Fim-de-semana com chuva persistente e trovoada como solista. Ontem à noite, no regresso a casa, na Ponte Vasco da Gama, impressionavam os rasgões luminosos sobre Alcochete.
Mas aquilo que pareciam vir a ser dois dias de gato em sofá, acabaram com saídas de som e imagem.
Esta tarde toda a família rumou ao Centro Cultural de Belém para vermos a World Press Photo que à semelhança das exposições anteriores, mais uma vez ilustrou como os media mundiais se desdobram numa narrativa das desgraça e da infelicidade.
Chocou-me particularmente o instante do disparo com que um rebelde abateu um homem suspeito de roubar uma ventoinha.
O caminho da paz ainda é tão longo e complicado.
Em contrapartida, o serão de Sábado teve a magia de um concerto de Jonh Cale.
Uau! Duas horas repartidas entre sonoridades planantes que nos faziam sentir numa viagem entre as estrelas e aquele rock’rol com sotaque americano em que a melodia nos levava a balançar o corpo nas cadeiras.
Histórias de solidão e desejos, sonhos e contos de amor, harmonias sublimemente interpretadas por quem sempre procurou distinguir-se por cultivar uma atitude.
E a memória dos Velvet, ainda presente, como que assinalando que, mesmo na sequência de rupturas, os percursos humanos são cumulativos.
We want more! We want more! We want more!
Pena foi que o encore tenha sido tão só o “Aleluia” de Leonard Cohen, ao piano.
“-Ó pai! Abotoa-me o carapuço.” –Disse a Matilde, à saída do pavilhão da piscina, quando uma rajada de vento lhe descobriu os cabelos. Devo ter transmitido uma qualquer admiração a respeito do verbo e o pardalito ripostou em acto contínuo: “-Sim, este carapuço é abotoante, não vez que tem aí um abotoador?” –Apontando a presilha aderente que permite ajustar o capucho à medida do rosto.
Será que se perdeu o juízo e a decência?
Então um telejornal da TVI não transmitiu uma praxe que envolveu aquilo que seriam, se consumados, actos sexuais não consentidos?
Será que só pararemos na recuperação integral do circo romano?
E no meio da palhaçada que predomina na vida pública, depois do governo ter nomeado um homem saído da administração da Portucel para tutelar as florestas, a SONAE nega ter pedido tratamento especial para reforçar a sua posição naquele potentado da produção de papel.
Lá longe, na Universidade da Califórnia, no âmbito de um doutoramento sobre genética da longevidade, o biólogo português Nuno Arantes de Oliveira conseguiu prolongar a vida de um verme de quinze a vinte dias para mais de cento e oitenta o que, à escala humana, seria o equivalente a prolongar uma vivência média de setenta e cinco para seiscentos e setenta e cinco anos.
Se bem que ainda sem aplicações ou desenvolvimentos imediatos – o que, em minha opinião, abona a favor do Autor – estes estudos podem vir a subsidiar investigação no domínio do controle de doenças como a Parkinson, Alzheimer ou a osteoporose.
Estão a ver como nós somos tão bons como os melhores quando nos libertamos da canga partidocrática que nos sufoca?
Felizmente, neste caso, o cientista regressou ao país e, para bem de nós, para se lançar no mercado empresarial de biotecnologia. (1)
Trata-se da economia do futuro, aquela que caracterizará os novos países do primeiro mundo e, se queremos lá estar, é com gente desta que poderemos aspirar a tanto.
Um exemplo a destacar e, por parte das nossas autoridades, quer políticas, quer universitárias, a incentivar; mas essas têm mais com que se preocupar, é claro.
Ontem tivemos a festa benfiquista que inaugurou um novo estádio de futebol construído em tempo recorde – dois anos – e que, a todos os níveis, passa a ser o melhor do país e um dos eleitos a nível europeu e mundial.
Voltarei a falar neste assunto.
Por hoje ofereço-me à leitura
que a chuva continua a fazer ondular os reflexos luminosos nas poças de um solo saturado.
Alhos Vedros
26/10/2003
NOTA
(1) Firmino, Teresa, UM INVESTIGADOR, DUAS EMPRESAS DE BIOTECNOLOGIA, p. 37
CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Firmino, Teresa, UM INVESTIGADOR, DUAS EMPRESAS DE BIOTECNOLOGIA, In “Público”, nº. 4964, de 24/10/2003
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