segunda-feira, 30 de setembro de 2019

REAL... IRREAL... SURREAL...(367)

A Ponte de Moret, Sisley, 1893Óleo sobre Tela, 73,5 x 92,5 cm

Alfred Sisley nasceu em Paris, 30 de Outubro de 1839 e faleceu em Moret-sur-Loing, a 29 de Janeiro de 1899. 
Sisley nasceu em Paris, filho de pais ingleses, tendo estudado comércio em Londres, (1857-1861) para continuar o trabalho de seu pai, diretor de uma empresa de exportação de flores artificiais para a América do Sul. Porém em vez de estudar passava o tempo visitando museus e copiando esboços de Constable, Turner e Bonington. Quando voltou a Paris conseguiu autorização dos pais para entrar para a escola de Gleyre. No atelier de Paris, Sisley conheceu Renoir, Bazille e Monet, com os quais passava horas pintando no bosque de Fontainebleau. Em 1877 participou na terceira exposição do grupo impressionista. Junto com Camille Pissarro, Sisley foi um dos mais representativos paisagistas do impressionismo, sendo considerado também um dos pintores da escola de Barbizon.
Seus primeiros quadros revelaram uma certa influência da obra de Jean-Baptiste Camille Corot, mas pouco a pouco começou a se diferenciar dele, dando mais importância à cor do que à forma. Dono de uma capacidade surpreendente de observação, Sisley era capaz de captar os matizes mais subtis da luz, habilidade que demonstra em seus quadros das estações do ano.
Também é muito singular o modo como consegue homogeneizar água, terra e céu, inundando suas paisagens de uma paz transcendental. O galerista Durand-Ruel expôs seus quadros, sem sucesso, em Paris. Mais tarde, em 1890, Sisley foi indicado como académico da Sociedade Nacional de Belas-Artes, onde expôs suas obras pela última vez, no ano de 1898.

in Wikipedia

Selecção de António Tapadinhas


sábado, 28 de setembro de 2019

AEROPORTO COMPLEMENTAR AO DE LISBOA NA BASE AÉREA nº6 DO MONTIJO: SIM OU NÃO?


Luís Santos


Uma opinião:

Depois das sessões de esclarecimento que se fizeram por aqui no Concelho da Moita, sobretudo, na Baixa da Banheira (Fórum José Miguel Figueiredo), onde estiveram representantes de todas as partes interessadas, a questão para nós ficou muito clara:
1) quem paga a construção do novo aeroporto é a Vinci (dona da Ana Aeroportos, atual gestora do aeroporto de Lisboa);
2) a Vinci interessa-lhe construir o aeroporto no Montijo (e não no Campo de Tiro de Alcochete)...;
3) o Governo, a não ser que desse contrapartidas significativas, podia, eventualmente, influenciar a decisão da Vinci, mas não quer;
4) ora, como diria La Palice, assim sendo, quem manda é a Vinci e o governo cede;
5) se a construção do aeroporto no Montijo afeta a qualidade de vida, a qualidade do ar e da saúde, das populações locais, isso, em larga medida, é coisa secundária para a Vinci, Governo, etc.
6) mas que, a construção deste aeroporto na Base do Montijo, terá contrariedades muito relevantes para as populações dos concelhos da Moita, Barreiro e Montijo, e para o amibente, reserva natural do estuário do Tejo, etc., isso parece uma forte evidência que não deve ser menosprezada pelos decisores políticos.
Ver notícia do "Observador" sobre impacto ambiental aqui: https://observador.pt/…/estudo-particulas-ultrafinas-caus…/…

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

A Sagrada Família


A Sagrada Família, de António Gaudi, Barcelona. Começou a ser construída em 1882. Das 18 torres previstas no projeto inicial, Gaudi só construiu uma. Hoje, graças aos dinheiros das visitas, etc., já foram construídas 8 das 18. A expectativa é sabermos quando teremos a "Sagrada Família" cumprida, e se valeu a pena.

Luís Santos



Fotografia de autor desconhecido

terça-feira, 24 de setembro de 2019

O DÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

OS ÚLTIMOS DIAS DE PÓ


Finalmente as obras estão concluídas, ainda que a porta do piso superior tenha sido colocada a martelo e tudo indica que necessite de substituição. Mas logo veremos e para já importa suspirar de alívio. 

Eu é que tenho agora uns milhares de livros para limpar o que me faz estar activo até alta madrugada uma vez que estamos em vésperas da viagem ao Brasil, onde faremos as férias deste ano. 

Salva-se o apartamento que muito melhorou em funcionalidade e elegância. 


 Alhos Vedros 
  16/07/2004

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

As Nossas Cores 1

REAL... IRREAL... SURREAL... (366)


Carl-Henning Pedersen, Celestial Path, 1988,
Óleo sobre Tela, 206 x 290 cm.


Nasceu a 23 de Setembro de 1913 em Copenhaga  e faleceu a 20 de Fevereiro de 2007, nesta mesma cidade.

Pertencente a uma família da classe trabalhadora de Copenhaga, Pedersen foi encorajado a encarar a pintura como um jovem, por Else Alfelt, uma colega de pintura que mais tarde viria a tornar-se na sua primeira mulher.

Algumas vezes chamado de Hans Christian Andersen da pintura, Pedersen foi um artista prolífico conhecido por criar trabalhos coloridos invocando fantasia e contos de fadas. Era um artista autodidacta, e a sua inspiração vinha de artistas como Pablo Picasso, George Braque e Marc Chagall.

Nos finais da década de 1940, Pedersen formou com uma mão cheia de artistas dinamarqueses, belgas e alemães uma união artística conhecida internacionalmente como COBRA, a partir das cidades onde estavam estabelecidos: Copenhaga, Bruxelas e Amesterdão. O grupo produziu pinturas semi-abstractas brilhantemente coloridas, inspiradas no primitivo e na arte folk.

Depois da Segunda Guerra Mundial, Pedersen tornou-se um dos principais artistas visuais da Dinamarca. Representou o seu país na Bienal de Veneza, feira de arte internacional e foi contactado para criar vários murais públicos.

Pedersen quis doar centenas dos seus trabalhos à sua cidade natal, mas a capital dinamarquesa declinou a honra porque as autoridades disseram que não podiam responsabilizar-se pela sua exibição num museu independente.

A cidade de Herning construiu um museu dedicado ao artista e exibindo centenas das suas pinturas, ilustrações e esculturas. Pedersen também foi nomeado um cidadão honorário de Herning em 2001.

in Wikipedia

Selecção de António Tapadinhas

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Um poema de Manuel (D'Angola) de Sousa


“Refugiado Debaixo De Pontes Vãs Como Um Incipiente Indigente Astral”

Armadilho as esquinas e os cantos à casa
Chovam picaretas e eu serei a desviar-me delas
Caiam canivetes e arrecadarei cada um deles na bolsa

Leio de viés mensagens semi encriptadas
Refugio-me debaixo duma ponte cheia de indigentes
Incipiente é a minha superficial visão do vastíssimo Interior

Afinal quem é o Deus que se diz sêr e me segue
Calcorreio as páginas de livros inteiros e aqueles sacros
Perfilo-me pelos que me antecederam junto ao muro mental

Vivo encrustado em limites circunstanciais
Procuro no fundo do bolso as cruzes quase todas
Dou a volta ao texto e a uma boa parte da cabeça zonzo

Como insipidamente com as mãos e o largo desejo
Entrego emendas feitas e ementas diárias a curiosos
Sujo a imaculada paisagem com um olhar deveras poluto

Pedalo uma bicicleta transformada em triciclo fixo
Fragilizo-me a arrancar penas de galinha a um pavão
Comporto-me que nem uma besta de nome impronunciável

Abano perigosamente o capacete de aço
Espreito por um caniço fino furado para Saturno
Relincho a bom som que nem um Pégaso armado em Condôr…

Sonambulizado meto-me por atalhos labirínticos até que ultrapasse a fase lunar…

Escrito em Luanda, Angola, por Manuel (D’Angola) de Sousa, a 16 de Setembro de 2019, em Homenagem à minha Mãe e todas as Mães Humanas e da Natureza e a todas aquelas que, eventualmente, existam na imensidão do Cosmos Material e Psíquico, deste nosso tao incomensurável Universo e outros que, quiçá, existam paralelos ao nosso e em outras dimensões, sejam elas do Pensamento ou em um plano Físico qualquer diferenciado…

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

(Des)EMPAREDADO


Luís Souta


Fotos de Luís Souta, 2017
Alto da Castelhana, Cascais


Fotos de Luís Souta, 2019
Alto da Castelhana, Cascais


À memória do Professor DON DAVIES (1926-2019), 
Boston University.


«a casa abriga e obriga»
(Irene ou o Contrato Social, Maria Velho da Costa, 2000: 148)

A irracionalidade humana do Homo Demens tem manifestações múltiplas. O ‘homem não aprendente’ repete os mesmos erros ad nauseam. Não aprende nem com a sua experiência nem com a História. Na paisagem urbana, em Portugal, proliferam exemplos como este que as duas fotos nos dão testemunho. Um prédio de seis pisos, quase pronto, ostenta a sua infuncionalidade por motivos que só o proprietário, o credor e o autarca saberão (e cada um argumentando com a sua ‘racionalidade’ – económica, financeira, jurídica ou outra).

Os tijolos fecham o que devia ficar aberto (portas, janelas, varandas). «Ah, pois, mas se não fosse assim… os toxicodependentes, os sem-abrigo, os marginais davam cabo de tudo.» Sem razões morais, éticas, humanas. Nem utilidade social mínima! Ali fica mais um mamarracho arquitectónico, inacabado, sem préstimo algum, uma mancha a conspurcar as já de si inestéticas urbanizações ‘modernas’ que cresceram na «fúria desenvolvimentalista» (expressão contundente do antropólogo Ruy Duarte de Carvalho). Um país que continua a dar-se ao luxo de emparedar edifícios quando há jovens a precisar de habitação, idosos a viver ao relento, gente a residir em barracas (sim, ainda não foi nomeada a comissão liquidatária do PER - Programa Especial de Realojamento, criado pelo Decreto-Lei nº 163/93 de 7 de Maio). Em suma, é O Sistema Irracional que Paul A. Baran & Paul M. Sweezy (Porto: Textos Marginais, nº 1, 1972) desmontaram.

Da recém-criada Secretaria de Estado da Habitação (desde 2005 que tal não existia na orgânica governamental) espera-se acção, impedindo os construtores civis de deixarem obra por acabar. Quem inicia um projecto tem que dar garantias financeiras para o levar a bom porto. Essa deve ser uma das condições obrigatórias para aprovação e licenciamento pela autarquia. Como se lê na epígrafe deste texto «a casa [também] obriga», em primeiro lugar, a quem a constrói. O governo deveria também elaborar um cadastro nacional dos prédios inacabados, que se encontrem em situação semelhante ao que aqui damos nota. No concelho de Cascais são às dezenas. Aterrador, o número, a nível nacional!

E a propósito deste tema, vem-me à memória um dos poucos livros que, ainda no decorrer do ‘bacharelato’, li e sublinhei de fio a pavio, por ocasião do meu primeiro trabalho de campo, no bairro clandestino das Bragadas, na Póvoa de Santa Iria – A Questão do Alojamento de Friedrich Engels; publicado em 1872, no formato de 3 artigos (polémica com os defensores do pensamento de Proudhon) e mais tarde reunidos em brochura. A edição portuguesa (Porto: Cadernos para o Diálogo, nº 3, 1971) incluía também um longo prefácio do autor, datado de 1887, para uma nova edição pois o «Governo Alemão, que proibindo-a, como sempre favoreceu grandemente a venda». Aí explica a sua intervenção nesta questão:
«Em consequência da divisão do trabalho entre Marx e mim, tomou-me defender os nosso pontos de vista na imprensa periódica, particularmente lutando contra as opiniões adversas, a fim de que Marx guardasse tempo para a elaboração da sua grande obra.» (p. 13)

Engels é, por esta altura, um escritor maduro, já não aquele companheiro d’ O jovem Karl Marx, filme de Raoul Peck (2016), que vimos aquando da abertura da 5ª edição da Judaica – mostra de cinema e cultura, a 6 de Abril, n’ o Cinema da Villa, em Cascais.
«Como resolver então a questão do alojamento?
(…) estabelecendo gradualmente um equilíbrio económico entre a oferta e a procura; esta solução não resolve definitivamente o problema (…) Quanto à maneira como uma revolução social resolveria a questão isso depende não somente das circunstâncias nas quais ela se produziria, mas também de problemas muito mais extensos, em que um dos mais essenciais é a supressão da oposição entre a cidade e o campo.» (pp. 59-60)

Para F. Engels «seria mais do que ocioso deter[-se] nesse ponto» [a supressão da oposição cidade-campo] por a considerar uma ‘utopia’. Decorridos todos estes anos, ela parece afinal bem mais próxima de todos nós: a urbanização imparável que a todos atrai, em especial os do mundo rural que, entretanto, se vai estiolando.
«a verdadeira ‘crise do alojamento’ (…) não pode fazer-se naturalmente senão pela expropriação dos proprietários actuais, pela ocupação dos seus imóveis por trabalhadores sem abrigo ou incomodamente amontoados nos seus alojamentos» (p. 60)

Por cá, em pleno PREC, houve uns arremedos do género, coisa soft e pontual… A «revolução social», de 1974-75, «lembra-me um sonho lindo, quase acabado / lembra-me um céu aberto, outro fechado» (Fausto, 1982).

Post Scriptum:

Aqui está um bom exemplo de reversão urbanística. O meu texto original foi editado pelo Estudo Geral em 02/08/17; dois anos depois, a transformação é radical (como o atestam as duas fotos que agora se anexam). O que estava emparedado está actualmente ocupado na plenitude. Uma habitação de qualidade – com painéis solares, locais próprios para estacionamento, espaços verdes – veio melhorar a paisagem urbana nesta zona na fronteira entre Cascais e Alcabideche.
Entretanto, desde o início de Julho, o país está, finalmente, dotado de uma Lei de Bases da Habitação. A sua aprovação na AR, mostrou que (ainda) há temas fracturantes entre Esquerda e Direita, e o da habitação continua a ser um deles (a Lei teve o voto favorável das Esquerdas e o voto contra do PSD e CDS). A deputada (independente) Helena Roseta, a quem coube esta iniciativa legislativa, está de parabéns; nas suas palavras «esta lei de bases é um caderno de encargos para o futuro».

terça-feira, 17 de setembro de 2019

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

HISTÓRIAS DA TERRA ENCANTADA
22

Não sabemos e provavelmente nunca chegaremos a saber o que levou os humanos a sedentarizarem-se. Mais uma vez temos suficiente informação arqueológica que nos permite esboçar o modo como um tal fenómeno se processou e compreender genericamente as suas causas imediatas. Mas dificilmente seremos capazes de virmos a identificar os motivos específicos e particulares que terão levado um ou mais grupos humanos a decidirem permanecer num determinado lugar, abandonando a itinerância que até então fora o seu modo de vida. 
Os nossos ancestrais sempre tinham vivido em bandos que, de acordo com o efeito do ritmo das estações sobre a vegetação e as plantas e o ritmo de migração das espécies animais de que se foram alimentando, ora se estabeleciam num sítio que exploravam em termos de caça e recolha, ora daí rumavam a outro; em contextos geo-físicos mais severos materializando deambulações mais erráticas, ao mesmo tempo que em zonas mais fartas as itinerâncias teriam maior pendularidade entre locais que, sob diversos aspectos, da riqueza alimentar à segurança se apresentavam como os mais favoráveis. 
A cadência solar delimitava o pulsar do quotidiano dos bandos que se desenvolviam em torno da execução e preparação das ferramentas afectas à caça e da confecção dos alimentos e que incorporava naturalmente a manufacção das variadas peças usadas, desde os agasalhos aos ornamentos, passando por instrumentos como agulhas ou sacos para o transporte de comida e até dos bebés. 
Homens e mulheres e crianças acordavam com o desfazer da aurora, em momento de caça sairiam os batedores com os seus apetrechos na demanda das presas, enquanto as fêmeas e os que ficavam, certamente acompanhados pelos latentes, ao colo das mães e com os mais novinhos em redor, se dedicavam a vasculhar arbustos e arvoredos circunvizinhos para reunirem os tubérculos ou os frutos, as raízes e os bolbos que asseguraram a sua dieta diária. 
Aquelas pessoas estavam perfeitamente adaptadas e preparadas para levarem a efeito os nomadismos e, quando depois do ocaso, se reuniam em torno do lume para as suas últimas palavras ou actos antes do sono, nunca lhes deveria ocorrer o desejo de se confinarem a um espaço. 
Acontece que a nossa espécie teve tanto de corajosa como de inteligente e só isso explica que se tenha adaptado aos climas mais agrestes e aí sobrevivido, com o que enfrentou uma diversidade de ambientes, com o que enfrentou uma diversidade de ambientes climáticos e ecossistemas em que, em muitos outros casos terá encontrado uma abundância de alimentos que não se esgotava regularmente com a passagem das estações. 
É natural que tenham sido essas as contingências genéricas da sedentarização que, como é hoje aceite pelas provas arqueológicas de que dispomos, é anterior à agricultura. Quer em zonas costeiras que as correntes bafejavam com fartura de recursos alimentares, quer em vales abrigados ou perto de rios e lagos em que a vegetação permitia recolher comida ao longo de todas as translacções terrestres, é provável que as populações se tenham habituado a deixar-se ficar e a passagem dos anos tenha sedimentado o novo costume em modo de vida. 
O que não sabemos e provavelmente nunca saberemos é como isso começou. Porque se deu esse primeiro passo e a que propósito. 
Ora é aqui que poderemos usar a imaginação literária e fazermos da ficção uma técnica para narrarmos uma dada realidade. 
Não será grande ousadia supor que ao longo das dezenas de milhares de anos de itinerância, os indivíduos da nossa espécie tenham estruturado formas de família a partir do consanguíneo e das relações de aliança que as uniões e respectivas descendências iam formando. Nas duras condições que os homens então enfrentavam, a esperança de vida não seria longa e alguém que ultrapassasse o trigésimo aniversário seria velho, ainda que fosse capaz de se locomover e acompanhar os demais. E é precisamente este o ponto em que eu gosto de introduzir o imaginário e pensar que foram os afectos que, um dia, incentivaram alguns dos mais novos a quererem ficar para trás com outrem mais idoso e já incapaz de, por si só, subsistir ao rigor de um isolamento que, como é fácil de entender, seria vulgar provocar a morte de quem era abandonado pelo grupo. Pois eu gosto de acreditar que foi essa expressão de solidariedade que fez com que certos bandos se habituassem a viver permanentemente num lugar para não deixar que os seus entes queridos morressem sozinhos e a verdade é que, ainda anteriores ao viver sedentário, aconteceram rituais funerários que seguramente, entre outras coisas, podem eventualmente ilustrar os laços que os vivos viviam entre si. 
O sucesso de tais corajosos, por seu turno, terá funcionado com efeito de demonstração para outros e dessa forma, em várias zonas do planeta e começaram a incorporar os hábitos de uma vida sedentária, no contexto da qual o homem viria a inventar a agricultura e com isso a, por outro lado, a dar origem à economia de produção que viria a alterar para sempre o modo de aquisição dos alimentos e dos bens necessários à sobrevivência das populações humanas.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

REAL... IRREAL... SURREAL... (365)


Barco desaparecido, 1890, JOSÉ JÚLIO SOUSA PINTO
Óleo Sobre Tela, 73 × 91 cm

Nascimento: 15 de setembro de 1856, Angra do Heroísmo
Falecimento: 14 de abril de 1939, Pont-Scorff, França
Ingressou na Academia de Belas-Artes do Porto, onde estudou Pintura entre 1870 e 1878. Discípulo de Tadeu de Almeida Furtado, Soares dos Reis e João António Correia, sobressaiu como aluno brilhante, reconhecido com várias distinções. Dois anos após finalizar o curso, parte para Paris como bolseiro do Estado, na companhia de seu colega Henrique Pousão.
Frequenta o atelier de Cabanel, Yvon e Bouguereau na École des Beaux-Arts, e desenvolve um academismo com influência de Bastien-Lepage e Jules Breton. O contacto com a estética do realismo de Millet e de Courbet é traduzido nos temas rurais da Bretanha, de gosto salonard e, com os impressionistas, na forma como trabalha os efeitos luminosos e atmosféricos. Explora de forma triste e sombria a atmosfera dramática da vida dos pescadores, mas de modo afável e intimista a representação das crianças como personagens principais. Durante as longas estadas no seu país, realiza obras expressivamente luminosas, em temas “pitorescos” e rústicos.
Obteve distinções nos salons e recolhe as melhores críticas do público e do círculo artístico francês e integra museus como Orsay (La récolte des pommes de terre), Museu Monte Carlo (No Bosque, 1889), Museu de Amiens (Preparativo do Barco,1892), Museu de Nice (Ao Canto do Fogo), Museu de Melbourne (Nos Campos).

Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado
Catarina Duarte

Selecção de António Tapadinhas

terça-feira, 10 de setembro de 2019

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ontem à noite, durante o sono, faleceu a minha tia Mirandolina, a minha varinha de condão, como eu dizia bem pequenino, a propósito daquela que também me criou e em boa parte contribuiu para eu ser aquilo que hoje sou. É a minha infância que se esvai, pela natural passagem do tempo e o ciclo da renovação das gerações. 



Mirandolina Rosa de Almeida Gomes (1920/2004), irmã de minha mãe e mulher do tio Jofre, irmão de meu pai, teve vida atribulada em que a tragédia teve lugar no fim de décadas de prosperidade e bem-aventurança, em que tudo parecia decorrer para desenlaces de contentamento. 
Mas não foi assim. Nem sempre as pessoas sabem preparar o caminho que é esta nossa passagem pela superfície da Terra e foi isso que aconteceu com estes meus tios de quem tanto gostei e que tantas boas memórias me deixam que a saudade, sabemos, é a nostalgia irreparável das ausências que transportaremos no peito até que os dias se apaguem. Se bem que tenham sabido interpretar um plano de labor e sacrifícios para acumularem a fortuna da segurança e do quotidiano confortável e farto que haveriam de legar à minha prima irmã Adelina, não curaram dos laços e dos afectos e das transmissões de sabedoria que dão o cimento a um núcleo familiar e em vez da tranquilidade na velhice que seria de esperar, viram-se nas mãos da vilania que lhes engoliu os negócios e propriedades e os deixou com as finanças a zero, acabando por desbaratar o que restou numa sobrevivência confinada à casa onde residiam e que foi das poucas que resistiram à erosão. Isto para quem teve apartamento à beira-mar e viajou por esse mundo e sempre teve à disposição o que a tecnologia e a ciência do século vinte inventaram para o lar. 


Morreu de velhice e mal tratada das maleitas várias, esta minha tia que me contava histórias do sobrenatural serrano onde decorrera a sua infância em casa do meu bisavô Hugo, morreu no sossego do sono talvez cheia de tristeza por não transmitir aos netos as possibilidades da existência cheia de mordomias que em tempos foi a sua. 


Deus te guarde a alma em Sua Infinita Glória, minha varinha de condão. 
Não mais se apagarão as memórias da minha infância encantada que se repartiu pelos quintais e terraços e as salas e os quartos das residências geminadas que eram a deles e a dos meus pais. 


O funeral decorrerá amanhã de manhã. 


 Alhos Vedros 
  13/07/2004

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

REAL... IRREAL... SURREAL... (364)


Rupert’s Standard at Marston Moor, Autor Abraham Cooper, 1824
Pintura a Óleo sobre Madeira, 48,7 x 63,3 cm

Abraham Cooper nasceu a 8 de Setembro de 1787, em Londres e morreu a 24 de Dezembro de 1868, em Greenwich.
Filho do proprietário de uma tabacaria em Londres, Cooper na idade de treze anos tornou-se empregado do anfiteatro de Philip Astley, e depois trabalhou como cuidador de cavalos para Sir Henry Meux. Quando tinha vinte e dois anos de idade, quis ter um retrato de um cavalo favorito sob seus cuidados. Comprou um manual de pintura, aprendeu alguma coisa sobre o uso de tinta a óleo, e pintou o quadro em uma tela pendurada na parede do estábulo. Seu empregador comprou o quadro e encorajou-o a desenvolver seu novo talento.

Em 1814, exibiu seu Tam O'Shanter, e em 1816 ganhou um prêmio por sua Batalha de Ligny. Em 1817, exibiu sua Batalha de Marston Moor e tornou-se associado da Academia Real Inglesa, e em 1820 foi eleito académico. Cooper, apesar de não ter tido uma formação artística convencional, foi um artista inteligente e consciente. As cores de suas pinturas eram um pouco frias, mas era um mestre do retrato e da anatomia dos equídeos.

in Wikipedia

Selecção de António Tapadinhas

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Uma Biblioteca em Construção (7)


10 sugestões de Cristiana Penna de Amaral


 










terça-feira, 3 de setembro de 2019

O DIÁRIO DA MATILDE - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Bem e hoje só escrevo para registar que as obras estão a chegar ao fim, o que me obrigou a começar a arrumar o escritório para a limpeza geral que, devido ao pó acumulado, este ano tem de ser exaustiva.


Ontem à tarde vimos o “Shreck 2” que ainda consegue ser melhor que o primeiro. 



E agora, depois de tanto subir e descer o escadote para chegar ao topo das estantes, vou estender-me um pouco antes de noite de sono. 
Estou tão cansado. 


O que vale é que para a próxima semana entrarei de férias. 


 Alhos Vedros 
  12/07/2004

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

REAL... IRREAL... SURREAL... (363)


Le bouquet de feuilles, Autora: Sérafine Louis
Óleo sobre Tela, 81 x 61 cm

Séraphine Louis também conhecida como Séraphine de Senlis, nasceu em Arsy, França, a 2 de Setembro de 1864 e morreu em Clermont, a 11 de Dezembro de 1942.
De família humilde, seu pai era um trabalhador e sua mãe veio de uma família de camponeses. Perdeu a mãe no dia do seu primeiro aniversário, e seu pai morreu quando ela ainda não tinha completado sete anos. Tinha uma paixão secreta: sem que ninguém suspeitasse, ela pintava, estilo naif, sem jamais ter frequentado aulas de pintura, e nunca ter participado do meio cultural de sua época
O coleccionador de arte alemão Wilhelm Uhde, com base em Senlis, em 1912, descobriu suas pinturas, publicitou sua obra o que a tornou famosa e lhe trouxe prosperidade financeira.
Por causa da Grande Depressão, a sua pintura deixa de ter interesse.
Séraphine mergulha numa loucura e é internada no hospital psiquiátrico de Clermont onde faleceu na miséria causada pelas duras condições dos asilos durante a ocupação alemã.

Séraphine Louis está enterrada na talhão dos indigentes no cemitério de Clermont.

in Wikipedia

Selecção de António Tapadinhas

domingo, 1 de setembro de 2019

EG #115



ESTUDO GERAL
ag/set         2019           Nº115

"Cheguei finalmente à vila da minha infância (...) Paro diante da paisagem, e o que vejo sou eu." (Álvaro de Campos)

Sumário

poesia ilustrada

2.                 Os Novos Heróis – Risoleta C. Pinto Pedro
conversas com a alma

3.                 Aldiana Duarte, Romance(s) – Luís Souta
etnografar a música

4.                 Tu que acreditas – Firmino Pascoal
vídeo oficial

5.                 O Diário da Matilde – Luís F. de A. Gomes
diarística

real...irreal...surreal...


Destacável: Uma biblioteca em construção



---------------------------------Fim de Sumário----------------------------------