Uma Revista que se pretende livre, tendo até a liberdade de o não ser. Livre na divisa, imprevisível na senha. Este "Estudo Geral", também virado à participação local, lembra a fundação do "Estudo Geral" em Portugal, lá longe no ido século XIII, por D. Dinis, "o plantador das naus a haver", como lhe chama Fernando Pessoa em "Mensagem". Coordenação de Edição: Luís Santos.
quinta-feira, 26 de julho de 2012
d´Arte - Conversas na Galeria XCIX
Sem Título Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre Tela 65x54cm
Já devem ter notado que eu tenho uma infinidade de séries em que nunca faço a última obra e, outras, em que não passo da primeira…
Este quadro foi cuidadosamente planeado, para ser a pedra de toque de uma série, que me entusiasmou na sua concepção.
Toda a tela foi coberta com diversas camadas de tinta, até ficar completamente lisa, para receber o desenho final. Em algumas zonas, passei com lixa de água para a sua superfície ficar sem qualquer irregularidade. Utilizei uma paleta muito limitada: Titanium White, Ivory Black, Ultramarine Blue, Winsor Violet e Permanent Rose. Depois de satisfeito com o tom base da pintura, em que foram utilizadas todas as cores que mencionei, operação indispensável para harmonizar o fundo com o desenho, comecei por distribuir a cor escura pela tela. Neste caso, não se pode dizer que comecei a pintar da sombra para a luz, ou do escuro para o claro, porque a cor é uniforme. Não pintei com preto puro: fiz uma ligeira mistura de Permanent Rose, para “aquecer” o Ivory Black. Utilizei seguidamente o Permanent Rose com uma pitada de Titanium White, apenas para reforçar o fraco poder de cobertura do cor-de-rosa.
Francamente gostei do resultado. Não me perguntem por que razão não continuou a série.
Ah! É verdade! Deixei sem título para não condicionar os comentários…
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4 comentários:
Mais importante que o projeto é o processo. A vida é o entre-tanto. O caminho que se faz a partir, por exemplo, da planta de uma cidade. O "central distrit business" bem no centro do teatro humano. O coração e o sangue. As artérias. O fundo lilás é a esperança (dizem que é o verde, mas nós achamos que não). As casas a vermelho e preto porque se trata de um bairro anarquista. Onde cada um é Um. Nú abraço.
Luís: Pensei, nesta (hipótese de) série chamá-la "A Invenção...". Neste caso é "A Invenção... das Cidades". Tenho como projecto, fazer " A Invenção... da Vida; ... do Fogo; ... da Luz; ... do Amor".
Vamos ver o que acontece... Nada; tudo?! O nada que é tudo... A anarquia sem planta, sem escala: sem limites...
Abraço,
António
Não se pode dizer que o Autor condicione, neste caso, o Pintor, condicione o olhar e a imaginação de quem lhe aprecie a obra e isto na medida em que é o primeiro que a concebe e realiza e, nesse sentido, aquilo que ele faz é uma oferta ao segundo, independentemente de, no resultado final que pretenda e consiga atingir, seguir o caminho de a este propor uma determinada perspectiva ou apenas lhe apresentar uma proposta de reflexão, sempre o admirador pode encontrar espaço para aí deixar voar o seu imaginário e quando encontra elementos, ideias, nuances, sensações, até que ao criador possam ter escapado na execução da peça, tanto melhor para ele, será, direi eu, o melhor sinal de quão frutuosa e enriquecedora pode ser a sua criação. Com título ou sem título...
Aqui sigo o olhar do Luís Carlos e na verdade o que esta pintura sugere é, à primeira vista, a planta esquematizada de uma qualquer rede citadina, há até aquilo que poderíamos tomar como a sugestão de uma radial, bem no centro, normalmente nas grandes cidades modernas, o CBD de que o Luís fala.
É então uma pena que não tenhas dado continuidade a este trabalho porque o vejo numa linha de olhar que poderíamos fazer remontar à nossa Vieira que cedo nos abandonou mas jamais nos esqueceu e que criou uma obra singular e uma linguagem própria na pintura moderna que, pelo menos para mim, no olhar com que sempre a entendo e sinto, muito tem a ver com a cidade, a expressão da cidade, a luz da cidade, a amálgama que ela é e, quando nos deixamos embeber nos seus ritmos e palpitares, nos faz ser também.
E digo que é pena porque pelo menos aqui, deixas como que a promessa de que serias capaz de caminhar por essa tradição - se assim aqui se pode falar - com um cunho pessoal e muitíssimo interessante.
De qualquer forma, o muro velho e ferido, poderia ser também uma alegoria desta tua pintura, a ruína em que as coisas ficam quando deixamos de cuidar delas e a vida que tantos muros tem e tantos muros transpõe e derruba, também a vida se arruína sempre que nos esquecemos de a tratar com cuidado e, claro, com muito carinho também.
Seria pois uma metáfora destes tempos que correm, em que nos (seremos de facto nós?) estamos a esquecer que a vida, afinal estamos a falar de pessoas, de seres humanos, não pode ser tratada como se se tratasse de um caco velho ou, se quisermos, um muro arruinado.
Aquele abraço, companheiro
Luís
Luís F. de A. Gomes: Se pensarmos que somos uma águia levando connosco no voo os nossos olhos (a águia veria "só" o que lhe interessasse para a sua sobrevivência), teríamos uma visão daquilo que está nessa tela se, por acaso ou escolha, estivéssemos a sobrevoar a cidade de Évora.
A distância escolhida ainda permite reconhecer os sinais da parte central dessa urbe e dos caminhos que a ela conduzem.
A nossa (queríamos nós, porque ela escolheu ser francesa não esquecendo a maneira como foi tratada e o seu marido quando precisou de "nós" (não sei que termo utilizar para referir Portugal e Salazar sem me incluir) e teve de rumar para o Brasil)) Vieira continuou a viagem para o espaço e de lá, desse mundo etéreo onde se situou, vendo apenas luz, utilizou as sombras necessárias para que nós, pobres mortais, pudéssemos acompanhá-la nessa visão celestial...
Talvez um dia conclua esse voo...
Agora vou pousar! Até logo, na Festa!
Abraço,
António
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