terça-feira, 3 de julho de 2012

FRESCOS


O Sol está pálido, as árvores, cada vez mais verdes no pequeno aquário encimado por uma enorme miragem azul. Intraespaço de borboletas daqui p’rá ‘li, na forma de um éle imaginário, entre as sombras que se formam numa floresta suspensa nas nuvens que desfilam para o Norte, na direcção do vento.

O Sol está pálido

2 comentários:

A.Tapadinhas disse...

O Sol (como o País) está pálido...

...e as nuvens que desfilam (a toque de caixa) seguem para onde lhe indicam, como carneiros para o matadouro...

Abraço,
António

Luís F. de A. Gomes disse...

Nesse caso teria sido um poema premonitório, mas não foi. Estávamos na inocência dos vinte anos - e poucos, esta série de trabalhinhos terá sido escrita entre oitenta e um e oitenta e quatro do século passado - e a pena, nestes casos, apenas queria registar aquilo que os olhos viam, os frescos, no papel que não na(s) parede(s).

Mas que o Sol, nos dias que passam, anda pálido por estas paragens, lá isso não deixa de ser verdade e pálido, provavelmente, é até um favor.

A alegoria que quiseste ver neste fresco, leva-me a pensar que os tempos vão mesmo escuros.
Pessoalmente, estou convencido que estamos a assistir a uma guerra - isto pode parecer um exagero, mas dou comigo a pensar que oxalá o fosse - nunca antes vista. Não como aquelas que se fazem com exércitos e a violência das armas e muito menos daquelas que se fazem entre estados, antes uma guerra de um consórcio - mais ou menos tácito nuns casos e manifestamente objectivado em outros - de interesses - falta uma palavra para designar o fenómeno - sobre o povo anónimo que, de uma maneira ou de outra, vive do esforço do seu trabalho e das suas capacidades empreendedoras - as vítimas já não são só os trabalhadores por contra de outrém. Pessoas como tu e eu, estão do lado baixo que tem a sola da bota por tecto no quotidiano. Quer isso dizer, como os demais, estamos tramados.

Resta-nos saber encontrar uma cavilha mais alta, bem mais alta que nós.
Sobretudo, resta-nos esperar que a Humanidade seja capaz de sobreviver aos efeitos que essa guerra terá na nossa casinha comum, este lindo planeta que é o nosso. Se assim for, tenho a certeza que terá mudado de rumo e o primeiríssimo passo para tal, é a auto-consciência individual daqueles que vivem o presente, pois só ela lhes poderá dizer que aquela mudança começa no comportamento e nas atitudes de cada um. Os que forem capazes de o fazer, serão os primeiros cidadãos de uma nova civilização em que a barbárie será este modo de vida que nos estão a impôr por estes dias.

E vê lá tu como as coisas são.
Quando eu escrevi este poema, nada mais tinha em vista que o registo de um simples momento de olhar.
Fizeste-me acabar a olhar pelo tempo.

Por isso, aquele abraço, companheiro
Luís