por Miguel Boieiro
Amigo de longa data, também fã das PAM (para quem ainda não
sabe: Plantas Aromáticas e Medicinais), trouxe-me de França um frasco de
essência de “citronnelle”. Encimando o recipiente há um pavio que, ao
acender-se, liberta uma fumaça perfumada que tem o condão de afugentar as
arreliadoras melgas. Tenho experimentado e posso afirmar que resulta mesmo!
A referida essência é extraída da erva-príncipe que os
franceses designam por “citronnelle” e os ingleses por “lemongrass”, pelo seu
agradável odor a limão. Para que não restem dúvidas sobre que planta se trata,
adito a sua nomenclatura científica: Cymbopogon
citratus.
Julga-se que teve a sua origem no sul da Ásia e é muito
utilizada na Índia, Sri Lanka, Tailândia, Malásia, Indonésia, etc., como planta
medicinal, gastronómica e condimentar.
Os livros antigos de fitoterapia que consulto habitualmente
nunca referem esta erva, pois ela não se encontrava ainda suficientemente
divulgada no continente europeu. Todavia, no “Asian Herbs Vegetables” de Penny
Woodward que adquiri há tempos, em Melbourne, a Cymbopogon tem honras de capítulo.
A erva-príncipe pertence à família das Poáceas que, sendo oriunda dos climas tropicais, também se dá
razoavelmente bem nos climas atlântico-mediterrânicos. Apenas dois cuidados
devemos ter: evitar as geadas no inverno e regá-la regularmente no verão.
Como a maior parte das poáceas, possui folhas lineares
alongadas e lanceoladas em forma de lâmina. As margens das folhas são ásperas e
cortantes (eu que o diga, pois várias vezes me feri nas mãos, ao colher
despreocupadamente as citadas folhas para confecionar um chazinho). A base da
folhagem é constituída por estolhos (rizomas), donde, todos os anos, brotam
novos rebentos. Por isso se considera uma planta estolonífera (aprendam mais
este vocábulo!) e perene. Dizem alguns documentos específicos que ela
desabrocha flores que se reúnem em espigas de 30 a 60 cm de dimensão, formando racimos.
Tal asserção não a posso confirmar porque nunca vi uma erva-príncipe florida. A
própria Penny Woodward diz, na obra atrás referida, que a planta raramente
floresce. É portanto um quase perfeito exemplo de reprodução por clonagem.
O constituinte principal da erva-príncipe é um óleo essencial
denominado citral que, no tempo seco pode chegar a 60% da massa vegetal. Este
óleo está também presente na casca dos citrinos e ajuda a sintetizar a vitamina
A no organismo humano, sendo amplamente utilizado em perfumaria. Embora em
muito menor quantidade, a planta contém outros óleos como o geranol, o linalol e
o nerol e ainda aldeídos, cetonas, ácidos e ésteres vários.
Para que serve a erva-príncipe? Para além de repelir os
insetos, como acima aludimos, ela é uma excelente planta medicinal. Destacam-se
algumas das suas propriedades: analgésica, antidepressiva, antibacteriana,
antidiarreica, bactericida, carminativa, digestiva, diurética, sudorífera,
sedativa, vasodilatadora…
Está indicada para digestões difíceis, ansiedade, insónia,
diarreia, flatulências, acnes, celulites, limpeza de peles oleosas, mediante infusões,
decocções e cataplasmas das folhas e dos rizomas (uso externo). Habitualmente,
prefiro-a como tisana digestiva para tomar a seguir aos repastos: três ou
quatro colheres bem cheias de folhas frescas finamente cortadas (atenção:
sempre folhas verdes e não secas) para um litro de água, ficando em infusão
durante, pelo menos, 10 minutos. O seu sabor é agradabilíssimo.
Na Índia, a erva-príncipe entra em numerosas aplicações de
medicina ayurvédica.
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