quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

DIA MUNDIAL DA LÍNGUA MATERNA - UM PATRIMÓNIO CULTURAL A DEFENDER


Em vez de português erudito fomenta-se o português macarrónico

António Justo

21 de Fevereiro é o Dia Internacional da Língua Materna. Foi proclamado pela UNESCO como memorial para "promover a diversidade e o multilinguismo linguística e cultural".

Segundo a UNESCO, metade das línguas maternas encontram-se em risco de desaparecer (entre elas o Bretão, Quechua e Nahuatl). Com a celebração do Dia da Língua materna, pretende-se manter viva  a consciência das tradições linguísticas e culturais. A visibilidade de um espaço cultural manifesta-se através da língua e suas marcas.

Especialmente nos países da lusofonia há que ter isto em consideração. A protecção dos falares indígenas e das tribos não deve porém substituir o português como língua de comunicação nacional e internacional. Seria relevante manter uma relação equilibrada entre os interesses regionais e o interesse da identidade nacional que se expressa numa língua de comunicação para todos. 


Fazer uma coisa não implica deixar de fazer a outra (Unum facere et alium non omittere). No contexto importa recordar o lema latino “E pluribus unum” (fazer de muitos um/unidade na diversidade); este lema fez dos EUA o país que é hoje. Sem integração não há unidade orgânica.

O idioma deve reflectir, pelo menos, nalguma das suas partes, a herança cultural do todo e do particular, como memória viva a gerar futuro.

Tanto uma olhadela sobre o Português, muitas vezes usado no dia-a-dia, como sobre a política da língua não permite grande satisfação a muitos os falantes lusófonos. Tem-se implementado o empobrecimento da língua com uma reforma ortográfica que na ortografia não favorece a especificação (exemplo: faz das palavras facto e fato uma só palavra (fato) para com um só vocábulo designar dois conceitos.

O “português do brasil” ou português de expressão brasileira tem-se afastado das línguas de origem latina europeia (contrariado o desenvolvimento diferenciador destas) ao reduzir o emprego das pessoas gramaticais (no sentido de uma indiferenciação e como tal empobrecedora).  As línguas europeias de origem latina mantêm o alto nível da língua na sua diferenciação preservando as três pessoas gramaticais do singular e do plural: eu, tu, ele-ela, (você, a gente) e nós, vós, eles-elas, (vocês) permanecendo fiéis à defesa da excelência da língua e contrariando a tendência simplicista de se cair no uso de uma língua de caracter “macarrónico” (substituir o uso da segunda pessoa gramatical pela terceira, etc.).

Por outro lado há demasiados anglicanismos bárbaros empregados no português sem o conveniente aportuguesamento.

Nos média sociais ( Facebook) espalha-se  paulatinamente uma comunicação abreviada e simplicista que, com o tempo, poderá levar muitos a não conseguir escrever uma carta em português correcto.
Do mesmo problema se queixam professores universitários que constatam em muitos alunos grandes défices na expressa do português.

No mercado observam-se também cadeias de empresas que não se preocupam em traduzir os nomes dos produtos para as  línguas onde são vendidos.

Na França implementaram-se medidas para defesa e enriquecimento da língua. Em 1994, na França foi proibido o uso de conceitos ingleses sem serem traduzidos. Cada conceito introduzido na língua materna que respeite o seu espírito constitui um enriquecimento da língua. (Confesso que por vezes uso estrangeirismos por não encontrar ainda termos adequados em Português).

A língua é um organismo vivo e como tal aberta ao novo, mas deve ser respeitada sem ser violada; naturalmente há também nichos usados por grupos étnicos, estudantes, estrangeiros, além de regionalismos, dialectos, etc.

Infelizmente o governo pretende diminuir o ensino da língua materna em favor de disciplinas sociais.

António da Cunha Duarte Justo

“Pegadas do Espírito no Tempo” http://antonio-justo.eu/?p=4146

(1)   Coloco aqui os links de alguns artigos que publiquei referentes ao assunto: Cometem-se barbaridades contra a língua portuguesa  numa tentativa populista de valorizar o analfabetismo: http://www.mundolusiada.com.br/artigos/barbaridades-contra-a-lingua-portuguesa/

Acordo ortográfico segue a via popular: http://antonio-justo.eu/?p=2190


MEC brasileiro pretende acabar com a obrigatoriedade da Literatura portuguesa: de Cavalo para Burro?: http://agostinhodasilva.blogtok.com/menu/6/42434/

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