por Miguel Boieiro
Pela grande variedade de solos a que se juntam diversos
microclimas, o nosso País pode justamente considerar-se uma das reservas
mundiais da flora medicinal, dado que dispõe de ótimas condições para a
produção de variadíssimas espécies. Daí que muito dificilmente se possa
compreender que se importem determinadas plantas medicinais e seus extratos, de
países onde, por vezes, é necessário criar condições artificiais de produção.
Sobre a planta medicinal que iremos abordar, podemos afirmar
que só o concelho de Sesimbra possui, espontaneamente, quantidade suficiente
para abastecer todo o mercado europeu. E isto de uma forma absolutamente
natural: não é preciso semear, nem adubar, nem sachar, basta simplesmente
colher.
Estamos a falar da cavalinha ou Equisetum arvense L., planta vivaz da família das Equisetáceas que
teve a sua origem em épocas geológicas muito recuadas. Esta planta primitiva,
autêntico fóssil vivo, não floresce, não possuindo, portanto, sementes. A
reprodução processa-se através de esporos contidos nos esporângios que se
encontram agrupados na espiga com que termina o primeiro caule da planta. Feita
a dispersão dos esporos, os caules primitivos, de cor acastanhada, murcham.
Nascem então outros caules verde claros, canelados, ocos e ramificados que se
dividem em segmentos separados por pequenos nós. Os segundos caules, estéreis,
que chegam a atingir mais de um metro de altura, são os que possuem atributos
medicinais.
A cavalinha propaga-se com muita facilidade em solos arenosos
e húmidos, constituindo uma erva daninha, flagelo dos agricultores. Deve ser
colhida no verão e seca à sombra. Depois de cortada em pequenos troços, convém
guardá-la em recipientes herméticos. Conserva as suas propriedades durante
alguns anos.
Os naturopatas são unânimes acerca das extraordinárias
virtudes curativas da cavalinha, a qual contém potássio, ferro, sódio,
magnésio, enxofre e sobretudo, silício. O famoso naturista Kneipp considerava a
cavalinha, uma das doze plantas medicinais mais incontornáveis e recomendava-a
para o combate às seguintes enfermidades: gripes, catarros, resfriados,
reumatismos, gota, hidropisia, ciática, inchações, herpes, cárie, pés gretados,
hemorroidal, cálculos, doenças dos rins, fígado, baço e bexiga, hemorragias e
cancro. É na realidade uma lista impressionante mas ainda assim, incompleta. O
espanhol Ferran Comas aconselha-a para o bócio, as inflamações oculares e a
tuberculose. O médico chileno Lazaeta Acharan gaba a sua eficácia
extraordinária na cicatrização de todo o tipo de feridas.
A rapidez com que estanca qualquer hemorragia é espetacular.
Também não parece haver dúvidas de que a cavalinha limpa as impurezas do
organismo, essencialmente por ação do silício solúvel de que é bastante rica.
O modo mais divulgado para beneficiar dos princípios ativos
da Equisetum consiste em preparar uma
infusão deixando ferver a planta pelo menos dez minutos. É conveniente não coar
de imediato, pois a cavalinha continua a libertar princípios ativos após a
fervura. O “chá” torna-se assim mais concentrado, o que se constata pela sua
cor avermelhada. Para meio litro de água são necessários 50 g de cavalinha
seca. Se for em verde há que duplicar o seu peso. O “chá” de cavalinha possui
paladar discreto mas agradável e não apresenta contra-indicações.
A utilização do concentrado da cozedura da cavalinha para
juntar à água do banho dá também bons resultados. Para males respiratórios
aconselha-se a aspirar o vapor da cozedura da planta. Da cavalinha fresca pode
extrair-se o respetivo suco, que é a melhor maneira de se aproveitarem as suas
excecionais propriedades. Infelizmente, importamos este extrato da Alemanha a
preços altíssimos.
Enfim, há ainda quem recomende misturar os rebentos tenros
nas saladas cruas, ou usar o pó para temperar a comida já que a cavalinha é,
comprovadamente, um óptimo remineralizante.
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