Cada vez que alguém, prestes
a dirigir-se à população, arranca com "portuguesas e portugueses" dou
comigo a gritar um grito fininho que me dá cabo dos ouvidos.
Cerro os punhos e rosno
quando são machos com aquela condescendência oiticentista de dizer
"portugueses e portuguesas" com a entoação de quem se orgulha em
mostrar que se é moderno ao ponto de não se esquecer das mulheres. Diz aquele
sorriso meio-engatatão, meio-paternal: "Ah pois! Eu faço questão de incluir
o mulherio!"
Vamos lá por partes. Somos
todos portugueses. Todos nós, seja de que sexo ou de que sexualidade formos,
somos portugueses. Somos o povo português ou a população ou a nação portuguesa.
Como somos todos portugueses
quando alguém fala em "portugueses e portuguesas" está a falar duas
vezes das mulheres portuguesas. As mulheres estão obviamente incluidas nos
portugueses. Mas, ao falar singularmente das portuguesas, está-se
propositadamente a excluir os homens, como se as mulheres fossem portugueses de
primeiro (ou de segundo, tanto faz) grau.
Somos todos seres humanos.
As mulheres não são seres humanas. Quando se fala na língua portuguesa não se
está a pensar apenas na língua que falam as portuguesas. É a língua dos
portugueses e doutros povos menos idiotas.
"Portuguesas e
portugueses" não é apenas um erro e um pleonasmo: é uma estupidez, uma
piroseira e uma redundância que fede a um machismo ignorante e
desconfortavelmente satisfeitinho.
Somos todos portugueses e
basta.
Selecção de António Tapadinhas
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