domingo, 25 de maio de 2014



                                                                               18/2014

COMO UMA CANÇÃO PARA CANTAR ?



Cristas de ondas tecidas de linho, acordes de guitarras, cheiro doce de terra -  pasto maduro -  lambida pelo mar, azeite, pão e vinho, caruma de pinheiro recortando a costa.


Povo marinheiro de aventuras vividas e epopeias sonhadas - vislumbres do futuro - tecido no cordame das naus, envolto nos ventos do mar debruçado na amurada, desafiando Adamastores e acasos desconhecidos que te queriam derrotar.

Olhos brilhantes em rostos tisnados de faina e maresia, músculos tensos no trabalho, peitos frementes num afã de chegar mais além e descobrir, conhecer e integrar para que o mundo ficasse mais mundo, ficasse  mais perto e maior.

Rostos talhados em geografia de afectos, língua que se adoça no soletrar do que é nosso: Mãe, Pai, País, arrepio que nos percorre da memória à raiz.

Como foi possível que te deixasses assim domar?
que falta para que num arreganho te ergas de novo e sempre, na construção do devir por que o mundo espera?
Sim, que te falta?

Vocação não, pois que te nasce no ventre e no instinto simples do respirar.


Que te falta então para que sejas ainda mais Povo e me faças ainda mais teu? 
Descrença em quem te (des) governa atraiçoando o destino que uns profetizaram?
Talvez seja hora de te elegeres, te assumires.
Talvez sim, talvez não …
Será legítima a indecisão desde que a in-vontade e o des-querer não sejam a razão.

Talvez seja a hora de partires de novo repartindo-te, por antigos destinos, outras paragens onde se repercuta como um eco a tua velha língua de trovar, África, Brasil, Índias, … mar…
Ou onde desde há muito te reconhecem, te respeitam e acolhem, … Mediterrâneo, mar…
Porquê, para quê então esta fidelidade canina, inferior e continental a uma Europa que não te reconhece nem te respeita?

Porquê se há tantas ondas no mar?


Fotos: Edgar Cantante; Texto: Manuel João Croca

2 comentários:

luis santos disse...


Sim, é de um novo Império que se trata... sem imperador.

Abraço.

MJC disse...


Pois, Luís.

Mas, mesmo ainda antes de ser império, que seja propósito, que seja deriva, que seja missão.

Ou então, não.

A voz a quem ela pertence, o sentir onde cada coração bate.
Que cada um sinta, reflicta e, depois, fale e aja.

Talvez então.

Abraço.

Manuel João