segunda-feira, 31 de outubro de 2016

REAL... IRREAL... SURREAL... (227)

Banho de Luz, Autor António Tapadinhas, 2007,
Acrílico sobre Tela, 80x60cm 

Creio
Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;
Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,
Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. amém.
Natália Correia

Selecção de António Tapadinhas


sexta-feira, 28 de outubro de 2016

O Livro do Tiago

Em meados de Novembro próximo sairá um livro que foi escrito com a intenção de recordar a pessoa que foi o Tiago Amorim “Cobra”.
Escrito pelo pai, Francisco, relata um pouco da vida do Tiago desde a sua infância, sempre mostrando a sua forte e alegre personalidade.
O livro, no formato 16 x 23 cm, terá cerca de 110 páginas, umas dezenas de fotografias coloridas, e além da história do Tiago, seus tropeços e acertos, seu carisma e simpatia, uma série de testemunhos de muitos dos amigos que ele foi criando através dos anos.
A capa é esta, com a magnífica fotografia do fotógrafo Felipe Hanover:
O livro pode ser encomendado desde já, pré venda, que muito ajudará ao investimento inicial, através do sistema Paypal, e será enviado logo que a gráfica o entregue.
Preço no Brasil: R$ 34,99, acrescido do custo do frete a ser calculado. O preço com frete, no Brasil, será de R$ 41,99. 
Pode comprar através do PayPal abrindo no Facebook Tiago Amorim “Cobra” – O Livro.
Pode também, no Facebook digitar somente fb.com/TiagoOLivro
Em Portugal os pedidos podem ser endereçados, por email a
no Reino Unido:

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Mavu-Lissa (Oxalá)





Kity Amaral

Esta divindade afro-brasileira tem música: clique em cima.


terça-feira, 25 de outubro de 2016

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

THE DOORS

“From Los Angeles, California. 
Ladies and gentlemen. 
The Doors!” 

Foi o serão de Sábado para os pais. 

Com trinta e tal anos de atraso vi um concerto que nunca esteve nas minhas espectativas. Depois da morte de Jim Morrison e de um álbum mal sucedido como trio, o “Mosquito”, a banda nunca mais se refez e, ao longo de todos estes anos, surgiram apenas gravações de concertos e reposições e um já antigo longa duração em que os vivos apareceram a musicar leituras de poemas do vocalista por ele próprio que tinham ficado gravadas desde os dias alucinantes de uma curta mas intensa carreira. No entanto, nada quanto a um qualquer reatamento e esta sempre foi uma daquelas paixões que eu jamais esperei escutar in loco. 

É verdade que restam apenas o guitarrista e o teclista. Jonh Densmore, o baterista, não aceitou regressar ao grupo. 
É um pouco como se Paul McCartney e Ringo Starr decidissem tocar novamente juntos e recuperassem o nome dos Beatles. Dificilmente diríamos estar em presença do velho conjunto, quando metade dos famous old fab entregou a alma ao Criador. Jonh Lennon e George Harrison já não podem estar presentes e só com boa vontade daríamos o nome do mito ao que os outros nos apresentassem. 
Do mesmo modo será um tanto ou quanto ousado chamar “The Door’s” ao duo de Ray Manzaneck com Robbie Krieger. Mas eles também tiveram o cuidado de acrescentar twenty first century ao nome. 
E foi isso que nós vimos. 

Mas eu gostei. 
Os músicos apresentaram-se sem complexos de assumirem o legado literário do líder morto e desfilaram duas horas e tal de bom rock’roll. 
Se bem que dentro do figurino das sonoridades que, avaliando pelos discos ao vivo, sempre fizeram em palco, não foi por isso que deixaram de conseguir apresentar um bom concerto. 
E o “Soul Kitchen” final, com as luzes acesas, foi uma boa maneira de nos mandarem para casa alegres e satisfeitos. 


Ora para mostrar o ecletismo familiar, esta tarde presenciámos um excelente concerto da “Camerata Musical do Barreiro” que, do século XVII à passada centúria, nos presenteou com um pouco da história da música de câmara que foi de Haendel a Astor Piazzola, passando por Bach, Vivaldi, o filho Johann Strauss e o concerto grosso de Telemann. 

O Maestro Lopes da Cruz foi sucinto e de uma clareza cativante nas explicações que deu, o que é uma boa forma de ganhar plateias menos conhecedoras destes géneros mais eruditos da música. 
Após o concerto, a Luísa deu-lhe pessoalmente os parabéns por isso. 
E acabou por conseguir pôr o público a trautear “La Donna Imóbile” com o que a orquestra se despediu sob grande ovação. 

A Margarida que à entrada fez caretas, acabou saindo encantada. 


É tão bom um lazer de coisas doces. 



Estou a ler Amartya Sen, coisa que continuarei a fazer nos próximos dias com a máxima atenção. 
Há muito que aprender com este sábio indiano. 



Portugal está definitivamente mergulhado nos tentáculos de polvos diversos e até concorrentes mas que, em conjunto, confluem para o triste resultado de um poder político subjugado aos seus interesses e uma sociedade manietada, a diversos níveis e com as vias cortadas para a melhoria da qualidade de vida das maiores malhas de população, precisamente as mais pobres e desprotegidas, perante as capacidades dos mais fortes lhes imporem as suas vontades e conveniências. 

Os sinais estão aí, são alarmantes e não deixam margem para dúvidas. 

A fiscalidade favorece quem não devia; os tribunais vergam-se à impunidade de alguns, ao mesmo tempo que se abatem sobre outros, exactamente da mesma forma que os deputados se deixam orientar por princípios e propósitos que nada têm a ver com o interesse público e o bem comum. 

O maior perigo que a democracia enfrenta não é a demagogia. 
Na verdade, esta será sempre uma tensão implícita à própria natureza daquela. Sujeitos a escrutínio, os homens que concorrem aos cargos políticos podem naturalmente ceder às tentações demagógicas. Mas aquela é uma forma de discurso ou de exercício do poder político e está obviamente sujeita à correcção eleitoral. 
A grande ameaça à democracia e, antes dela, ao seu suporte fundamental que é o estado de direito, vem das máfias, do crime organizado. A par do terrorismo internacional, é daquele mundo obscuro que vêm os maiores desafios à civilização democrática e com a globalização do capitalismo financeiro que é já uma realidade, torna-se fácil a mistura daqueles dinheiros e interesses obscuros com o universo dos negócios legais, com isso criando mecanismos de lavagem de dinheiros e actividades económicas paralelas e esconsas e, simultaneamente, abrindo margem de manobra para que tais grupos possam pressionar os centros de decisão política. 

É disto que estamos a falar quando apontamos os males que corroem a sociedade portuguesa e a impedem de se chegar aos parâmetros de desenvolvimento dos países mais ricos da União Europeia. 
É este o nosso problema. Em Portugal, como o testemunha o “Euro 2004”, desde que seja capaz de reunir força para tanto, qualquer grupo de pressão devidamente organizado consegue impor a sua vontade aos poderes em geral e ao político em particular. 


E depois já nem faz sentido falar de democracia entre nós. 
A nossa forma de regime é uma partidocracia que se ajusta que nem uma luva a uma sociedade oligárquica e clientelar. 


Aliás, só assim se entende que o nosso Presidente da República tenha ido a Argel e falasse da actual situação no Iraque segundo o ponto de vista dos que sempre se opuseram à guerra e veem os aliados como forças de ocupação. 

Entre nós, a pouca vergonha já não tem limites e a cobardia política proporciona-nos estes espectáculos deploráveis. 
Mas porque é que, atempadamente, o Senhor Presidente não promoveu um debate nacional sobre a nossa conexão com a guerra que deixasse claro, perante o governo, a posição dominante na sociedade portuguesa? 

E depois lá vem o líder dos socialistas ferrar naqueles que não se reveem nas palavras do Dr. Jorge Sampaio. 
Justamente no mesmo fim-de-semana que Francisco Assis acabou por reconhecer a concelhia rebelde de Felgueiras. 

Malhas e mistérios que o homo maniatábilis tece. 



Ontem foi a tarde de festa do aniversário da Matilde que decorreu em Sarilhos Pequenos, na “Gente Miúda”, uma quinta de um casal – o marido é do meu tempo de Liceu – que ali explora um ATL de Verão e festas infantis no resto do ano. 

A Margarida aí passou quinze dias nas últimas férias grandes e muito se divertiu com as actividades, no contexto das quais aprendeu a montar. 
E, de facto, a avaliação que fizemos é globalmente positiva; há segurança e um bom acompanhamento pedagógico e depois os miúdos têm um espaço de liberdade onde podem dar largas às suas fantasias e brincadeiras em contacto com a terra. 

Pois a escolha mais uma vez se revelou acertada. 

A dúzia de miúdos pularam e brincaram, houve um desafio de futebol no relvado e deram cenouras aos cavalos com o que todos foram para casa felizes. 

O pardalito estava radiante. 
E diga-se com justiça, merece esta festa. 



Agora que o fim da tarde ganhou o aspecto da noite e enquanto a Matilde brinca à minha frente, vamos esperar pelo jantar, para o que receberemos a visita do Zé e da Isabel. 

Assim me vou, por hoje. 


 Alhos Vedros 
   07/12/2003

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

REAL... IRREAL... SURREAL... (226)

Cristo, Artur Bual, 1994Óleo sobre Tela 73,5 x 50 cm

Ecce Homo
Desbaratamos deuses, procurando
Um que nos satisfaça ou justifique.
Desbaratamos esperança, imaginando
Uma causa maior que nos explique.

Pensando nos secamos e perdemos
Esta força selvagem e secreta,
Esta semente agreste que trazemos
E gera heróis e homens e poetas.

Pois deuses somos nós. Deuses do fogo
Malhando-nos a carne, até que em brasa
Nossos sexos furiosos se confundam,

Nossos corpos pensantes se entrelacem
E sangue, raiva, desespero ou asa,
Os filhos que tivermos forem nossos.

Ary dos Santos, in 'Liturgia do Sangue' 

Selecção de António Tapadinhas

sábado, 22 de outubro de 2016

Versículos


Lucas Rosa

(São Jorge)
Rara a santidade
Quase sempre um título póstumo
Mas há que não desistir.

(Manifestação)
No fundo egoísta mais recôndito
de si mesmo,
eis o que mais interessa.
Todos.
Tudo.

(Aniversário)
A Beleza
é uma responsabilidade,
as coisas bonitas
mudam com a idade.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Poemas com Jazz


DRAMA TROPICAL

A voz do vulcão que declamava
Á boca de cena da ilha.
Ali, a praia escutava sinfonias de araras e fagotes,
E eu, humano de todos os fracassos e vitórias,
Sentado na plateia de bilhete na mão bebendo água de côco.

Um papagaio gritava para que o mundo não parasse de girar
Ou melhor, que nunca parasse de girar, 
Que o infinito fosse o culminar de todo o talento artístico natural,
Para lá ainda de um outro infinito na apoteose prefeita de tudo o que nasce e morre.

E eu, sentado de chapéu na cabeça e camisa havaiana colada ao corpo,
Eu, suado pelo calor tropical da consciência humana,
Eu, de óculos escuros lúcido e cego ao mesmo tempo
Daquilo que olhava e não via,
Daquilo que ouvia e não escutava,
E que era nem mais o drama exótico de toda a minha alegria.

Um camaleão entra em cena,
Mudou de cor, que bonito
Mudou as cores do céu na noite e a peça decorre,
Eu que chorava e ria, descruzo agora perna tombando pelo sono
Naquele espectáculo em que o mundo e os homens se unem  
Estando tão longe de terminar.


Nota Importante: Se clicar em cima do nome do autor tem direito a música!


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Loendro



Especialmente quando florido, é um dos arbustos mais bonitos que vemos espontaneamente no nosso País. A toponímia regista, entre outros nomes, “Alandroal”, vila alentejana onde o loendro, ou “aloendro” viceja nas margens do Guadiana e seus afluentes. Em Vouzela organizam-se excursões para visitar a Reserva Botânica do Cambarinho, logo que a mata de loendros está em flor (maio a outubro). E que lindas que ficam as vias de grande circulação quando ostentam, quer nas bermas, quer nos separadores centrais, as flores róseas, vermelhas, ou brancas, desta planta arbustiva. Daqui se pode, desde já, concluir que o loendro é benfazejo para a nossa saúde. Porquê? Porque nos deixa bem-dispostos e otimistas perante a sua beleza. Mas cuidado! O loendro é uma das plantas mais venenosas que temos em Portugal. Se ingerirmos folhas, flores, caules, ou raízes (a parte mais tóxica), podemos encontrar a morte. Portanto, apreciem-lhe a beleza mas não lhe toquem, pois até o fumo provocado pela sua queima, causa intoxicações.

O Nerium oleander L.  é arbusto que cresce nas ravinas, margens dos rios e leitos secos dos cursos de água. Trata-se de uma espécie da família das Apocináceae, muito resistente à seca, poluição atmosférica e salinidade, mas necessitando de muita luz. Nativa da Europa Meridional, Norte de África e Ásia Menor, espalhou-se por toda as regiões temperadas e subtropicais do planeta.

De aparência robusta e copa arredondada, pode atingir cinco metros de altura. As folhas são persistentes, coriáceas, opostas e lanceoladas, de cor verde escura, tendo de 10 a 20 cm de comprimento. As flores, singelas ou dobradas, ficam abertas todo o verão, formando grandes ramalhetes nas pontas dos ramos. Os frutos são cilíndricos e compridos (de 5 a 23 cm) e as sementes estão providas de pêlos em penacho. Toda a planta exsuda uma seiva leitosa.

 É decididamente um dos arbustos ornamentais mais utilizados, quer pela formosura e durabilidade das suas flores, quer por não exigir grandes cuidados de manutenção.

O loendro, ou cevadilha, como também se denomina, é todo ele venenoso, devido principalmente a duas substâncias tóxicas que contém: a oleandrina e a neriantina. A oleandrina é um potente cardiotónico e constitui, como os glicósidos da dedaleira, matéria-prima para extrair princípios ativos que integram os medicamentos destinados a cardíacos. Naturalmente que isto só se processa em doses mínimas e de forma laboratorial.

No “Herbal Food and Medicines in Sri Lanka”, do Dr. Seela Fernando, curiosa obra que adquiri quando visitei aquele país da “Taprobana”, há uma página inteira referente ao “oleander”. Apontam-se as suas virtudes curativas, em uso externo, principalmente para reduzir inchaços e inflamações e eliminar parasitas. Contudo, o maior relevo é dado à toxicidade, a qual permanece, mesmo quando a planta está seca. Em sânscrito, o loendro denomina-se “ashvamaraka” que, significativamente, quer dizer: “mata cavalos”.

Alertando para as precauções que devem ser tomadas quando se manuseiam plantas venenosas, transmito, com a devida vénia, duas receitas de uso externo incluídas na “Enciclopédia de Educação e Saúde - A Saúde pelas Plantas Medicinais” de Jorge Pamplona Roger:
Pomada contra a sarna: Prepara-se uma pomada com 250 g de manteiga sem sal, ou outro veículo gordo, e 150 g das flores de loendro, que se devem deixar macerar durante 6 horas.
Cataplasmas de flores aplicadas sobre a zona da pele afetada.
Por sua vez, o Dr. Oliveira Feijão recomenda o infuso das folhas (30 g num litro de água) para lavagens nos casos de herpes, acne, pruridos e outras doenças dérmicas.

 Miguel Boieiro

terça-feira, 18 de outubro de 2016

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

As minhas filhas são crianças engraçadas. 
Saudáveis, devo dizê-lo e não me refiro apenas ao corpo físico. De espírito alegre e humoroso, tanto uma como a outra dá gosto vê-las brincar, individualmente ou em conjunto, quer fantasiando situações em que se transmutam em papéis tão variados como as clientes e as empregadas de uma farmácia ou os alunos e as professoras de uma escola, quer fazendo uso dos brinquedos que múltiplos e diversificados são. Mas não é por isso que deixam de ter outros interesses e nestes últimos dias tem sido habitual ver a Margarida retirada a escrever histórias e a Matilde, esticada no chão da sala, a colorir imagens. 

Ontem, à hora do almoço, a minha filha mais velha anunciou-me que iria dar aulas de apoio de Matemática aos meninos do terceiro ano que têm mais dificuldades e ao fim da tarde, quando as levei para a ginástica, escutei a sua conversa com a Beatriz em que me apercebi que várias das colegas de sala desta amiga se tinham inscrito para receberem aquele auxílio, a decorrer todas as sextas-feiras na sala da biblioteca da escola. 
Hoje, quando cheguei a casa para almoçar, dei com o piolhinho a preparar nada mais nada menos que, segundo as suas palavras, as planificações e as fichas para o apoio. 

O pai riu, mas não foi só por achar graça; foi também pela alegria que lhe estalou no peito. 



E mais uma vez, neste sórdido caso da Casa Pia, o recurso para o Tribunal Constitucional vem dar razão aos arguidos. 

É com a maior curiosidade que espero o recurso que para lá seguirá sobre o impedimento da instrução. 

Neste reino do homo maniatábilis, até parece que há sempre alguém – aconteceu no Tribunal da Relação – capaz de abrir envelopes lacrados para mostrar segredos de justiça aos interessados, da mesma maneira que parece haverem sentenças a contento. 


Portugal não é um país normal, é uma coutada de todos aqueles que têm poder suficiente para fazerem valer os seus interesses. 



E na Rússia, mais um atentado suicida causou quarenta mortos, em Moscovo. 
A imprensa fala dos tchetchenos que há muitos anos travam uma verdadeira guerra pela independência. 
Não sei se a posição intolerante e belicista que o governo de Putin tem face aos secessionistas, ao mesmo tempo que revela uma indulgência infantil perante a constelação da Al-Qaeda, não terá como resultado o casamento da ideologia integrista desta rede de terror com o discurso pró-independentista de uma população que chora os seus mortos e as cidades bombardeadas. 


Esta é a época dos homens de poder com asa partida. 


Se nas próximas presidenciais nos Estados Unidos for eleito outro presidente, então haverá um novo onze de Setembro. Só que desta vez será mais medonho que o primeiro acto desta tragédia. 



Hoje os alunos continuaram os exercícios com os números e as palavras dadas. No trabalho de casa já realizaram contas de somar. 

Mas também tiveram a sua hora quinzenal de moral e religião. Estiveram a ver um filme do Pedrito, um coelhinho que a Matilde já conhecia. Depois falaram do que deve ser um bom comportamento por parte dos meninos. 



Esta tarde os céus denotavam a cor do frio quando se instala num dado lugar. 


Amanhã a Matilde terá a sua festa de anos. 
Depois conto. 


 Alhos Vedros 
   05/12/2003

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

REAL... IRREAL... SURREAL... (225)

Os Grandes Amigos, Georg Baselitz, 1965
Óleo sobre Tela, 250 x 300 cm

Amigo

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».

«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!

«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca' 

sábado, 15 de outubro de 2016

As Últimas Cartas do Agostinho...


(Comunicação feita no Colóquio “A Literatura de Agostinho da Silva, No Centro Cultural e de Acção Social Raio de Luz, Sampaio, Sesimbra, 15/10/2016)


Luís Santos

O título desta comunicação “As Últimas Cartas do Agostinho…” refere-se a um livrinho por mim organizado e editado no Círculo de Animação Cultural de Alhos Vedros, em outubro de 1995, do qual foram feitos 50 exemplares, e que se constitui por um conjunto de 12 cartas enviadas por mão de Agostinho da Silva a um grupo de amigos com quem estava em contacto mais próximo, ou que se candidataram a destinatários de tão digníssima epístola.

O repto é endereçado pelo Professor em Carta subscrita na Lua Cheia de janeiro, 8/1/1993, onde diz: “Queridos Amigos, O imaginário Convento Sonho duns Irmãos Servidores me encarrega de vos comunicar que acaba de tomar posse de tudo quanto há  e me designa como seu agente junto de vós para tudo que se refira a estas folhinhas dactilografadas, que serão sempre mensagem do Convento, assinadas ou não (…) São enviadas a tôdas as pessoas que já declararam por palavras ou feitos que desejam recebê-las ou o declarem daqui por diante.”

A primeira carta do conjunto que constitui a brochura, foi enviada no mês de dezembro de 1992 e a última em Setembro de 1993, o que significa dizer que este conjunto de cartas foi expedido, praticamente, ao logo do último ano de vida do Professor, pois que em meados de outubro, mês seguinte ao da última destas cartas, a súbita degradação física que o acometeu haveria de o guindar ao seu falecimento que, como sabemos, ocorreu no dia 3 de Abril de 1994, um triste mas revelador Domingo de Páscoa, dia de ressurreição. 

Fulcral é a primeira destas 12 cartas e, logo aí, se diz claramente ao que se vem. Fixemo-nos nas palavras de Agostinho:
“Resumo da ideologia do Povo Português nos séculos XIII e XIV, transmitida ao Brasil por seus adeptos que ali se foram acolher, passada ao futuro e, por ele, à criativa Eternidade para os que emigrem para o mais íntimo de si próprios e aí se firmem para sempre.
Missão de Portugal: Sacralizar o Universo, tornando Divina a Vida e Deus real.
Meios: Desenvolvimento dos Povos pela inteira aplicação da Ciência e da Técnica, inclusive nos sectores da Economia, da Política, da Administração Pública e da Filosofia. Conversão da pessoa à adoração da Vida.
Características do que houver no Sagrado: Criança como a melhor manifestação da poesia pura e como inspiradora e suporte, e incitadora a ser criança de todos os que existam. O gratuito da vida. A plena liberdade de todo o ser.”

Eis uma síntese perfeita do período da história portuguesa que Agostinha da Silva mais admira, e a que no dizer das suas ideias sempre regressa, resumo da ideologia que, então, orientava o país, com epicentro no reinado de D. Dinis (“o plantador das naus a haver”, no dizer de Fernando Pessoa). Agostinho complementaria assim: “Acho a época de D. Dinis perfeita (…) A Rainha Santa e o rei-poeta. Calcule, o casamento de um poeta e de uma santa, que coisa extraordinária! D. Dinis com os Estudos Gerais. Depois é que transformaram aquilo em universidade, que veio a dar no que deu. Estudos Gerais, estudo geral para toda a gente e geral para todos os estudos, que outra coisa quereríamos para Portugal senão isso? Toda a educação portuguesa devia ser essa. Voltar aos Estudos Gerais e ao D. Dinis.” 

Então, seguindo o nosso autor, haverá que disciplinar o processo de produção e de distribuição dos bens, de forma a chegar-se a uma economia comunitária que se inspire naquela que existiu, para construir uma economia mais humana, pois é esse o exemplo que nos dá a organização económica medieval em Portugal. O que a Europa trouxe para Portugal foi uma economia capitalista, uma economia de luta. Ora, muito melhor é uma economia de convivência e de cooperação comunitária, de autonomia municipalista, com uma distribuição mais equilibrada das riquezas, como era a que caracterizava a economia portuguesa da Idade Média, antes desta importação europeia. Tipo de economia que foi liquidada por essa outra importada.

Neste sentido, relembre-se, a importância que tem, para si, o culto popular do Espírito Santo que ganha uma dimensão fundamental em Portugal neste período, com o ativismo espiritual da Rainha Isabel de Aragão. Culto Popular do Espírito Santo, ou Culto do Divino, que chega a Agostinho da Silva pela influência direta de Jaime Cortesão, e também de António Quadros, embora na forma de um reencontro, pois que, como nos diz, não exclui a hipótese de que ele próprio tenha “andado no tal século XIII envolto com os outros na Festa do dia de Pentecostes em que sonhava o povo português sentir-se já num Paraíso a vir…”.

Eis os três pontos essenciais da festa do Espírito Santo:
1. A coroação de um menino como imperador do mundo. A representação na Terra do Espírito Santo é a imaginação da criança. Ou, como diz Agostinho, também pode ser, inspirando-nos no presépio de Francisco de Assis, o menino representando o renascimento de Cristo: “é como se fosse Cristo renascendo.”
2. Através da imaginação da criança se chegará à libertação dos presos e ao fim de todas as prisões, internas e externas. Ou seja, à consagração do grande ideal de liberdade e de libertação espiritual que Agostinho sempre releva.
3. O banquete gratuito, como representação simbólica de uma livre repartição de recursos alimentares entre todos, de modo a que ninguém falte que comer.

No dizer do Professor, “É como se os portugueses tivessem dentro deles sem se expressar, inconscientemente, já essa ideia fundamental de ter que se caminhar para o futuro, mas para um futuro que era ao mesmo tempo do passado, porque, se o espírito santo que viria a reinar numa terceira Idade era coetânea do Pai e do Filho, logo pertencia a um passado de toda a Eternidade. (…) ou seja, uma festa em que os portugueses declaram como vai ser o tal mundo do Espírito Santo.”

E seguindo a carta de Lua Cheia de 8 de Março de 1993, “Pôsto isto assim, e acreditando num universo sacralizável ou de que se descobriria o Sagrado, na possibilidade de uma vida gratuita, numa defesa e desenvolvimento contínuos do Poeta que nasce em cada Criança e numa desejável inteira liberdade de cada ser, o melhor é não o andarmos pregando, mas o pormos em prática.”

Continuando em carta no Crescente de Abril “como os da Festa foram todos expulsos, para a Guiné ou para o Brasil, aí pelos séculos XV e XVI, pensámos que já era tempo de regresso (…) Nada será de uma dia para o outro, mas iremos à nossa tarefa com toda a calma, experimentando, poucos como somos, tornarmo-nos um tanto contagiosos e reaver o tesouro que se perdeu, mas de que ainda há lembrança nos Açores e muita prática no Brasil (…) Porque afinal tudo isto é só uma tentativa de alicerce de império: Império de Servir.”

E por se falar em “Império de Servir”, sobre as ideias quinto-imperiais, relembremos que Agostinho da Silva vê uma perfeita linha de continuidade entre a cultura medieval portuguesa, Camões, Vieira e Pessoa, seja no “culto do espírito santo”, na “ilha dos amores” ou “5º império”, embora pesem os diferentes tempos em que existiram e a inevitabilidade de se relacionarem com as ideias de seu respetivo tempo. Afinal, em suma, dizer que Camões, Vieira e Pessoa são heterónimos do desejo de que haja no Mundo alguma coisa que seja a realização plena do homem.

Assim, o Império enaltecido na “Ilha dos Amores” dos Lusíadas, preconizado por Vieira e por Pessoa, será um império verdadeiramente “católico”, quer dizer, de acordo com a etimologia da palavra, universal, e caracteriza-se pelo advento da Idade do Espírito Santo, o consolador da esperança humana, tal como profetizara o evangelista S. João e idealizou o abade italiano Joaquim di Fiore.

Este Deus consolador que se refere é aquele que Cristo revela, a quem Agostinho reza na igreja, mas que não é o Deus das igrejas, antes o Deus que as une a todas e paira acima de todas. É um Deus que podemos chegar se atingida a verdade. Um Deus íntegro, total, paradoxal, tudo e nada, imanência e transcendência, que junta tempo e eternidade, sem separação de bem e de mal, de homens e animais, de tudo o que existe. Um Deus que é, antes de mais, inefável, e é silêncio, onde ciência e filosofia, “saudades disfarçadas em raciocínio”, devem ajudar a atingir, mas não podem definir.

Às influências de Jaime Cortesão e de António Quadros, sobretudo do primeiro, seu sogro, com quem conviveu e trabalhou no Brasil, deve juntar-se a ideia de “luso-tropicalismo” do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre que nesse país fez escola, base da ideia que expressa na carta de Lua Nova (face virada ao sol), Abril de 93, sobre “o empreendimento em que pensa o Brasil duma Comunidade de Povos de Língua Portuguesa, e seus crioulos, filhos, por seu turno, do crioulo que o Português foi do latim, tudo afinal neto do mais vasto Indo-Europeu.” O Brasil torna-se em Agostinho, o contemporâneo parceiro ecuménico por excelência daquele Portugal medieval que proclamava o reino do Paráclito, pois que à comunidade luso-brasileira deverá caber a missão de condução desse projeto ecuménico ao mundo. Como sabemos, Agostinho da Silva é um dos percursores da conceção de um Projeto Lusófono que junte países e comunidades, ideia que acabou por se materializar em 1996, com a criação da “CPLP” (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).

E continuando ainda com o que nesta carta se diz: “O que vai haver, sem velas, excepto as desportivas, mas por aeroportos e por Faxes, é a integração dum pensamento como o de Lao-tsu, se dele é, (…) que os há em todas as religiões e filosofias (…) reinado da criança e sacralização dos animais e de tudo o resto. O que temos de ter connosco é um sentido de ordem não opressiva que impeça o caos e ondas de imaginação a saudar o que ainda não veio, com uma China cada vez mais para o concreto, um Brasil todo virado ao sonho, e, no meio, uma África que nos ensine a todos, já que índio enfraqueceu por tanto século de luta.” E aqui, como se refere Lao-tsu também se poderia referir as ideias de Buda, particularmente, do budismo zen, espiritualidade que Agostinho também enalteceu. Como sabemos o próprio Agostinho visitou o Japão em 1963 e aí conviveu entre faculdades, templos e monges budistas, e disso nos deixou testemunho.

E para terminar, na última carta “de Setembro de Lua Cheia e de 93”, e sendo que o forte “avc” de 17 de Outubro já se avizinhava, Agostinho deixa-nos três princípios pessoais orientadores de vida: “o de se ver livre do supérfluo, o de não confundir o verbo amar com o verbo ter, o de prestar voto de obediência ao que for servir, não mandar (…) Para tudo o que fordes e fizeres rogarei perfeito empenho e boa sorte, bom vento de navegar.”

Obrigado.


Referências Bibliográficas:

SANTOS, Luís Carlos dos (org.) (1995) As Últimas Cartas do Agostinho… Edição do Círculo de Animação Cultural de Alhos Vedros.


Idem (2016) Agostinho da Silva: Filosofia e Espiritualidade, Educação e Pedagogia (td). Vila Nova de Gaia: Euedito.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Incursões dentro de uma cabeça cansada


por Francisco Gomes Amorim

Catolicismo, de católico, do grego Katholikós, geral, universal. Até aqui todos sabemos.
Ser católico não necessita obedecer à hierarquia de Roma, nem tão pouco ser cristão.
Basta sentir e viver a universalidade do ser humano, de respeitar e tratar TODOS como irmãos, deixando que cada um faça as suas orações e ou meditações como, quando e a quem entender.
Sempre respeitando a liberdade de qualquer Outro, e sempre o considerando irmão.
E assim católico, recorrendo ao valor etimológico da palavra poderá ser qualquer um desde cristão a animista, judeu ou muçulmano, quando põe os valores universais acima dos seus.
Mas, desde os tempos atrás dos tempos, há uma pergunta que não cala, nem responde, perturba muito, até os que se dizem ateus ou mais dissimulados os agnósticos que preferem não pensar e simplesmente dizerem que “nada sabem”:
Deus será um Ser? Que Ser? Só uma Força? De onde vem essa Força?
Deus será bom? Será um Deus da guerra que só protege os hebreus? Será como Alá que o Profeta decidiu interpretar e à sombra do Qual se mata o, para eles, não crente? Crente em que? Em quem?
Ou será a filosofia chinesa e hindu, o Tudo e o Nada, para que cada homem se liberte e se encontre dentro de si mesmo?
Deus é  a natureza, Tudo e Nada! Tudo e todos.
O que não é, quase de certeza, porque certezas neste campo não existem, é a imagem daquele velhinho, ar bondoso, barbas brancas, pendurado numa moldura, para onde se olha quando se lhe quer pedir algo!
Pedir? Rezar?
As perguntas avolumam-se. O que é rezar? Recitar palavras impressas e difundidas desde há milhares de anos por milhões de pessoas e que se repetem, muitas vezes por obrigação?
Pedir a Santo António que lhe encontre um par? É bonito ter fé, mas há preces que são autênticas vigarices, como por exemplo quando alguém quer “negociar” um favor divino e em muitos casos ainda lhe pedem para pagar por isso!
Rezar é falar para dentro de si mesmo, ou quando a Fé é muito grande, como uma velhota angolana que eu vi, há muitos anos, em Luanda, na Igreja da Nazaré, a discutir em voz alta com a imagem da Virgem, porque ela já ali tinha ido rezar uma porção de vezes, pedindo auxílio já não sei para que, mas a ajuda não acontecia. E a boa velhota discutia, em voz alta, com a Virgem como discutiria com qualquer outra pessoa. Maior fé é difícil, e não deixou de me impressionar. Gostaria de ter tamanha fé.
Em que?
Quando, em prece nos dirigimos ao “Senhor”, teremos consciência do que estamos a fazer, ou somente a pedir? Pedir que nos faça melhores pessoas para logo em seguida continuarmos a ser os mesmos, como é habitual fazer-se na passagem do ano quando se “juram promessas” de nos redimirmos?
Criar a ilusão de que não vamos mais nos interessar pelos dispensáveis “bens” terrestres, quando continuamos a querer um carro melhor ou mais um dinheirinho para compras de coisas que não nos fazem falta?
Ou para tentar imobilizar o nosso Ego, dedicar todo o nosso tempo disponível a “Não-Agir”, meditar e darmo-nos aos Outros?
Como pode alguém encontrar-se dentro de si mesmo, pelo Não-Agir? Para nos darmos aos outros temos que Agir! Daqui o Tudo e Nada, inseparáveis
Como pode alguém ausentar-se do mundo, para, com muito egoísmo, se dedicar à procura do Nirvana individual? Mais uma vez a sublimação do nosso Eu é derrotar o egoísmo.
Como pode ausentar-se e afastar-se daqueles que, cada dia mais, precisam de quem lhes dê a mão?
Não-agindo na matéria, derrotar o egoísmo e encontrar dentro de si a paz absoluta, só quando se entrega inteiramente aos que o rodeiam.
Jesus veio.  Para servir e não para trazer dar proveitos e privilégios a quem quer que seja.
Veio e, em oposição à antiga lei onde o ser “bom” era não fazer aos outros o que não gostaria que lhe fizessem, deixou a Nova Lei, a Boa Nova: FAZ, age, ajuda o teu irmão, começa pelos mais necessitados, sê caritativo, o que não significa dar esmola e virar costas, mas DAR-SE sem exigir nada em troca.
A cabeça fica meia tonta com tanto pensar em todas estas coisas que no fundo se resumem a uma só: cuida do teu irmão! E do meio ambiente. Sem este, são, tudo estará perdido.
Para os que invejam, cobiçam e lutam pelas “preciosidades” vãs e terrenas, os Ego-istas, deviam ouvir mais vezes Carmina Burana, uma série de poemas medievais (sec. XI - XII) musicados magistralmente por Carl Orff. Além de ouvirem a música tentar assimilar bem a sua letra, sobretudo o poema de abertura e final:
Oh! Fortuna!
És como a lua, mutável, sempre aumentas ou diminuis;
A detestável vida, ora oprime e ora cura para brincar com a mente;
Miséria, poder, ela os funde como gelo.
Sorte imensa e vazia, tu, roda volúvel és má,
Vã é a felicidade sempre dissolúvel, nebulosa e velada também a mim contagias;
Agora por brincadeira o dorso nu entrego à tua perversidade.
A sorte na saúde e virtude agora me é contrária.
Dá e tira mantendo-me sempre escravizado;
Nesta hora, sem demora tange a corda vibrante; porque a sorte abate o forte, chorai todos comigo!
Eu lastimo pelas feridas da fortuna, choro as feridas infligidas pela fortuna com olhos lacrimejantes,
Pois seu tributo de mim cobra agressivamente;
Na verdade, está escrito que a cabeça coberta de cabelos
A maior parte das vezes revela-se, quando a ocasião se apresenta calva.
No trono da fortuna eu sentara, elevado, coroado com as flores multicoloridas da prosperidade;
Apesar de ter florescido feliz e abençoado, agora do alto eu caio privado de glória.
A roda da fortuna gira; eu desço, diminuído; outro é levado ao alto;
Lá no topo senta-se o rei no ápice? Que ele tema a ruína!
A roda da fortuna, no codex dos Carmina Burana.
Mas se procuram a Verdade, a humildade e a caridade podem cantar com alegria o Aleluia de Handel:
O reino deste mundo já passou a ser de nosso Senhor, do Cristo.
Ele Reinará para sempre;
Rei dos Reis (Para sempre e sempre, aleluia, aleluia) 
E grande Senhor (Para sempre e sempre)
Aleluia, Aleluia

12/10/2016
http://fgamorim.blogspot.pt/

quarta-feira, 12 de outubro de 2016


GRITO
(Pedro Du Bois, inédito)

O grito sinaliza a discórdia
            na alegria exacerbada

            mania trazida de casa
            no gesto adquirido
            pela rua

a névoa encobre o corpo
e abafa o grito

                  o grito silencia.

SHOUT
(Marina Du Bois, English version)

The shout signals the discord
                 in heightened joy

                 an habit brought from home
                 in the acquired gesture
                 on the street

the mist covers up the body
and muffles the cry

                        the cry mutes.
 

terça-feira, 11 de outubro de 2016

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

PARABÉNS MEUS AMORES

Parabéns pardalito! 
Parabéns mãe! 

O acordar doce de uma manhã que há sete anos atrás começou com os prenúncios do que veio a acontecer pelo cair da noite. 
“-É a Matilde!” –Exclamei, então, quando aquele corpinho esperneante, desembaraçado daquela baba que o envolvia, se deu a conhecer ao pai que quase explodiu de alegria. 

E hoje a minha felicidade ainda é maior ao receber um beijinho do meu pardalinho à saída da escola. 
É a vida que se cumpre. 
É o encanto de ver os meninos sorridentes e amistosos dizerem adeus à minha querida mais nova. 
É a harmonia sentida no peito, nós a deixarmo-nos tocar pelo afago de Deus a quem agradecemos, muito agradecemos todas estas delícias. 



“-Ó pai, hoje aprendemos o número quatro.” 
Mas os exercícios do dia foram a respeito deste número e do anterior. 



Jornada atarantada que após o jantar teve o corrupio dos telefonemas e das visitas. 

Dia de aniversário 
é noite sem diário. 


 Alhos Vedros 
   04/12/2003