O governo defendeu-se neste caso da Universidade Lusíada.
Não houve qualquer favorecimento, tudo foi feito às claras e segundo as regras, aliás, por via de um decreto-lei que foi promulgado pelo Presidente da República. Além disso, a legislação que permitiu a transformação das cooperativas de ensino em fundações data do último consulado socialista.
Contudo, continuam sem respostas as perguntas incómodas do deputado comunista Lino de Carvalho. Como é que se justifica o interesse da alteração em causa? Traz isso alguma melhoria ao nível e qualidade do ensino ministrado?
A verdade é que há manifestos benefícios fiscais e aligeiramento das responsabilidades legais.
E também é um facto que o primeiro-ministro chefiou um departamento naquele estabelecimento do ensino superior cujo homem forte é o pai do ex-ministro dos estrangeiros.
Se não estamos a advogar em causa própria, parece.
Eloquente é o que todo este alarido deixa a descoberto.
Estas universidades privadas são espécies de coutadas onde se satisfazem clientelas; não é que uma grande parte dos governantes e mais influentes deputados dos grupos parlamentares, na última década, são ali professores?
Não considerando aqui a Católica que, na sua génese, obedeceu a outros motivos e propósitos, se a primeira Universidade privada, a Livre e as suas sucedâneas, foi uma resposta que alguns Professores encontraram para os saneamentos com que se viram confrontados na sequência da avalanche revolucionária, o boom que se verificou nos fins da década de oitenta e princípios da seguinte, teve mais a ver com as possibilidades de negócio que se abriram pela combinação do números clausulos com a progressiva massificação do ensino e, certamente, com a galopante privatização do sector público herdado das nacionalizações ao tempo de Vasco Gonçalves. O interesse nacional é que nunca foi para aqui chamado.
O futuro que se desenha no horizonte lusitano é medonho e eu temo que os amores do meu coração venham a ter que estudar longe daqui e que a partir disso se façam diáspora familiar e só posso esperar que os pais, enquanto viverem, possam dispor dos meios que possibilitem as visitas imprescindíveis.
De tão nauseabunda, a comédia em que este país se transformou nem dá vontade de rir.
Portugal tende a tornar-se no paraíso do crime organizado; já não temos um estado nem governantes capazes de se oporem a isso.
Seremos uma espécie de cruzamento entre o Brasil e a Tailândia, isto se permanecermos na União Europeia. Isolados, estaríamos no domínio de uma combinação entre este último caso e o Perú das ditaduras militares.
Estudem, filhas, estudem que um dia terão que sair daqui para fora.
Hoje foi o dia da ficha de avaliação da Língua Portuguesa.
Em contrapartida, há cento e vinte milhões de crianças no mundo que nunca foram à escola.
E em França está ao rubro a polémica a respeito do uso do véu na escola pública.
É matéria delicada que põe em relevo o beco sem saída a que a tibieza com que o problema foi tratado de início acabou por remeter todos os implicados.
Agora, faça-se o que se fizer, será sempre como aquela história do velho, do rapaz e do burro. Se o estado proíbe será acusado de atacar a Fé. Se o permite, abre a porta para que todos os fundamentalismos entrem na sala de aula.
Atenção que esta é uma daquelas situações em que devemos aprender com a experiência alheia.
E a verdade é que se ninguém deveria pedir que os imigrantes se assimilassem, também não é menos verdade que, tanto de uma parte como da outra, tudo deveria ser feito no respeito pelos costumes do país de acolhimento. Pode parecer que isto é uma imposição xenófoba mas na realidade visa apenas evitar que se formem guetos de condenados aos trabalhos menos qualificados que o tempo e as degradações dos níveis de vida se encarregam de transformar em viveiros de miséria e integrismos vários.
Se as meninas quisessem andar de chador ou véu, tudo bem, mas não na escola pública de um estado laico e isto exactamente da mesma forma que não podem recusar-se a prestar provas em dadas matérias como, por exemplo, o papel dos anti-concepcionais na liberdade das mulheres, ou o planeamento familiar, ou ainda a teoria da evolução.
Além disto, nunca num estado em que há separação entre os poderes temporais e seculares deveria ter sido aceite que os líderes religiosos de uma dada comunidade se apresentassem como seus representantes perante a sociedade envolvente.
Agora há uma bomba relógio que muito sangue fará escorrer quando rebentar.
Neste azul planeta
verdadeiro paraíso,
será o Homem um cometa
devido à falta de siso?
Alhos Vedros
11/12/2003
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