COMO UMA CANÇÃO PARA
CANTAR ?
Cristas de ondas
tecidas de linho, acordes de guitarras, cheiro doce de terra - pasto maduro - lambida pelo mar, azeite, pão e vinho, caruma
de pinheiro recortando a costa.
Povo marinheiro de
aventuras vividas e epopeias sonhadas - vislumbres do futuro - tecido no
cordame das naus, envolto nos ventos do mar debruçado na amurada, desafiando
Adamastores e acasos desconhecidos que te queriam derrotar.
Olhos brilhantes em rostos
tisnados de faina e maresia, músculos tensos no trabalho, peitos frementes num
afã de chegar mais além e descobrir, conhecer e integrar para que o mundo
ficasse mais mundo, ficasse mais perto e
maior.
Rostos talhados em
geografia de afectos, língua que se adoça no soletrar do que é nosso: Mãe, Pai,
País, arrepio que nos percorre da memória à raiz.
Como foi possível que te
deixasses assim domar?
que falta para que num
arreganho te ergas de novo e sempre, na construção do devir por que o mundo
espera?
Sim, que te falta?
Vocação não, pois que
te nasce no ventre e no instinto simples do respirar.
Que te falta então para
que sejas ainda mais Povo e me faças ainda mais teu?
Descrença em quem te
(des) governa atraiçoando o destino que uns profetizaram?
Talvez seja hora de te
elegeres, te assumires.
Talvez sim, talvez não
…
Será legítima a indecisão
desde que a in-vontade e o des-querer não sejam a razão.
Talvez seja a hora de
partires de novo repartindo-te, por antigos destinos, outras paragens onde se
repercuta como um eco a tua velha língua de trovar, África, Brasil, Índias, …
mar…
Ou onde desde há muito
te reconhecem, te respeitam e acolhem, … Mediterrâneo, mar…
Porquê, para quê então esta
fidelidade canina, inferior e continental a uma Europa que não te reconhece nem
te respeita?
Porquê se há tantas
ondas no mar?
Fotos: Edgar Cantante; Texto: Manuel João Croca
2 comentários:
Sim, é de um novo Império que se trata... sem imperador.
Abraço.
Pois, Luís.
Mas, mesmo ainda antes de ser império, que seja propósito, que seja deriva, que seja missão.
Ou então, não.
A voz a quem ela pertence, o sentir onde cada coração bate.
Que cada um sinta, reflicta e, depois, fale e aja.
Talvez então.
Abraço.
Manuel João
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