quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

d´Arte – Conversas na Galeria XXIV


Cacilheiro Autor António Tapadinhas
Óleo sobre tela 75x100cm


Esta tela foi feita especialmente para uma exposição que fazia parte de um programa de humanização dos hospitais, nas relações com os seus utentes. Pretendia o seu director com a realização de diversas exposições nos locais mais frequentados, levar um pouco de alegria àqueles que aparentemente não teriam muitos motivos para se sentirem felizes.
O hospital foi o Garcia de Orta em Almada, cidade que fica em frente a Lisboa, na margem esquerda do Tejo. As telas que apresentei mostravam Almada, ou Lisboa vista de um ângulo pouco habitual: as imagens foram todas captadas de barcos da carreira Barreiro – Lisboa, ou Cacilhas – Lisboa. Estes barcos são chamados cacilheiros... É a bordo de um destes barcos que está o casal, completamente alheio à beleza do casario de Lisboa...
Esta obra ficou a fazer parte do espólio do Hospital... Nunca mais a vi, não sei em que gabinete ou corredor estará...

2 comentários:

Luís F. de A. Gomes disse...

Gosto desta pintura, quer pelas cores, quer pela figuração, bem firme na tradição da arte de representação do quotidiano. Mas devo dizer que sou suspeito para expressar esta opinião, pois, não sendo versado no ofício e muito menos perito em História de Arte, é de uma simples opinião que se trata. Acontece é que eu sempre preferi este género de expressão, se assim posso dizer e isto desde logo dos tempos dos flamengos de que aqueles quadros de interiores e não só, de Vermeer são o expoente mais sublime. Seja como for, por isso não terei como justificar este meu gosto pelo uso da razão e em conformidade direi apenas que gosto desta pintura, pelas cores que tem e o retrato que representa. Naturalmente reconheço que estará ela muito bem onde está, contudo, não consigo deixar de pensar que gostaria de a ter mais à mão -não se frequentam hospitais para apreciar a arte que, por ventura, ali esteja exposta, ainda que apetecesse e seja de admitir que bem valia a pena em tantos casos, como em este- e admito que por puro egoísmo de usufruir dela. E isto porque e não me perguntes porquê, sempre associei estes trabalhos à literatura que mais gosto, aquela que acrescenta mundos a este mundo para com eles nos convidar a pensar justamente nos mistérios mais profundos e universais da humanidade. Donde a minha fantasia de brincar com quadros como este e por veses me deixar levar pelo preenchimento de percursos que as situações e as expressões me transmitem, como este par de viajantes que eu prefiro tomar como pendulares que sabedores de como é leve viver, se dão ao gozo do momento ainda que no caminho da labuta mais cansativa. Será um olhar sonhador sobre o mundo? Pois seja, não vejo que decorra daí algum mal, mas agrada-me pensar que não são tão invulgares aqueles que se cruzam connosco, permanentemente dispostos a partilharem uma energia que nos atrai para os aspectos mais positivos da vida, como que nos chamando a atenção para o facto de que a felicidade não está nas coisas materiais, está dentro de cada um e o sentido da existência não pode ficar contido na caixinha dos meros desejos mundanos e muito menos nos caprichos dos nossos pequenos egos formatados pelas culturas de consumismo. E é isso o que naquela rapariga e naquele rapaz, na espuma que cintila pululante pelo rumo de um barco que parece ter como destino a evasão nos mistérios da cidade.

De dartear em dartear, lá vais levando o homem a pensar.

Assim deixo aquele abraço, companheiro
Luís

A.Tapadinhas disse...

Luís: Julgo já ter dito que não é preciso ser especialista para apreciar uma pintura. Parece-me não ser necessário (escrevo, preciso, para não rimar:) saber trinar como um canário para eu afirmar que adoro ouvi-lo cantar...

A história desse jovem casal da pintura, a respirar o ar salsuginoso, sonolentos depois de... ? ainda está para ser contada...

Se essa obra ainda me pertencesse poderia servir para a ilustrar...

Abraço,
António