsulas, «o ‘soma’, a pílula da felicidade, a droga sedativa da civilização, a âncora a que todos se agarram quando querem esquecer os problemas» (como escreveu Raquel Ribeiro numa recensão no jornal Público). Huxley era um defensor do uso dos psicoativos (como o LSD) e redigiu, em 1954, um ensaio – The Doors of Perception – que exerceria certa influência sobre a cultura hippy e esteve, por exemplo, na origem do nome da banda The Doors, liderada por Jim Morisson.
Todas as obras de ficção (científica) antecipam de alguma forma o futuro. Mas essa previsão é sempre arriscada e falível, e como em todas as outras, também o Admirável Mundo Novo não conseguiu prever o que, no curto prazo (14 anos depois), haveria de mudar o rumo da guerra (e da vida): a cisão nuclear. Os efeitos nefastos das drogas só viriam a ser conhecidos, na sua profunda dimensão, bem mais tarde. O desejo, em particular dos jovens, de “quererem sentir algo de forte” acaba por os aprisionar na toxicodependência e disso se aproveita o poder do estado para anestesiar e alienar os verdadeiros “exércitos” capazes de o derrubar – a juventude. Ela é que mais questiona o status quo, social e político. Soubessem eles ter a coragem e ousadia do Selvagem, trazido do Novo México, de recusar esse (falso) admirável mundo novo…

Luís Souta

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Gualdim Pais e Convento de Cristo (Tomar)








Convento de Cristo
Fotos de Lucas Rosa


Nota: Na primeira foto, Gualdim Pais, o fundador de Tomar. As outras fotos são do Convento de Cristo, parte integrante do Castelo Templário de Tomar.