sexta-feira, 30 de maio de 2014

A Malva


por Miguel Boieiro

Creio bem que toda a gente, mesmo os citadinos, conhece a Malva silvestris L., planta abundante em todas as estações do ano, com grandes folhas palmatilobadas e flores com cinco pétalas separadas, que vão da cor branca à violácea. Por isso, dispenso-me de fazer aturadas descrições botânicas.

Pois a malva é toda boa, desde as raízes, passando pelos caules, as folhas, as flores e os frutos (que os miúdos chamam “queijinhos”). O seu uso não possui quaisquer contraindicações.

A verdade é que, hoje em dia, a facilidade com que se chega à farmácia para o fornecimento de qualquer medicamento de síntese química, enubla completamente o papel, outrora precioso, das plantas nossas amigas, em que a malva estava em primeiríssimo plano. Ficaram, é certo, ditos e provérbios, mas eles parece servirem apenas para brincar: – “Vê lá se também queres que te lave o …com água de malvas!”
Este dito jocoso, ilustra, às mil maravilhas, um dos usos comuns da malva, como anti inflamatória, desinfetante e calmante.

Já na antiga Grécia, a malva, considerada planta sagrada, utilizada de inúmeras formas, servia para combater todas as doenças conhecidas: abcessos, acne, furúnculos, picadas de insetos, hemorróidas, obstipações, inflamações oculares, bronquites, faringites, etc., etc. Aliás, Hipócrates, o chamado pai de medicina, recomendava-a como componente, em praticamente todos os preparados.

A malva pertence à família das Malváceas (outra espécie valiosa desta família é a alteia que, a seu tempo, analisaremos) e é uma herbácea bienal, ou mesmo perene que medra em caminhos, baldios e lixeiras onde existem solos porosos, ricos em azoto. Se as condições forem as ideais, ultrapassa facilmente o meio metro de altura.

Na sua constituição química sobressaem as mucilagens que possuem virtudes curativas como elementos calmantes, emolientes, desinfetantes e laxativos, para além de taninos, pró vitamina A e vitaminas B1, B2 e C.

Usa-se, quer internamente (infusões e decocções), quer externamente (lavagens, gargarejos, cataplasmas e preparados com substâncias oleosas).

Dizem que uma cataplasma feita à base de malvas produz efeitos quase milagrosos no tratamento de furúnculos.

Com as folhas tenras da malva, a que se juntam hortaliças, confeciona-se (ou confecionava-se) uma sopa muito apreciada, descrita desde remotas eras.

Para terminar, transcrevo, com a devida vénia, as mezinhas que o Dr. Oliveira Feijão prescreve na sua conhecida obra “Medicina pelas Plantas”:

“O infuso das flores (30/1000), adoçado com mel, é usado contra bronquites, tosse, sarampo, escarlatina, varicela, etc. O cozimento da raiz (60/1000) é um bom expectorante, tomado na dose de várias chávenas por dia. O cozimento das folhas (50/1000) emprega-se em clisteres, irrigações vaginais, gargarejos, pensos para feridas, doenças da pele, hemorroidal, etc.”. 

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