sábado, 3 de maio de 2014

Cavalinha


por Miguel Boieiro

Pela grande variedade de solos a que se juntam diversos microclimas, o nosso País pode justamente considerar-se uma das reservas mundiais da flora medicinal, dado que dispõe de ótimas condições para a produção de variadíssimas espécies. Daí que muito dificilmente se possa compreender que se importem determinadas plantas medicinais e seus extratos, de países onde, por vezes, é necessário criar condições artificiais de produção.

Sobre a planta medicinal que iremos abordar, podemos afirmar que só o concelho de Sesimbra possui, espontaneamente, quantidade suficiente para abastecer todo o mercado europeu. E isto de uma forma absolutamente natural: não é preciso semear, nem adubar, nem sachar, basta simplesmente colher.

Estamos a falar da cavalinha ou Equisetum arvense L., planta vivaz da família das Equisetáceas que teve a sua origem em épocas geológicas muito recuadas. Esta planta primitiva, autêntico fóssil vivo, não floresce, não possuindo, portanto, sementes. A reprodução processa-se através de esporos contidos nos esporângios que se encontram agrupados na espiga com que termina o primeiro caule da planta. Feita a dispersão dos esporos, os caules primitivos, de cor acastanhada, murcham. Nascem então outros caules verde claros, canelados, ocos e ramificados que se dividem em segmentos separados por pequenos nós. Os segundos caules, estéreis, que chegam a atingir mais de um metro de altura, são os que possuem atributos medicinais.

A cavalinha propaga-se com muita facilidade em solos arenosos e húmidos, constituindo uma erva daninha, flagelo dos agricultores. Deve ser colhida no verão e seca à sombra. Depois de cortada em pequenos troços, convém guardá-la em recipientes herméticos. Conserva as suas propriedades durante alguns anos.

Os naturopatas são unânimes acerca das extraordinárias virtudes curativas da cavalinha, a qual contém potássio, ferro, sódio, magnésio, enxofre e sobretudo, silício. O famoso naturista Kneipp considerava a cavalinha, uma das doze plantas medicinais mais incontornáveis e recomendava-a para o combate às seguintes enfermidades: gripes, catarros, resfriados, reumatismos, gota, hidropisia, ciática, inchações, herpes, cárie, pés gretados, hemorroidal, cálculos, doenças dos rins, fígado, baço e bexiga, hemorragias e cancro. É na realidade uma lista impressionante mas ainda assim, incompleta. O espanhol Ferran Comas aconselha-a para o bócio, as inflamações oculares e a tuberculose. O médico chileno Lazaeta Acharan gaba a sua eficácia extraordinária na cicatrização de todo o tipo de feridas.

A rapidez com que estanca qualquer hemorragia é espetacular. Também não parece haver dúvidas de que a cavalinha limpa as impurezas do organismo, essencialmente por ação do silício solúvel de que é bastante rica.

O modo mais divulgado para beneficiar dos princípios ativos da Equisetum consiste em preparar uma infusão deixando ferver a planta pelo menos dez minutos. É conveniente não coar de imediato, pois a cavalinha continua a libertar princípios ativos após a fervura. O “chá” torna-se assim mais concentrado, o que se constata pela sua cor avermelhada. Para meio litro de água são necessários 50 g de cavalinha seca. Se for em verde há que duplicar o seu peso. O “chá” de cavalinha possui paladar discreto mas agradável e não apresenta contra-indicações.

A utilização do concentrado da cozedura da cavalinha para juntar à água do banho dá também bons resultados. Para males respiratórios aconselha-se a aspirar o vapor da cozedura da planta. Da cavalinha fresca pode extrair-se o respetivo suco, que é a melhor maneira de se aproveitarem as suas excecionais propriedades. Infelizmente, importamos este extrato da Alemanha a preços altíssimos.



Enfim, há ainda quem recomende misturar os rebentos tenros nas saladas cruas, ou usar o pó para temperar a comida já que a cavalinha é, comprovadamente, um óptimo remineralizante.



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