Manuel Henrique Figueira
Munícipe em Palmela
Munícipe em Palmela
(manuelhenrique@netvisao.pt)
Todo o local é nacional (faz parte de um dado
nacional) e todo o nacional é local (faz parte de um todo mais abrangente,
mais global).
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Saiu mais um importante contributo para
a história de Setúbal, o livro de Albérico Afonso Setúbal sob a Ditadura Militar (1926-1933), que é parte de um
projecto mais vasto que visa colmatar a lacuna ainda existente quanto a
instrumentos de trabalho de história local.
Inventaria factos do passado «que
ficaram e se tornaram noutra coisa», factos que foram a «vida que foi (…) sendo
até se tornar a vida que veio depois», como nos diz o autor, decorridos no
período de sete anos de duração do regime da Ditadura Militar saído do 28 de
Maio de 1926.
O 1.º volume deste projecto – História e Cronologia de Setúbal (1248-1926)
−, publicado em 2011, abrange essencialmente o período desde 1249 (data do 1.º
foral de Setúbal, antes da qual a história da cidade ainda não se encontra
estabelecida) e 1926. Com 336 páginas (incluindo a «Iconografia Setubalense»),
está dividido em três partes: «Setúbal Medieval e Moderna», de 15/8/1248 (abertura
da igreja de St.ª Maria da Graça) a 15/12/1819 (nascimento de António Maria
Eusébio, o poeta popular Calafate ou Cantador de Setúbal); «Setúbal Liberal»,
de 24/8/1820 (criação de uma «Sociedade Patriótica» angariadora de apoios para
o regime liberal) a 10/1910 (greve dos carroceiros locais); «Setúbal
Republicana», de 5/10/1910 (incêndio na Câmara e ataque anticlerical à igreja
do Coração de Jesus e ao Convento de Brancanes) a 28/5/1926 (notícias do golpe
militar e dos salários em atraso dos trabalhadores da Câmara).
Uma introdução-resenha dos factos mais
importantes antecede as três partes, estruturando a identidade do período.
Termina com uma lista bibliográfica, um índice analítico (sempre útil) e 47
páginas da «Iconografia Setubalense» com reproduções fotográficas de documentos
raros.
O 2.º volume, alvo desta análise,
inicialmente previsto para abranger a Ditadura Militar e o Estado Novo, acabou
por se esgotar na primeira, tal o manancial de informação coligida. De
estrutura semelhante à do 1.º volume, a introdução-resenha é mais desenvolvida (77
páginas) e, no final, uma novidade, a biografia do anarquista Jaime Rebelo. Inicia-se
com a notícia da organização de um destacamento de forças de Infantaria 11 e de
Vendas Novas para interceptarem os revoltosos de Infantaria 33, de Lagos, e
termina com o apelo, a 17 de Março, à votação no plebiscito à Constituição de
1933.
Espera-se, portanto, o 3.º volume, sobre
os 41 anos da Ditadura Civil de Salazar e Caetano: período conhecido como
Estado Novo.
Com este projecto Albérico Afonso
continua Almeida Carvalho, Manuel Maria Portela e Peres Claro, mas com um nível
de exaustividade, rigor e riqueza de pesquisa das fontes (e informação
disponibilizada) sem paralelo com estes autores.
Conhecendo-se a obra publicada por
Albérico Afonso no âmbito académico, Salazar
e a Escola Técnica (Tese de Mestrado) e A
FPA: A Fábrica Leccionada – Aventuras dos tecnocatólicos no Ministério das
Corporações (Tese de Doutoramento), ou no âmbito da história local aquando
das comemorações do centenário da República, Setúbal: Roteiros Republicanos, entre outros títulos, a qualidade
da obra que analiso não nos surpreende.
Sobre a imprescindibilidade deste tipo
de instrumentos de consulta, no caso uma cronologia de factos históricos, tomo de
empréstimo as palavras de António Nóvoa (adaptadas) aquando da publicação de Imprensa de Educação e Ensino – Repertório
Analítico (séculos XIX-XX): «As dificuldades de consulta das publicações
periódicas e a percepção da sua importância como fonte para a História (…) [local]
tornaram bem nítida a necessidade de organizar instrumentos de identificação e
de descrição das revistas e jornais portugueses (…)». Embora Albérico Afonso vá
muito além da imprensa local como fonte essencial para o seu trabalho, as
entradas da mesma que nos apresenta são fundamentais em si e, ao mesmo tempo,
abrem-nos caminhos para outras consultas.
Sobre o reconhecimento científico da História local, e da sua importância, Clifford Geertz e Michel Foulcaut abriram espaço à modalidade de História escrita a partir de realidades particulares.
Sobre o reconhecimento científico da História local, e da sua importância, Clifford Geertz e Michel Foulcaut abriram espaço à modalidade de História escrita a partir de realidades particulares.
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