quinta-feira, 19 de julho de 2012

d´Arte - Conversas na Galeria XCVIII

Sem Título Autor António Tapadinhas

Acrílico sobre Tela 70x50cm

Numa entrada, pedi aos meus amigos e visitantes, a sugestão do título para uma obra de que eu fazia a descrição, enquadramento e técnica usada. Como seria de esperar, as colaborações foram muitas e de grande qualidade.
Um amigo, deixou-me o seguinte comentário:
Deixo-te um desafio. Correndo apenas o senão...de não ser do teu agrado.

Nem que seja um mero exercício. Apresenta uma tela tua, com título, e sem a descrição ou brilhante narrativa como fazes.
Deixa ser o teu visitante, a descobrir (a interrogar) a sensibilidade da tua criatividade. Depois... BUM! Descoberta do facto.


Pois bem! O desafio foi aceite, mas com um pormenor diferente: o quadro não tem título para não cercear a criatividade a ninguém.

A tela está aí: é toda vossa!

2 comentários:

Luís F. de A. Gomes disse...

O Carlos Paredes foi um génio na música, não só como intérprete, enquanto guitarrista de excepção que o fez ser capaz de transportar a música erudita para esse tão popular instrumento, igualmente enquanto compositor pelo que conseguiu no domínio da recriação que introduziu na sonoridade própria desse mesmo instrumento que, até ele, pouco mais tinha feito dele que o deixá-lo confinado à linguagem do fado. Se o fado é uma das nossas expressões musicais e a guitarra é o seu maior símbolo instrumental, então Carlos Paredes é um dos expoentes da música mundial pelo que entre nós fez com tais tradições e pelos caminhos que abriu, tanto para o estilo como para o instrumento em causa. E foi um homem generoso, como todos os grandes, humilde e modesto, apenas concentrado em deixar que os dedos fizessem as cordas expressar o que lhe ia na alma e com isso contribuir na sua pequena parte para que a humanidade se engrandecesse e, com isso, ganhasse um pouco mais de belo.
O título já se me varreu da memória, mas ficou lá um dos seus trabalhos com que quis confrontar musicalmente as culturas dos homem da montanha e os da planície enquanto alegoria da humanidade rude e indomável perante os elementos, concentrada sobre si na coragem de uma sobrevivência adversa e essa outra nossa faceta que é a de olhar o longe e deixar-se embevecer pelo ideal de querer construir um mundo melhor.
Dos Andes à margem sul, porque a Humanidade é apenas uma, é uma ideia que nos pode ocorrer perante esta tua pintura, que tanto nos remete para o perfil ribeirinho de uma cidade – e essa poderia ser muito bem Lisboa – como para uma recriação imaginativa dos padrões das mantas andinas com que se aconchegam os troncos quando o efeito da altitude se rende perante o frio. Mas o problema é que também podemos começar a ver nela a pela de búfalo pintada, com que os outros ameríndios, os das planícies e pradarias do Norte, contavam as suas histórias mitológicos e expressavam a(s) geografia(s) das sua itinerâncias. E depois… Depois ficaríamos a brincar com a tela, interrogando-a e dela tirando narrativas, levando-a provavelmente a pontos que à partida tomaríamos por surpreendentes.
O título, perante tudo isto, acabaria assim numa impossibilidade por jamais conseguir abarcar todo esse percurso que à imaginação caberia trilhar pelo que, a querer estabelecê-lo, nos teríamos que render a uma dessas interpretações, aquela de que mais gostássemos.
Neste sentido, poderia estar agora a imaginar um pintor, num futuro ainda mais ou menos distante, refastelado num vaivém, pintando uma parcela de Terra como a vê desse lugar da sua viagem para a colónia lunar, puxando pelos seus conhecimentos geográficos para tentar identificar a cidade à beira de um rio. Então como título poderíamos propor, “Vermelho, é a cor da cidade”. Isto sem qualquer intuito subversivo, como é bom de ver.

Aquele abraço, companheiro
Luís

A.Tapadinhas disse...

Tudo aquilo que escreveste sobre a minha pintura, serve-me, no imediato, para ter em atenção a força de um título para um quadro, ou seja, o: "Sem Título"!

Os caminhos que a tua imaginação percorreu, só foram possíveis porque na tua frente estava uma região inexplorada e não um caminho balizado pelas palavras do título.

Sendo assim, vou, sempre que possível, deixar que a imaginação do observador encontre uma explicação diferente da minha, para o que estiver plasmado na tela...

Para bem de todos, ou noutras palavras, a imaginação ao poder!

Abraço,
António