quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Pitágoras, a sua Escola e os "Versos de Oiro"


por José Flórido
1/4/2017

 "Tal como o íman atrai o ferro, também os nossos pensamentos e os nossos atos atraem a resposta divina" (Pitágoras)

     Pitágoras nasceu na ilha jónica de Samos, por volta de 570 a. C. , tendo fundado em Croton, na Itália meridional, uma escola célebre, de carácter filosófico, religioso e político, onde floresceram as Ciências Matemáticas, a Música e a Astrologia, mas a disciplina do silêncio, o ascetismo, assim como a meditação e a contemplação, também faziam parte integrante do seu método de ensino.

    Diz-se que esteve no Egito e na Babilónia, onde adquiriu muito do seu saber. No Egito, estudou profundamente as Matemáticas sagradas, a ciência dos números ou dos princípios universais, que lhe permitiram compreender a involução do espírito na matéria e a sua evolução para a Unidade. As doutrinas dos outros filósofos, como Tales e Anaxandro, pareceram a Pitágoras contraditórias, levando-o, por isso, a procurar a síntese e a unidade. Considerou a existência de uma Lei Ternária, que rege a constituição do Cosmos, e de uma Lei Septenária, que preside ao seu desenvolvimento (e que se pode expressar através das sete notas musicais).

   O objetivo da escola de Pitágoras não era propriamente ensinar a Ciência esotérica a um círculo de discípulos escolhidos, mas, principalmente, aplicá-la à educação da juventude e à vida do Estado. Nesta escola, só aqueles que eram designados Mestres podiam ensinar as Ciências físicas, psíquicas e religiosas, sendo os jovens admitidos às lições dos Mestres e aos diversos graus de Iniciação, de acordo com a sua inteligência e boa vontade. Mas a aceitação dos noviços era difícil, porque Pitágoras impunha muitas restrições à sua entrada, dizendo que nem toda a madeira servia para fabricar a estátua de um deus. Porém, uma vez admitido, o noviço era convidado pelos outros jovens a participar nas conversas, onde acabava sempre por revelar o seu caráter e a sua verdadeira natureza. Pitágoras observava-o então de modo indireto. Estudava os seus gestos e as suas palavras, dando especial importância à sua maneira de rir, porque considerava o riso a revelação mais profunda da alma. O discípulo tinha então de se submeter a duras provas para se decidir da sua continuidade na escola. Uma dessas provas consistia em passar uma noite absolumente só numa caverna, onde se dizia que surgiam aparições aterradoras. Aqueles que não tinham coragem para suportar essa prova eram considerados demasiamente fracos e tinham de desistir. Outras vezes, após um dia de meditação sobre o significado de um determinado símbolo, o noviço entrava no círculo dos outros discípulos que lhe faziam perguntas a que ele não sabia ou que dificilmente era capaz de responder. Pitágoras observava de perto as suas reações. Se ele se enfurecia, era imediatamente eliminado da escola; mas, se, pelo contrário, era capaz de manter a calma e respondia com humildade e sensatez, dispondo-se a repetir tantas vezes a mesma experiência quantas fosse necessário para adquirir o conhecimento que lhe faltava, era felicitado pelos seus companheiros e poderia prosseguir na aprendizagem.

     Os VERSOS DE OIRO continham os princípios básicos do ensinamento pitagórico. De manhã até à noite, soavam aos ouvidos dos discípulos:

VERSOS DE OIRO DE PITÁGORAS
(Versão de Felix Bermudes (?))

Preparação  

Presta a Deus imortal o culto consagrado;
Conserva a tua fé; dos vultos do passado,
Ou santos ou heróis, louva a divina ação.

Purificação

Sê bom filho e bom pai; sê justo como irmão,
Amável como esposo; escolhe como amigo
Aquele que tiver luz para repartir contigo
E dê conselhos bons que o porte não desminta.

Se o fogo das paixões for cinza nele extinta,
Imita o seu exemplo, escuta o seu conselho,
Sê tu, para o refletir, um voluntário espelho;
Jamais te afastes dele por fútil discrepância;
Enjaula dentro em ti a fera da arrogância.

Sê sóbrio, ativo e casto; evita a irritação;
À raiva fecha a alma, ao ódio o coração.
Em público ou privado, o mal jamais pratiques;
E a quem te der lições, escuta e não critiques.
Respeita-te a ti próprio; o sábio verdadeiro
Nada diz, nada faz, sem refletir primeiro.

Sê justo. As más ações são catacumbas frias
Para sepultar, na morte, os bens e as honrarias;
Toda a riqueza é vã se foi contra um dever;
O fácil de ganhar é fácil de perder.
O cálix da amargura imposto pela sorte
Aceita-o, resignado. Ele te fará mais forte.
Em mil fiéis ao erro, um só busca a verdade;
Mas Deus protege o sábio e livra-o da maldade.

O filósofo aprova ou condena sem tédio
E onde encontra o erro incapaz de remédio,
Afasta-se e espera. "Afasta-se e espera!"
Grava bem esta lei. Medita-a, considera
Quanta inútil pendência ele pode evitar-te.

Com todos sê cortês; sê nobre em toda a parte.
Não dês exemplos maus; nem os sigas tão-pouco; 
Agir sem fim nem causa é proceder de louco.
Olhos e ouvidos cerra a todo o preconceito,
A todo o fanatismo ou julgamento feito
Preconcebidamente e só por teimosia;
Seja tua e só tua a razão que te guia.

Não pretendas fazer o que a tua ignorância
Não permitir. O tempo, a atenção e a constância 
Hão de trazer-te um dia o poder que te falta.
​Aprende a servir, eis a ambição mais alta
Que deve nortear a tua vida inteira.

Cuida bem do teu corpo, o trabalho aligeira
Quando ele se queixar, mas não lhe satisfaças 
Apetites boçais. As dores e as desgraças
Começam quando o corpo ordena mais que a alma;
Se o serves uma vez, já nunca mais se acalma.

Do luxo e da avareza os modos são iguais.
Diferentes na aparência, irmãos em tudo o mais.
Procura encontrar sempre o justo meio termo,
Pois nunca o corpo é são, estando o mental enfermo.

Formula ao despertar o teu programa honesto
E nunca para amanhã deixes ficar um resto.

Perfeição 

Antes de adormeceres, repassa no mental
As ações que fizeste, ou para bem ou para mal.
Não repitas as más, insiste só nas boas.
Estende a compaixão aos brutos e às pessoas.
E a cada novo esforço, a cada prova rude,
Acenderás em ti a luz de uma virtude.

Assim sublimarás a Tétrada sagrada,
A tua quaternária e cósmica morada,
Alma, espírito e corpo - um embrião de Deus.

Procura com fervor abrir os olhos teus
À luz que vem do Olimpo. O teu amor é vão
Se o Céu não te cobrir da sua proteção.
Só Ele pode acabar as obras que começas
E dar-te, para o bem, o auxílio que lhe peças.

Estuda a natureza, aprende a lei sublime
Que rege a imensidade e que à matéria imprime
A vida universal. Perante estudos sérios
Abrem-se a pouco e pouco a porta dos Mistérios.

Então descobrirás a luz do teu destino
Que, por sublime Amor do nosso Pai divino,
Te chama a colaborar no Plano do Universo
Com Deuses, de quem tu és "Uno - mas Diverso".

Então, desprezarás todo o desejo fútil.
Verás que o sofrimento é criação inútil
Dos erros e do vício e da maldade crua.
O homem vive e morre a procurar um bem
Sem nunca reparar no bem que em si contém.

Quem não souber ser bom não sabe ser feliz;
É náufrago num mar de praias sempre hostis,
E entre o fraguedo atroz que a riba lhe apresenta,
Não pode resistir nem ceder à tormenta
Porque não descobriu que transporta consigo
Um farol para o guiar a salvamento e abrigo.

Por entre os vendavais dessa jornada ignota,
Tem cada qual de abrir a sua própria rota.
Uma estirpe divina impõe à humanidade
Buscar no mar do erro o porto da verdade.
A Natureza ajuda o homem no caminho,
Nunca o desamparou, nunca o deixou sozinho.

Homem sábio, homem bom, tu que já penetraste
​Os mistérios da vida e meditaste o contraste
Entre o Bem e o Mal, concentra-te um momento
E medita que Deus, ao dar-te o pensamento
E muitos outros dons que refletem os Seus,
Fez-te um Ser Imortal, porque és tu próprio um deus!

in, 
http://joseflorido.weebly.com

1 comentário:

luis santos disse...


Muitas e boas as lições de Pitágoras.
Muito obrigado amigo José Flórido.
Grande Abraço.