LEONOR
CORREIA DE MATOS
“Sim África”! Soa
a uma declaração de amor. Sim África sem condições nem elocubrações
filosóficas.” É assim que António
Pinto da França, ex-embaixador de Portugal em Angola, define o conteúdo do
livro intitulado “SIM ÁFRICA”, publicado em 2006 pela Editora Prefácio.
A autora, nascida em
1925 na histórica Catumbela, licenciada em Direito pela Universidade Clássica
de Lisboa, discorre sobre inúmeros assuntos respeitantes ao contacto de
quinhentos anos entre os povos angolano e português: as primeiras relações com
o reino do Congo; a deslocação para Sul e a fundação de Luanda; a fixação em
Benguela e a lenta penetração no Bié; a vida aventurosa do sertanejo Silva
Porto; as guerras com a rainha Jinga; as viagens exploratórias de Brito Capelo,
Ivens e Serpa Pinto; a passagem por Angola de Stanley e Livingstone; as
epopeias de pacificação de Paiva Couceiro e João de Almeida; a influência
decisiva dos missionários.
Debruça-se ainda sobre
os problemas da escravatura e a sua lenta erradicação. Recorrendo a Cadornega,
o incontornável, escreve a autora: “Quanto à exportação
global de escravos, então a mais relevante do território, Cadornega fará as
suas contas, provavelmente a necessitar de observação cuidada: “Haverá cem
anos que começou a conquista destes reinos e têm ido um ano por outro
despachados deste porto (Luanda) oito a dez mil cabeças de escravos, que são
quase um milhão de almas, salvo melhor aritmética.” (segundo a autora, estes números não estarão totalmente correctos).
Reconheça-se, no entanto, que o número de
escravos exportados deverá ter sido elevado: porque na sua venda estavam
interessados os senhores africanos, grandes e pequenos; porque, para os
portugueses, esse se tornara um importante comércio; porque, à espera de mão-de-obra
abundante e submissa, aguardava, ávido, um amplo mercado de várias nações com
interesses coloniais.”
Analisa, também, as
particularidades da língua bantu, dos povos, seus usos e costumes. Como
curiosidade refira-se que, no início de cada capítulo, é colocado um provérbio ressaltando
a pragmática sabedoria usada pelos africanos. Por exemplo, no capítulo dedicado
aos bienos e á importância que a si mesmo atribuíam quando acompanhavam os
exploradores nas viagens pelo interior, está este provérbio: “Sou
pena de avestruz, não desapareço na multidão”.
Tudo isto e mais coisas
exemplarmente condensadas em 113 páginas apenas.
A autora é também
responsável pela tradução para português do romance “Exodus”, do escritor Leon
Uris.
Tomás Lima Coelho
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