sábado, 13 de novembro de 2010

Como, em 10 anos, um azulejo ficou pré-parado

joão ricardo terra
brasil


Este poema (AZULEJO PORTUGUÊS, logo abaixo) ficou por quase 10 anos guardado numa gaveta. É muito estranho olhar para isso hoje em dia, mas à época em que o poema “veio” eu não era lá muito afeito a essa nossa ancestralidade de culturas e pensamentos em língua portuguesa; ainda assim o poema existia, laconicamente, e nem por isso ele era meu, pois se sabe que há casos de o poeta pertencer ao poema.

Por ocasião de um interessante concurso promovido pela imprensa em minha atual cidade (São José do Rio Preto, Brasil), eu o resgatei da gaveta, tentando dar-lhe uma feição que valorizasse o nosso poético idioma (o nosso idioma é sim uma pura música incrível, basta que o ouçamos com sensibilidade e doçura), e, ao fim das contas, entre outras sutilezas, substituí a palavra “milharal”, tão carregada de vivências genuinamente brasileiras, infantis, familiares minhas, por um “olival” repentino, intangível, cuja contemplação até o momento não tive a emoção de realizar, mas cuja imagem me remonta a alguma expressão monumental de queridas gêneses verbais.

Depois brotou uma rima importante com o nome de um país inteiro (aviso aqui: a inicial minúscula que deixo agora não é por desconsideração, é por uma pretensa intimidade), e o singelo e simplório poema acabou sendo gentilmente acolhido no concurso de que antes falava, creio eu que por ressoar uma comunhão de sentimentos idiomáticos muito caros a todos nós que temos não o prazer, mas o verdadeiro privilégio de existirmos em português. Veja então, por favor, como esse azulejo rabiscado de azul, publicado no Diário da Região de 26 de julho de 2009, em São José do Rio Preto, ficou:

AZULEJO PORTUGUÊS

teu vestido ao vento,
o sol dourando o olival
e o súbito azul de uma lembrança:
ficou tudo no azulejo, em portugal

1 comentário:

AAG News disse...

E irá perdurar por mais 500 anos, pintado nos azulejos portugueses a saga do 5ºImpério, que irei fazer até 2015 nas "Aventuras de Jerílio no séc. 25"

L+G

www.azulejariaguerreiro.com