quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Erva-príncipe


por Miguel Boieiro




Amigo de longa data, também fã das PAM (para quem ainda não sabe: Plantas Aromáticas e Medicinais), trouxe-me de França um frasco de essência de “citronnelle”. Encimando o recipiente há um pavio que, ao acender-se, liberta uma fumaça perfumada que tem o condão de afugentar as arreliadoras melgas. Tenho experimentado e posso afirmar que resulta mesmo!

A referida essência é extraída da erva-príncipe que os franceses designam por “citronnelle” e os ingleses por “lemongrass”, pelo seu agradável odor a limão. Para que não restem dúvidas sobre que planta se trata, adito a sua nomenclatura científica: Cymbopogon citratus.

Julga-se que teve a sua origem no sul da Ásia e é muito utilizada na Índia, Sri Lanka, Tailândia, Malásia, Indonésia, etc., como planta medicinal, gastronómica e condimentar.

Os livros antigos de fitoterapia que consulto habitualmente nunca referem esta erva, pois ela não se encontrava ainda suficientemente divulgada no continente europeu. Todavia, no “Asian Herbs Vegetables” de Penny Woodward que adquiri há tempos, em Melbourne, a Cymbopogon tem honras de capítulo.

A erva-príncipe pertence à família das Poáceas que, sendo oriunda dos climas tropicais, também se dá razoavelmente bem nos climas atlântico-mediterrânicos. Apenas dois cuidados devemos ter: evitar as geadas no inverno e regá-la regularmente no verão.

Como a maior parte das poáceas, possui folhas lineares alongadas e lanceoladas em forma de lâmina. As margens das folhas são ásperas e cortantes (eu que o diga, pois várias vezes me feri nas mãos, ao colher despreocupadamente as citadas folhas para confecionar um chazinho). A base da folhagem é constituída por estolhos (rizomas), donde, todos os anos, brotam novos rebentos. Por isso se considera uma planta estolonífera (aprendam mais este vocábulo!) e perene. Dizem alguns documentos específicos que ela desabrocha flores que se reúnem em espigas de 30 a 60 cm de dimensão, formando racimos. Tal asserção não a posso confirmar porque nunca vi uma erva-príncipe florida. A própria Penny Woodward diz, na obra atrás referida, que a planta raramente floresce. É portanto um quase perfeito exemplo de reprodução por clonagem.

O constituinte principal da erva-príncipe é um óleo essencial denominado citral que, no tempo seco pode chegar a 60% da massa vegetal. Este óleo está também presente na casca dos citrinos e ajuda a sintetizar a vitamina A no organismo humano, sendo amplamente utilizado em perfumaria. Embora em muito menor quantidade, a planta contém outros óleos como o geranol, o linalol e o nerol e ainda aldeídos, cetonas, ácidos e ésteres vários.

Para que serve a erva-príncipe? Para além de repelir os insetos, como acima aludimos, ela é uma excelente planta medicinal. Destacam-se algumas das suas propriedades: analgésica, antidepressiva, antibacteriana, antidiarreica, bactericida, carminativa, digestiva, diurética, sudorífera, sedativa, vasodilatadora…

Está indicada para digestões difíceis, ansiedade, insónia, diarreia, flatulências, acnes, celulites, limpeza de peles oleosas, mediante infusões, decocções e cataplasmas das folhas e dos rizomas (uso externo). Habitualmente, prefiro-a como tisana digestiva para tomar a seguir aos repastos: três ou quatro colheres bem cheias de folhas frescas finamente cortadas (atenção: sempre folhas verdes e não secas) para um litro de água, ficando em infusão durante, pelo menos, 10 minutos. O seu sabor é agradabilíssimo.

Na Índia, a erva-príncipe entra em numerosas aplicações de medicina ayurvédica.

Finalmente (“last, but not least”) há que referir a utilização desta planta na cozinha oriental, constituindo um dos principais ingredientes, quer como condimento, quer como legume cozinhado. As partes mais tenras das folhas podem ser integradas em marinadas e assados. Anote-se que, na confeção de “curries” (molhos), a erva-príncipe casa muito bem com o gengibre, o coco, o alho e os diversos tipos de pimento.

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