domingo, 8 de junho de 2014


20 / 2014


AINDA A PROPÓSITO DA ABSTENÇÃO


Neste fim de tarde aqui em Vale de Touros, olho pela janela e vejo o horizonte.
É uma paisagem campestre, natureza em estado puro.
No horizonte mais próximo havia em tempos um extenso olival cercado por pinhais.
O olival assinalava o esforço denodado do homem no trabalhar da terra e a sua existência dizia-nos que nem sempre a actividade humana na natureza é agressiva.
O homem abandonou a labuta e, em poucos anos, os pinhais invadiram o espaço.
Agora, quando olhamos, identificamos algumas oliveiras abafadas pela hegemonia dos pinheiros.
A acção permanente do homem era indispensável para a manutenção do olival e, ao ser interrompida, permitiu que a expressão mais selvagem e espontânea da natureza reconquistasse o território que lhe fora subtraído aquando da sua "domesticação".
Pessoalmente gosto muito de árvores.
Gosto de oliveiras, também de pinheiros, e de todas as outras.
Gosto mais de umas que de outras mas, gosto de todas.
Reconheço no entanto que, no caso, as oliveiras - quer dizer as azeitonas, o azeite, … - acrescentavam mais valor do que os pinheiros bravios.
Mais valor à paisagem, ao terreno, ao proprietário, ao país até.
Não conheço as causas para o abandono (fala-se de uma hipoteca a um banco) mas, provavelmente, todos prefeririam o olival ao pinhal só que …
Pois, intervir e cuidar são indispensáveis.
No social também é assim.
A construção e organização da sociedade dá trabalho, exige cuidados.
Quando cuidamos, podemos semear e colher o que quisermos. Quando abandonamos, somos normalmente invadidos pelo que calha, mesmo que o que calha não seja do nosso agrado.
Posto isto, acabei por concluir que, se calhar, é assim que é justo e como tal estará certo.


Manuel João Croca


Foto: Edgar Cantante

3 comentários:

A.Tapadinhas disse...

Apeteceu-me acrescentar uma negação e mudar uma palavra ao teu penúltimo parágrafo, para falar de outra coisa e ficar a fazer todo sentido (espero que não te importes):
Quando não votamos, "somos normalmente invadidos pelo que calha, mesmo que o que calha não seja do nosso agrado."

Abraço,
António

MJC disse...


E não é que fica muito bem?!

Pois claro.

Abraço.

Manuel João

MJC disse...


E não é que fica muito bem?!

Pois claro.

Abraço.

Manuel João