CHOVE EM BAGDAD
Ena pá, a Matilde teve um Domingo de galderice.
Saiu de manhã para a primeira aula de catequese a que se seguiu a presença na missa, tendo então recebido o convite para almoçar em casa dos avós da sua amiga Joana Alves que, segundo a mãe, foi prontamente aceite.
Para além da brincadeira, claro está, faz parte do pacote uma ida ao circo.
E agora que na tarde os pássaros regressam ao lar, ela ainda não voltou.
Rica vida, a do pardalito.
Ao dia de ontem seguiu-se a luz do Sol.
Enquanto fumei um cigarro à varanda, foi bonito de ver as velas, ao longe, evoluindo no estuário.
Pois em Bagdad, as forças das trevas continuam a fazer ouvir os sons do terror.
Mais um carro armadilhado, desta vez, tendo por alvo o Hotel Bagdad, o quartel-general da CIA naquela cidade. Uma dezena de mortos entre polícias e iraquianos e outros tantos feridos.
As forças aliadas não enfrentam apenas os acólitos do antigo regime de Saddam Hussein. Tal como escrevi em Abril, o Iraque é o actual campo de batalha da guerra mais vasta contra o terrorismo internacional. (1)
Ali já deixou de estar apenas em jogo a paz mundial; pelo confronto directo que lá acontece, neste momento, com a Al-Qaeda e afins, está igualmente em causa a vida, tal como a conhecemos, neste planeta. Aquela gente não se deterá em face do apocalipse.
Referindo-se a essa constelação, faço minhas as palavras do Mestre Vargas Llosa que passo a citar:
“(…) Todos eles – uns poucos milhares de fanáticos armados, isso sim, com extraordinários meios de destruição – sabem que se o Iraque chegar a ser uma democracia moderna, os seus dias estão contados e por isso desencadearam essa guerra sem quartel, não contra a ONU ou os soldados da coligação, mas sim contra o maltratado povo iraquiano. Deixar-lhes o terreno livre, seria condenar este povo a novas décadas de ignomínia e ditadura semelhantes às que padeceram sobre a autoridade do Baas.
Na verdade, perante este crime e os que virão – agora está claro que as organizações humanitárias e de serviço civil passaram a ser objectivos militares do terror – a resposta da comunidade de países democráticos deveria ser multiplicar a ajuda e o apoio à reconstrução e democratização do Iraque. Porque neste país está-se a travar actualmente uma batalha cujo desenlace transcende as fronteiras iraquianas e do Médio Oriente, e abarca o vasto domínio dessa civilização pela qual sacrificaram as suas vidas Sérgio Vieira de Mello, o comandante da marinha Manuel Martin Oar, Nadia Younes e tantos heróis anónimos.” (2)
Sinal de alegria e esperança.
Até ao momento foi bem sucedida a separação de dois siameses egípcios que estavam unidos pelas cabeças.
A operação teve lugar nos Estados Unidos da América e foi levada a cabo por cirurgiões daquele país e alguns colegas compatriotas dos bebés pacientes.
Valorizamos tão pouco esta nossa faceta de animais capazes de criarem o belo.
Entre nós, investigadores da Fundação Calouste Gulbenkian descobriram uma nova fórmula para prevenir e curar a malária.
Assim quisessem os homens
o paraíso
neste grãozinho perdido
na imensidão do cosmos.
Michael Schumacher sagrou-se campeão mundial pela sexta vez, com isso batendo o recorde cinquentenário de Juan Manuel Fângio que se cifrava nas cinco vitórias.
Entre os que permanecem no activo, ele é, provavelmente, a primeira figura desportiva a nível mundial.
Ah! Esqueci-me de registar.
Arnold Shwarzeneger foi eleito Governador, na Califórnia.
Só pode ser grande uma nação em que um imigrante, décadas depois, chega a tão elevado cargo.
Agora que já jantámos, a Margarida lê uma história para a mãe e a irmã.
Assim se faz a felicidade antes dos pardalitos se entregarem aos lençóis o que acontecerá daqui a pouco.
Alhos Vedros
12/10/2003
NOTAS
(1) Gomes, Luís F. de A., A ESPADA E O BURACO NEGRO, pp. 103/104
(2)Vargas Llosa, Mário, COM AS BOTAS CALÇADAS, p. 35
CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
Gomes, Luís F. de A., A ESPADA E O BURACO NEGRO, Nota de Abertura do Autor, Dactilografado, Alhos Vedros, 2003
Vargas Llosa, Mário, COM AS BOTAS CALÇADAS, DN8, nº. 358, In “Diário de Notícias”, nº. 49142, de 11/120/2003
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