Um País a fingir que não
sente a Paixão que o atormenta – o eterno Adiamento
António
Justo
Visitei Portugal e encontrei nele um país florido e aromático
mas com tantos piolhos nos seus botões que escurecem sua alma e entristecem o
espírito de quem o vê.
Quem vê de fora nota em Portugal um país de orelhas caídas, a
caminhar como um burro obrigado a seguir um caminho determinado por outros;
observa nele um povo dividido em vítimas e delinquentes, mas todo unido no
sentimento comum da inocência.
Tem-se a impressão de uma nação em bulício que parece
persistir em viver numa atmosfera de fim da tarde, num clima de declínio, onde
não há democracia que lhe valha. Passamos do estado nação para o estado
partidário em que os partidos se tornaram parte do problema e não da solução.
Torna-se confrangedor como um povo inteiro é capaz de aguentar tanta intriga,
tanta corrupção e tanto atrevimento/cinismo partidário apresentado como
política para a nação.
Políticos e seus boys tomam conta de tudo; tomam conta do
Estado, tomam conta das nossas conversas, do nosso tempo, dos nossos
sentimentos, do nosso dinheiro e até do bem-estar da nossa alma. Para cúmulo da
tristeza: tudo isto sempre a acontecer sem que alguém se dê conta para poder
ter conta neles!
Aqueles, sempre ocupados num presente moribundo estão-se
marimbando para o futuro, entregue à água que corre debaixo da ponte, empregam
a maior parte do tempo a entreter o povo com banalidades ou rivalidades
pessoais. Vivem do lusco-fusco, da ambiguidade alimentada pela negatividade
odiosa, em coros de lamentações dos vários quadrantes políticos enquanto a
verdade e a sinceridade passeiam nas ruas da amargura. Num Estado assim
encontram-se, em estado de engorda, os oportunistas a viver do ajuste de contas
no parlamento e na opinião pública.
Tudo anda a
enganar, tudo finge não saber o que realmente sabe!
O Bloco (BE)
sente-se incomodado com a Europa e não quer o Euro mas finge acordo com o PS e
o PC.
O PC não
quer a Europa, nem a NATO, nem o Euro mas finge, à primeira, querer coligação
com o PS para depois deixar nas entrelinhas que isso seria burrice imperdoável.
O PS, para
se safar e agradar à outra esquerda, finge esquecer a democracia, a UE e a NATO
com que se comprometeu.
A coligação
governamental PSD/CDS quer tudo: quer Portugal, quer a UE e quer a NATO
fingindo que Portugal é independente.
O povo simples, esse coitado, para enganar a desilusão, quer
tudo e não quer nada; para tal parece contentar-se com o conto de fadas do 25
de Abril sem se preocupar com a democracia e a corrupção nela instalada pelos
históricos feitores da História de Abril.
Portugal encontra-se refém de um Estado parcial transformado
em Cavalo de Troia. Dentro dele prevalece um sistema partidário com jacobinos e
republicanos (maçónicos) além de outros sicranos e beltranos. Um regime
político incapacitado por um mercado de partidos e instituições afins, a
produzir bem-estar para si e para os irmãos. Num Portugal de Clubes, partidos e
seitas, num povo de cérebro bem lavado por chefes sem honra nem vergonha mas
peritos em disfarce, finge-se ser o que não se é.
Resultado: Um povo enganado, uma esquerda arrogante e uma
direita complexada e um Portugal triste a adiar-se ao toque de finados.
António
da Cunha Duarte Justo
Pegadas do
Tempo www.antonio-justo.eu
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