quarta-feira, 4 de julho de 2012

Manuel de Sousa - Poemas


1.

“Cascatas De Agitado Silêncio”

Gosto do som límpido do silêncio à volta
Oiço o zumbido ressequido de seus rumores
Vejo na mente a sombra dos pensamentos
Arrasto-me empoeirado agarrado a eles

Olho por entre a névoa para a palma da mão
Leio nela um destino há muito predestinado
Tiro nisso à sorte a sorte que nunca pressenti
Dou-me conta que palmilho por entre milagres

Pinto o reflexo de minha cara na água agitada
Remexo com os dedos a sina oculta nos olhos
Pego nas palavras para arremassa-las à parede
Fico especado de espanto a lê-las ao acaso

Encontro-me parado com as pernas trocadas
Fico atolado no chão à procura do desconhecido
Nao arredo o pé daqui com receio do resto
Marco então passo em tom de marcha lenta

Vergo-me abstracto a cada momento sem sentido
Recordo histórias que não recordo ter previsto antes
Recuo sem ir a lugar algum onde não haja saída
Alargo o infinito do Universo sem o saber determinar...

Vôo usando asas da cêra que retiro dos ouvidos...

Escrito em Luanda, Angola, a 27 de Junho de 2012, por manuel de sousa, em Homenagem ao “Silêncio Abosluto”, que nao passa nos dias de hoje, de mero desejo vazio, platónico, utópico e desprovido de sentido, em virtude dos muitos barulhos e rumores que nos enchem de permanentes e poluidores sons a paisagem, a mente e o pensamento.


2.

“Intemporal Capítulo De Tempo Indefinido”

Fujo o mais que posso dos eventuais maus olhados
Escondo bem a cabeça debaixo de um dos braços
Enrolo-me completamente em todo tipo de dúvidas
Alargo horizontes escondidos no limiar do pôr-de-Sol

Cravo as unhas encarquilhadas nas areias infinitas
Moldo cada pisca de olho à propria imagem
Tempero cada dia à semelhança de muitos deles
Piso a linha quando ela está esticada ao limite

Saio assim de cena sem mácula negativa aparente
Varro os pecados para o lado oculto de cada esquina
Viro costas às pressas ao brilho da Lua cheia
Troco as curvas a meio de certas questões

Meto-me em alhadas sem gosto definido algum
Vejo os barcos passarem vazios de carga moral
Meço as consequências desprovidas de medidas
Cuspo na sopa de olho virado para o umbigo

Atiro a moeda da sorte ao vento que passa
Planto árvores de frutos sagrados com raiz quadrada
Lavo as mãos para a eternidade sem sangue nelas
Viro as páginas dos livros todos de uma única vez...

Encerro mais um intemporal capítulo aberto ao tempo..

Escrito em Luanda, Angola, a 29 de Julho de 2012, por manuel de sousa, em Homenagem ao Tempo intemporal e ao seu eterno fluxo...


3.

“Mergulhado No Mesclado Sem Nexo Da Razão”

Vejo-me só a perseguir a sombra
Vou atrapalhado de marcha atrasada
Vale-se-me sentir quase tudo inverso
Vagueio por entre uma estranha solidão

Penetro nas entranhas de vozes singulares
Pergunto o que serei eu nesta existência
Praguêjo com palavras que não compreendo
Perco-me tantas vezes a olhar o desconhecido

Meço as distâncias sem nocão do tempo
Mergulho no abismo das questõe sem resposta
Marco a passagem sem me aperceber disso
Masco perguntas mescladas sem nexo algum

Largo a âncora numa praia que não existe
Levo a saudade atada à cintura de outrem
Lamento estar parado a escutar as ondas
Lavo os restos que sobraram na memória

Atiro displicentemente o laço sem pensar
Acho que estou longe do objecto que me fere
Alio-me aos movimentos aleatórios das gentes
Alheio-me do quer que seja realmente vísivel...

E zarpo sem vento ou vela movido pelo ar da razão...

Escrito em Luanda, Angola, a 01 de Julho de 2012, por manuel de sousa, em Homenagem ao grande fenómeno da Mente que são as Memórias...

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