7. Antero de Quental (1842-1890)
7.1. A Ideia de Deus em Antero
Há um Deus misterioso que só parcelarmente se revela a quem o quer estudar:
Sócrates - Dentro do homem está um Deus desconhecido
Cristo - Dentro do homem está o Reino dos Céus
Lutero - Dentro do homem está Deus. O Homem é um Deus que se ignora.
Robespierre - Revelação de Deus através de valores humanistas.
Hegel - Revelação de Deus através da ideia.
Moisés, Maomé, Cristo - Profetas que revelam Deus, mas todos revelam apenas um aspecto parcelar do Absoluto
O homem, ele próprio, está mais perto do divino do que as formas através das quais O representa. Em vez de procurar Deus nos céus, o homem deve procurá-lo no seu interior.
A Existência humana é privilegiada porque é nela que mais se manifesta a essência divina. A Saudade é uma aspiração a uma relação mais plena com o deus desconhecido que cada um trás em si.
No fundo da consciência está aquilo que procuramos fora. Dormitando, em movimento mudo, mas murmurando sempre. Jeová, Brama, Sabaoth, Alá, Cristo. O homem não deseja mais do que aquilo que já há em si.
A santificação é a plena realização do indivíduo. É um Deus que se revela permanentemente, como se fosse um progresso constante, sem que nunca mais esse progresso acabe. O homem como o descobridor dos mundos encobertos do espírito.
As revoluções, os cultos, os mitos, tudo são apenas manifestações do princípio interior essencial. Civilizações e Impérios se fazem para sermos Homem um pouco mais.
in, Antero de Quental, Filosofia, Univ. dos Açores: Editorial Comunicação.
7.2. O materialismo idealista de Antero de Quental
A Filosofia é eterna, tal como o pensamento humano. Uma potência infinita e um acto limitado.
Divino e real ao mesmo tempo, o Universo manifesta a si próprio a sua essência prodigiosa, desde as forças elementares e puramente mecânicas, ao instinto que sonha, à inteligência que observa e compara, à razão que ordena, ao sentimento que fecunda, até à contemplação e virtude dos sábios e santos.
O acesso à libertação é atingido por um esforço de santificação. Do investimento que cada homem individual fizer depende a sua evolução. O animal evolui necessariamente, mas o homem pode regredir.
A união da alma com Deus é, simplesmente, a chegada do eu à sua plena realização.
in, Antero de Quental, As Tendências Gerais da Filosofia na 2ª metade do século XIX.
Luis Santos
(Referência Bibliográfica: Síntese de Apontamentos, Aulas de Filosofia em Portugal, Prof. Paulo Borges, 2009)
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